King Of My Heart

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Estou perfeitamente bem, eu vivo por conta própria
Eu já me decidi, estou melhor estando sozinha
Nós nos conhecemos algumas semanas atrás
Agora você está experimentando me chamar de amor como experimenta roupas
— King Of My Heart (Taylor Swift)

Flávia Santana

 

Assisto em silêncio enquanto Murilo e Guilherme conversam e avaliam alguns papéis em cima da mesa, Joana e Soares sentados diante deles, enquanto eu e Ingrid estamos sentadas juntas nas poltronas do outro lado da sala.

Minha cabeça parece estar oca e eu belisco minha perna sob as meias vez por outra para ter certeza de que esse não é um sonho bizarro.

A vida tem um senso de humor muito deturpado mesmo.

Recordo da última meia hora mais maluca da minha vida e olho ao redor do escritório para fingir normalidade.

~ Flashback on ~

— Merda! — Ouvi vagamente o barulho do copo quando ele encontrou o chão, mas minha cabeça parecia estar debaixo d'água enquanto assimilava a presença inconfundível de Guilherme diante de mim, me olhando como se tivesse finalmente me encurralado. O que provavelmente era o que estava acontecendo.

— Ei! O qu-... — Ingrid se interrompeu ao seguir meu olhar. — Eita. — é o que disse, simplesmente. Eu podia estar ficando maluca, mas havia uma risada em algum lugar no seu tom. Ela estalou os dedos à frente do meu rosto, quebrando meu contato visual com o doutor e atraindo meus olhos para os seus. — Reage, garota! — disse e dessa vez eu tive certeza de que estava se divertindo.

Me abaixei mais que depressa para juntar o copo do chão, mas não fui rápida o suficiente para sumir dali porque, assim que me levantei outra vez, Guilherme, Joana e Marcelo estavam alcançando o batente da recepção.

Ingrid, como a traidora que é, não deu um único passo para longe. Segurei em seu braço para manter meu equilíbrio quando a médica dos olhos castanhos intensos se pronunciou.

— Flávia Terrare! — O sorriso dela deixou evidente que minha irmã não era a única a estar achando toda essa situação muito divertida. — E você deve ser a Ingrid... — Ela acenou com a cabeça, ao que Ingrid devolveu com um sorriso educado.

— Meninas! — Marcelo nos cumprimentou, tranquilo. Provavelmente não faz ideia da piada interna. Ainda. — O que estão fazendo aqui?

Não consegui achar minha voz.
Nem consegui desviar meus olhos do homem em silêncio atrás deles, com um sorriso misterioso nos lábios.

Ingrid limpou a garganta.

— A banda fechou um acordo com a clínica para as atividades recreativas da ala infantil. — Ela explicou. — Murilo já deve estar lá dentro, aliás. Viemos para alinhar os últimos detalhes do projeto com a direção.

— Ah sim, claro. — Ele juntou as mãos e sorriu. — Que sorte encontrarem os dois responsáveis pela clínica logo pela manhã, não é? — Apontou entre Joana e Guilherme.

Odeio que o sorriso do doutor só ficou mais torto diante dessa fala.

— Verdade. — ele murmurou. — Quanta sorte! — piscou os olhos devagar, como que fazendo uma resolução. Ele deslizou o olhar de forma breve sobre mim antes de me ignorar completamente e se adiantar a frente do grupo em duas passadas elegantes. — Sigam-me, odiaria deixar vocês esperando.

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