Prólogo

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  O barulho dos disparos fizeram com que eu me abaixasse em busca de proteção, em vão. Senti uma bala rasgar minha pele e provavelmente atingir meu pulmão.

A sensação que eu já tinha experimentado surgiu, mas desta vez era pior. Tentava respirar mas o sangue subia pela minha garganta e tudo o que eu consegui fazer foi cuspi-lo. O gosto de ferro tomava conta da minha boca e o ar estava cada vez mais escasso.

Eu estava me afogando em meu próprio sangue.

O alívio não chegava.

Tossi mais uma vez e o sangue se espalhou pelo chão, ergui minha cabeça procurando alguma ajuda e enxerguei Klaus a poucos metros de mim. Ele me encarava preocupado e quando tentou se aproximar, foi atingido. O projétil atravessou sua cabeça e as esmeraldas que me encaravam com paixão há dois segundos agora estavam vazias.

Seu corpo caiu sem vida no chão, imóvel como uma estátua desprovida de alma. A imagem dos seus olhos sem brilho, que antes transbordavam vida e alegria, agora permaneciam fixos no vazio, congelando a angústia do momento em meus pensamentos.

Enquanto eu lutava para sobreviver, a visão de Klaus inerte ampliava ainda mais o peso da tragédia iminente. Meus sentidos pareciam perder força, e a dor que antes parecia insuportável era agora ofuscada pela dor da perda. A impotência e o desespero me dominavam, enquanto a realidade implacável da morte de Klaus se revelava diante de mim. Tentei chamar seu nome, mas as palavras se afogavam em meio ao sangue que inundava minha boca e minha respiração ofegante.

Tentei gritar, mas o gosto de ferro inundou minha boca, silenciando qualquer som que pudesse escapar dos meus lábios. A agonia física era insuportável, mas a dor emocional era igualmente avassaladora. Eu me importava com Nik mais do que com a minha própria vida, mas agora morreria sem nem mesmo saber quem havia apertado o gatilho contra mim, roubando-me a chance de dizer a ele o quanto o amava.

Eu queria abraçá-lo uma última vez, sentir o calor do seu corpo, olhar em seus olhos e dizer todas as palavras de amor que eu guardava em meu peito.

Eu o amava incondicionalmente, e isso transcenderia a barreira da morte.

Caralho, Audrey!

E então meus olhos se abriram e o oxigênio que eu tanto implorava invadiu meus pulmões.

O coração ainda acelerado, eu me encontrei em um quarto peculiar, com paredes de vidro que revelavam a majestosa vista do mar e um céu alaranjado pelo pôr do sol à minha frente. Um lugar inesperado, mas familiar.

Logo percebi que uma mão segurava meus ombros com força. Os olhos de Niklaus, repletos de preocupação, me encaravam. Seus cabelos bagunçados e seu corpo vestido apenas com uma bermuda de malha davam a impressão de que eu havia o tirado de algum sonho.

— Você está bem?

Encarei seu rosto perfeito, sem nenhuma cicatriz, e engoli em seco antes de responder.

— Sim. Foi só um pesadelo — Disse, tentando dissipar a sensação angustiante que ainda me acompanhava.

Mas Niklaus sabia que eu mentia. Em seus olhos, sempre tão atentos, ele captava a verdade.

— Eles estão recorrentes, Drey. É hora de procurarmos um médico, você não estava respirando e nem acordava.

— Eu estou bem, Nik.— Tentei assegurar, mas sabia que ele tinha razão. Os pesadelos vinham me assombrando com mais frequência e intensidade.

Embora eu preferisse ficar ali, abraçada a ele, eu sabia que precisava mostrar que estava bem. Tentei me afastar, mas Niklaus me impediu, trazendo-me para mais perto de seu corpo. Ele beijou o topo da minha cabeça, gesto que sempre me acalmava.

Ficamos em silêncio por um momento, enquanto ele acariciava meus cabelos, e eu me sentia protegida por seus braços. Seu perfume invadiu minhas narinas, e uma sensação de paz se espalhou por mim. Niklaus era a minha calmaria, a minha âncora em meio às tempestades.

Ele afastou nossos rostos e me encarou profundamente, suas íris verdes brilhando enquanto contornava delicadamente meu nariz e minha boca antes de selar nossos lábios. O beijo era suave, cheio de carinho e amor, como se ele tentasse transmitir toda a força do seu coração para acalmar as tormentas que me assolavam.

Eu me perdi naquele momento, entregando-me completamente ao amor que compartilhávamos. Ali, com o mar como testemunha e o céu alaranjado refletindo nossos sentimentos, eu sabia que estava em casa, onde quer que estivéssemos. Pois, com Niklaus ao meu lado, acreditava que tudo ficaria bem e que, juntos, enfrentaríamos qualquer desafio que a vida nos trouxesse.

— Não viemos para Malibu para ficar na cama. — falei, e ele resmungou, me puxando de volta para a cama, fazendo com que eu caísse em cima dele.

— Só mais cinco minutos. Acordamos cedo hoje.

— O sol já se pôs. — falei rindo, e ele me abraçou forte. — Não me faça usar a força, Niklaus.

— Você acha que é mais forte do que eu? — ele questionou, o tom desafiador, e eu gargalhei.

— Esqueceu da adaga na sua costela há um ano atrás?

Ele riu e, com um impulso, me virou de bruços. Seus lábios pararam em meu pescoço, e senti um arrepio percorrer pela minha espinha quando eles chegaram em minha orelha.

— Não tem nenhuma adaga perto de você agora, Audrey.

Sua voz grave pareceu ecoar por todo o meu corpo, e eu fechei meus olhos para apreciar aquela sensação. Senti seus braços relaxarem, achando que eu não faria nada, e então o empurrei, fazendo-o voltar para a posição inicial, com a diferença de que agora eu estava em seu colo.

Niklaus fechou a cara por alguns segundos, mas depois sorriu e colocou as mãos em minha cintura.

— Nunca baixe a guarda em uma batalha.

Ele continuou com o sorriso no rosto e deu de ombros levemente, enquanto suas mãos subiam pela blusa que eu estava vestindo, dedilhando minhas costas.

— Eu amo você, Drey.

O semblante de Klaus transbordava tanta felicidade que meus olhos quase se encheram de lágrimas. Apesar de todo o caos que havíamos passado, a cada dia que passava, eu tinha mais certeza de que amava aquele homem, e, ao contrário do que sempre pensei, o sentimento parecia só aumentar.

Eu vinha tendo problemas com o sono, pois o passado me atormentava; entretanto, quando estava acordada, tinha ele ao meu lado, e agora eu sabia que o amor não era uma fraqueza.

O amor por Niklaus fazia com que eu sentisse algo que nunca havia sentido antes.

Eu me sentia viva.

A Herdeira: Coroa EscarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora