Ur So Beautiful

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Andando juntos mas sem dizer uma palavra

Vamos sentar e pensar no que poderíamos ser

Se você quisesse dizer alguma coisa

Você diria, me prometa

Andando levemente para minha surpresa

Caindo sobre o medo de olhar nos seus olhos

Mas agora eu estou me questionando

Eu te peguei olhando pra mim

— Ur So Beautiful (Grace VanderWaal)

Guilherme

Olho para baixo e encaro os dedos pequenos agarrados aos meus, me assegurando de que tudo isso, toda essa situação, é real. Os cabelos cor de chocolate da mulher ao meu lado estão bagunçados pelo vento agora, e eu me pergunto se ela tem consciência da bagunça que está fazendo na minha cabeça também.

Seguro uma risada e olho para a frente, as luzes da rua preenchendo o momento de uma intensidade frágil que eu estou fazendo o possível para não quebrar.

Pergunto-me o que Marcelo – meu novo amigo tratante, que me deu um bolo para correr outra vez atrás dos calcanhares de Joana, minha sócia e melhor amiga – diria se me visse agora e eu lhe contasse sobre quem Thaís é e o que estamos fazendo juntos.

Ele provavelmente teria dor de barriga de tanto rir.

Porque eu não sou do tipo dado a loucuras, desatinos ou seja lá o que for na lista de Carpe Diem que ele segue como modo de vida. Marcelo é o impulsivo. O que se joga de cabeça em coisas que não vem com um roteiro junto.

Não eu.

Não até agora, pelo visto.

Eu estou levando uma estranha para jantar. Uma bela estranha. E não foi uma conquista de bar, um flerte calculado ou um meio para um fim. Ela e eu não tomamos uns drinques juntos e daí decidimos terminar a conversa no meu quarto. Ela não é uma mulher que escolhi para uma noite de diversão.

Ela me escolheu.

E não para uma noite de diversão.

Ela olhou para mim numa praça cheia de pessoas, sorriu daquele jeito que eu ainda não sou capaz de explicar e decidiu por algum motivo que era uma boa ideia me pedir para tirar uma foto com ela. Beijando-a.

Balanço minha cabeça e sorrio. Ela é louca. Totalmente. E eu acho que estou caído por sua loucura.

Quando peguei o vôo de última hora para Paris, atendendo a um pedido de um velho amigo para representar o Brasil num seminário sobre cirurgias cardíacas usando tecnologia de ponta, eu estava preparado para uma longa jornada de apertos de mão, slides e câmeras da imprensa para todo lado. Eu estava acostumado a isso. Nem sequer posso me recordar da última vez que estive em uma viagem que não fosse relacionada a trabalho e obrigações, aliás.

E, quando minha atenção se prendeu aleatoriamente e por alguns segundos na bela tagarela de peruca rosa acalmando seu colega antes que ele subisse no palco, eu jamais poderia calcular que tipo de reencontro teríamos.

É engraçado como nosso cérebro funciona. Guardando informações que parecem insignificantes e que, misteriosamente, servem pra muita coisa depois. Era como se meu subconsciente soubesse que aquela não era qualquer garota e tivesse decidido sozinho armazenar seu rosto na minha cabeça, dentre as centenas de rostos que vi hoje.

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