Prólogo

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Lá estava eu de novo essa noite

Forçando risadas, fingindo sorrisos

O mesmo velho e solitário lugar

Paredes de insinceridade

Olhares perdidos e vagos

Sumiram quando vi seu rosto

— Enchanted (Taylor Swift)


Flávia Santana

Tudo tinha começado com um surto momentâneo de coragem e um desafio bêbado, 10 meses atrás. E agora esse surto me trouxera até esta ligação recheada de julgamento por parte da pessoa mais tenaz do Universo. Quem diria.

— Você precisa parar de fazer isso. – reviro os olhos e rio pelo nariz, terminando meu frappuccino de um único gole enquanto observo as luzes noturnas tornando a visão da Torre Eiffel ainda mais impressionante e escuto a repreensão de Ingrid no telefone.

— Mas foi você quem me deu essa ideia, em primeiro lugar, esqueceu? – retruco, esticando a língua para limpar os cantos dos lábios de quaisquer resquícios do líquido e então sorrindo ao escutar o bufo impaciente dela.

— Era pra ser uma vez! Só uma vez. – ela se justifica. – Só para que nossa mãe te desse algumas semanas de trégua, Pink! – lembra e eu caminho devagar, me aproximando de um lixeiro para jogar o copo vazio.

— Acontece... – digo, sorrindo infantilmente quando acerto em cheio a boca do cesto e trocando o celular de mão. – Que algumas semanas de trégua nunca são o suficiente com mamãe. – concluo, suspirando de forma enfezada.

— Eu sei que ela pega pesado no lance de arranjar você com um dos filhos das amigas dela... – minha irmã mais nova e melhor amiga recomeça, parecendo decidida pela milésima vez a ser aquela que põe juízo na minha cabeça ao invés do contrário.

— Ela não pega pesado. – corto depressa. – Ela transforma a minha vida e até a vida deles num inferno. – corrijo e quase posso ver os olhos castanhos claros de Ingrid mirando o teto em busca de paciência.

— Okay, ela é um verdadeiro pesadelo casamenteiro, admito. – ela cede e eu rio sozinha, sondando as redondezas com um olhar avaliativo. Procurando. – Mas... Três! – a voz dela fica estridente.

— Você está contando? – provoco e a linha fica muda por alguns instantes enquanto tenho certeza que ela conta pelo menos até 10.

— É claro que estou! – afasto o celular do ouvido quando o grito irritado atravessa meus tímpanos. É realmente divertido estar do lado oposto da situação. – É para mim que ela envia cada uma das suas fotos beijando apaixonadamente o seu novo amor a cada viagem que você faz! – acusa e eu prendo o riso. – Você está achando isso engraçado? – ela trina.

— Quer saber? Estou sim. – devolvo com uma leve risada. – Você está fazendo disso algo maior do que é. Estou apenas me divertindo um pouco e, ao mesmo tempo, mantendo minha mãe e seus encontros arranjados para mim a distância um pouco mais de tempo. Dois coelhos. Uma cajadada. – estalo a língua.

— Flávia. – aperto os lábios em frustração com o tom carregado dela. – Foi divertido na primeira e até na segunda vez, admito. E por mim você pode catar quantos estranhos quiser nessas viagens e fazer bom proveito da companhia deles. Você é jovem, solteira, livre e muito bonita. – diz, em tom paciente.

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