Polaroid

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Deixa eu te contar como isso aconteceu

Eu não estava procurando por alguém aquela noite

Não, eu nunca fui de acreditar

Mas você pode se apaixonar à primeira vista

– Polaroid (Jonas Blue)

Flávia Santana

Todo mundo em algum momento já passou por uma maré de azar, certo?

Há aquele momento em que você faz uma escolha ou um movimento e é exatamente no pior lugar, hora ou situação. Talvez você até ria disso alguns anos depois.

Às vezes, acontece algo tão bizarro que só resta a alternativa de se perguntar em que momento você passou embaixo de uma escada embaixo de outra escada ou quebrou um espelho contra outro espelho, porque a única explicação plausível é um azar dos mais perversos.

Agora é uma dessas vezes.

E essa maré não parece ter uma previsão de acabar nem tão cedo.

O fato de que meu cérebro ainda não parou de correr em círculos como se estivesse em uma casa pegando fogo, indica que meus nervos estão bem perto de entrar em parafuso, exatamente como no momento em que essa confusão começou, vários dias atrás.

~Flashback~On~

(1 semana e 3 dias atrás...)

– Por favor dê um soco na minha cara! – exclamei, colocando as duas mãos nas têmporas e contendo uma súbita vontade de vomitar.

– Puta que pariu, Flávia, você fez uma única viagem sem mim e pediu um beijo fake para Guilherme Monteiro Bragança! – a voz de Ingrid estava estridente mesmo em seu sussurro e eu achei de verdade que poderia desmaiar. – Meu celular caiu na privada, eu fiquei fora de radar por 13 horas e você dormiu com o dono da segunda maior clínica especializada em cardiologia do nosso país, a maior do nosso estado e mais nova dona da ala infantil em que você vai comandar as atividades recreativas! – ela parecia a ponto de um derrame. – Melhor ainda, você fugiu dele na manhã seguinte e, depois que ele te procurou e abriu o coração, você simplesmente enfiou um espeto de churrasco no maldito coração e assou lentamente ao fogo das suas inseguranças! – eu realmente queria morrer. Sério, Deus. – Mentira, essa não é a melhor parte... – Ingrid deu uma risada histérica. – Depois de chutar o pobre homem, você deu um golpe de misericórdia e aceitou o beijo e a foto que ele insistiu em te dar. Você enviou essa foto para a nossa mãe. Você quase matou a mulher do coração. Foram só treze horas, Pink! – ela me olhou incrédula. – Como você podia não saber quem ele era?

Essa seria uma boa hora para o chão abrir sob meus pés, como numa animação divertida.

Seria cômico, se não fosse trágico.

E eu tive mesmo uma crise de riso quando essa bomba explodiu. Porque não podia ser verdade.

Só que é.

Azar.

Quando desci do avião com a banda e fui para o portão de desembarque, minha única preocupação era em como fazer para enterrar os milhares de emoções inconvenientes que havia arranjado para mim mesma do outro lado do oceano.

Mas, quando uma Ingrid muito nervosa me arrastou até o estacionamento sem dizer uma única palavra, nem mesmo para Murilo, eu me perguntei o que diabos poderia ter acontecido de pior.

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