Capítulo 1

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Narração Addison

Pode deixar que eu lavo! - digo, assim que eu vejo minha sogra tirando à mesa do jantar. Foi um jantar em família, Alex e Josephine tiveram o segundo filho e estamos comemorando isso.

Amor, você quer ajuda? - questiona Meredith, eu sei que as habilidades dela para serviços domésticos são nulas. As minhas também, mas sempre tento impressionar minha sogra. Ellis parece não gostar muito de mim, ainda mais depois de tudo que aconteceu.


Não precisa - respondo e sigo para a cozinha. Eu realmente precisava desse tempo sozinha, só eu e os pratos. Não quero ser egoísta ao ponto de ter inveja de Josephine,as ela nem queria engravidar novamente. Bailey passa tempo comigo e com a Meredith, que com os pais.
A gente sempre pega nosso sobrinho duas ou três vezes na semana, para passear. Quando Ellis morreu, ele fez com que a gente voltasse a sobreviver. Ele tem a mesma idade que ela teria.

Addison  — ele diz e segura minha cintura com força

— sai de perto de mim! — esbravejo, assim que reconheço a voz de Mark — Vá ficar com resto do pessoal lá fora

— minha presença te incomoda tanto assim?
Das últimas vezes não foi assim...

Eu sei. Sou uma péssima pessoa, do pior tipo. Transei com meu cunhado, mas de uma vez. É que... Meredith e eu não estamos há muito tempo, é fácil fingir perto dos outros. É fácil amá-la quando tem gente por perto, mas quando estamos apenas nós duas em casa... a única coisa que me lembro é de tudo que não podemos ter.
Tudo que não pudemos ser. Com Mark foi uma fraqueza, eu estava em uma semana muito vulnerável e ele estava lá.
Ele me fodeu, me desejou, me sentir atraente.
Fará quatro anos que a Ellis morreu, e faz mais de 4 anos que não consigo fazer amor com a minha esposa. Tentamos algumas vezes, eu chorei em todas. Ela foi carinhosa, compreensiva e delicada. Eu não sei o que fiz para merecê-la, mas sei que ela merece do que eu posso dar. Ela merece alguém melhor que eu, e eu sei disso.

Some de perto de mim! — repito furiosa, e sei se estou brava comigo ou com ele. Mas sei que me arrependo amargamente de tudo que fiz, eu não tinha o direito de fazer isso com a Meredith. Não com ela. Que mulher aceitaria viver mais de 4 anos sem sexo? E eu investiguei, segui, cheguei ao ponto de colocar um gravador no carro dela. Eu queria encontrar uma prova que ela tinha uma amante, eu queria que ela tivesse uma! Talvez assim, me sentisse menos suja. Mas, merda, essa mulher me ama tanto, que passa a metade do dia falando sobre mim!

Eu sou a pior esposa do mundo.

Só vim dizer que vou embora — diz Mark — vim me despedir.

— Então some!

Quando acabo de lavar a louça, deixo tudo no escorredor, sei que amanhã terá milhares de empregados limpando tudo mesmo.

Ao sair da cozinha já tenho visão deles na sacada, Mer estava com Lana no colo. Se fosse em outras circunstâncias, aquilo deixaria mais apaixonada ainda. Mas no momento, me causa dor.

Fico parada observando e ninguém nota que já estou perto.

Você nasceu pra isso! Olha como ela já está quase dormindo — diz Josephine.

Ela é uma gracinha! — responde Meredith.

— Minha filha, você e a Addison... desistiram? Já faz quatro anos que a Ellis morreu, de lá pra cá...

À senhora sabe o motivo — ela a interromper.

— eu sei, só fico triste! Queria tanto que você tivesse essa felicidade. De lá pra cá, a Addison não engravidou mesmo?

Não, mãe — e é melhor assim. Não queremos passar pelo que aconteceu com a Ellis novamente.

Aquilo me parte o coração. Ela sabe que meu útero é hostil, ela sabe de tudo! Por que insiste em tocar nesse assunto toda vez nos encontramos?

Tratamentos de fertilidade, fertilização in vitro — sugere Ellis. Lágrimas brotam em meu rosto, por que ela está fazendo isso? — minha filha, você pode ser mãe!

— Não é assim que funciona. A senhora sabe que nos procuramos o especialista, fizemos o mapeamento genético... Nós não podemos engravidar e manter um bebê saudável.

Até porque para engravidar, vocês precisariam se relacionar né?! — Alex faz piada. Me questiono de como ele sabe disso? Meredith contou sobre nossa vida sexual para Alex, ou no caso, sobre a  nossa ausência sexual?

Cala a boca, Alex!  — repreende minha esposa — eu lamento muito por não ter dado certo, mas Addison e eu já fomos mães. Tivemos a Hope, a Ellis e mais dois filhos que infelizmente não conhecemos.

Já conversaram sobre adotar? — questiona Ellis.

— Descartamos à possibilidade. Eu e ela queríamos um bebê que fosse metade de nós duas. Nós tivemos esse bebê. Agora chega desse assunto, né?

Eu sinto muito — digo em sussurro alto, todos viram para trás e me veem. Tento segurar as lágrimas, e os soluços. Até mesmo o jantar em meu estômago, que insistia  em voltar. Minhas mãos estavam trêmulas, está acontecendo de novo. Meredith não precisa passar por nada disso.
Eu não estou apenas impedindo à felicidade dela há mais de 10 anos, como estou também impedindo Ellis ter um neto. Impedindo de Bailey e Lana terem primos. — eu vou embora.

Rapidamente eu vejo que Meredith entrega nossa sobrinha no colo de Alex e vem correndo atrás de mim. Descemos no elevador, em completo silêncio, durante todo o percurso de carro foi a mesma coisa.

Quando entramos em casa, fui para cozinha e peguei um copo de água.

— Meredith, precisamos conversar!

É sobre o que você ouviu? Eu sinto muito por eles, você sabe como eles são — ela diz.

Você pode ser mãe! — eu afirmo. A problemática sou eu, se ela arranjar uma mulher que seja homozigoto dominante ( cerca de 95% da população) o filho delas não nasceria com a doença autoimune que matou nossa filha. Eu sou  heterozigoto e ela também,  Ellis nasceu homozigoto recessivo e morreu 7 meses depois. Foram médicos e tratamentos caríssimos, quase que decretamos falência. — você sabe disso não sabe? Você sabe que pode ter uma esposa de verdade, não sabe?

— Quando você se torna mãe, eu me torno mãe. Fora isso eu não quero. Prefiro viver uma vida sem ser cercada de crianças, à viver sem você.
Você é mãe, eu também sou mãe! A Ellis sempre será nossa filha! Eu queria que as pessoas parassem de anular a existência dela.

Estive pensando... — dizia, mas não tive oportunidade de concluir minha frase. Eu ia mencionar divórcio agora.

Amo você — Meredith diz vindo e me jogando contra a parede, como não fazia há muitos anos  —  amo cada detalhe seu. Não vou viver sem você, nunca.

Retribuo os beijos dela na mesma intensidade, eu sabia que era uma despedida. Ela vai viver sem mim, e ela vai ser feliz. Vai ser melhor assim.

Nos amamos a madrugada inteira, perdi as contas de quantas vezes chegamos ao ápice e repetimos tudo de novo. Seria a última vez. E saber disso, lacerava meu peito.

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