Que ironia, não? Acabou ficando decidido que, afinal, Diana seria o par romântico de Mal na peça... elas teriam que se beijar! E ficar agarradas na cena em que o casal fica junto... e isso na frente de sabe-se lá quantas pessoas!
Claro que Mal estava um pouco ansiosa, mas não podia se preocupar com isso agora. Era semana de provas: sem desculpa para ela e Lars ficarem até o horário da tarde na escola. Falando nele, as coisas não iam muito bem...
Digo, ele não estava tão mal! Mas, de vez em quando, o garoto tinha algumas crises de autoestima que lhe causavam problemas... que podiam até ser graves. Não era fácil lutar diariamente contra o menino do espelho, que ria com desdém, repetindo: "olhe para você! você é feio, inútil e está gordo demais... ridículo!".
Isso acabaria com qualquer um..! E mesmo todo o amor com que Mal, Diana e Jack tratavam ele, não era o bastante para fazê-lo se sentir bem consigo mesmo. Afinal, aquilo precisava partir dele e não de fora...
Mas isso o prejudicava fisicamente também. Lars chegava a passar horas a fio sem comer, geralmente de propósito. Dizia que não sentia prazer em se alimentar, não como antes: o garoto do espelho estava dominando ele... não podia deixar que isso acontecesse!
Lars não sabia, mas sua participação na peça seria uma boa contra esse problema. A sensação de ter várias pessoas olhando parecia aterrorizante: mas, em contrapartida, a sensação de ser aplaudido e de que gostaram do que ele fizera... seria incrível!
De todo o grupo, esperavam que ele pudesse enxergar sua beleza e seu valor verdadeiros o quanto antes... todos torciam por ele! E o amavam muito... só precisava, agora, ele mesmo se amar. E vencer o menino do espelho!
( 🍄 )
Na contramão, Mal sentia problemas de autoestima parecidos, mas completamente diferentes. Sua insegurança era por se sentir magra demais... mas estava aprendendo a vencer sua guerra contra a garota do espelho.
Deixou os estímulos de fora — que geralmente vieram de Dimitry — entrarem em sua cabeça: parou de escutar a imagem que insistia em dizer que ela era uma tábua, panqueca, lisa, magra demais, nada atraente, nada gostosa; e passou a se achar mais. E agora se sentia bonita quase toda vez que se olhava no espelho!
Mas esse não era o problema principal de Mal. Era muito pior! Era insegurança generalizada! Tinha medo de não ser boa o bastante em vários sentidos, medo de decepcionar quem confiava nela, medo de não ser amada. Medo! Ela abraçava-se, naquela noite fria, usando o moletom que Diana havia lhe dado. Tinha o cheirinho dela...
E sua maior insegurança era sobre o mês de Julho, que se aproximava. O que tinha? Nada menos que seu aniversário de dezessete! Mas não era algo do tipo: "nossa, meu aniversário tá chegando! tenho que planejar a festa!". Mal nunca se importou com festa.
Era medo. Talvez trauma. Seus únicos aniversários razoavelmente memoráveis — pra ir direto ao ponto: os que não passaram em branco — foram o de seis, oito, dez e doze anos. Dali pra frente, foi só ladeira abaixo!
O de treze foi um fiasco; o de catorze, então, nem sua família havia lembrado! E o principal, o aniversário de quinze... ah, quinze anos, a idade mais brilhante na vida de uma garota! Quinze, a idade em que a adolescência brilha, o aniversário mais importante de todos! E como foi o maravilhoso aniversário de Kemal?
Foi magnífico: ela passou a tarde inteira chorando! Chorando, no escuro, encolhida no pé da parede, recebendo pela milésima vez a rejeição de alguém que ela gostava muito na época. Mas o segundo dia depois disso compensou: foi a primeira vez em que ela viu Dimitry...
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Isso não estava no roteiro!
Ficção GeralUma patricinha gentil, uma introvertida inteligente, um tímido sorridente e uma ex-garota-prodígio. O que esses quatro têm em comum, fora a amizade de infância e os problemas com auto estima? O amor pela arte. Foi tudo ideia da cabeça de Diana! Ela...