Capítulo 4

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O som do seu nome saindo da boca de Mikasa ficou em sua cabeça por dias a fio.

Ela o sussurrou, baixo e urgente, como se quisesse acordá-lo, precisando que ele atendesse ao seu chamado e despertasse sob seu comando.

Era um pesadelo, doloroso e assustador, e sabia disso pela resposta corporal dela: estava rígida, o cenho franzido e o maxilar trincado quase impedindo o fluxo das palavras. Conhecia aquelas reações, lidava com elas desde que começaram a atuar juntos, as observava com atenção e catalogava no fundo de sua mente para ser capaz de conversar com a garota mesmo sem trocar uma palavra, saber se estava com medo, confiante, ou prestes a colocar tudo a perder.

Queria ter feito várias coisas em relação ao que presenciou. Podia ter acordado Mikasa e a tranquilizado, ou perguntado sobre o teor do sonho. Tudo o que fez, porém, foi se esgueirar para fora de seu quarto quando a aurora ameaçou tornar sua vigília pública.

Desde então, a dinâmica entre eles permaneceu a mesma de sempre: se evitavam como polos opostos de um imã, embora buscassem o outro com olhares furtivos e intrigados, em uma estranha sincronia.

Só que esse arranjo se tornava gradualmente mais difícil à medida que observava as manchas roxas aumentando sob os olhos de Mikasa, o aspecto cansado e até mesmo, o corpo mais magro acentuando ângulos e curvas nas quais nunca tinha se demorado, mas estavam cada vez mais familiares aos seus olhos.

Assistir ao lento definhamento era perturbador, e a sensação de impotência apavorante. Pensou em conversar com Armin para que ele tomasse conta da amiga, mas ele estava muito absorvido pelos planos com a Comandante. Além disso, desconfiava que a garota mentia até mesmo para o amigo de infância para evitar preocupações. Era uma maldita superprotetora, assim como ele, e pessoas que protegem não podem ser frágeis.

A alternativa seria procurar Sasha, Connie ou Jean, mas ao passo que os primeiros não pareciam o tipo de pessoa com quem ela se abriria sobre esse tipo de coisa, existia algo com relação a Jean que o deixava desconfortável sobre a situação.

Precisava resolver a situação porque mesmo inconscientemente a garota o estava arrastando para sua própria espiral de loucura.

Fechou a porta da sala da Comandante depois de deixar relatórios e mais uma pilha de papeis nos quais via pouco sentido, espécies de promissórias que garantiam alguns momentos a mais de vida como acordos militares com Hizuru, troca de tecnologias que ele sequer compreendia e outras coisas que talvez os ajudariam quando o mundo caísse sobre eles. Talvez.

Virou pelo corredor e viu a lua pela janela; mais uma vez sequer percebeu o avançado da hora, tentando mergulhar em qualquer trabalho que criasse uma rotina, não perturbasse seus pensamentos nem o delicado equilíbrio interno que lutava para manter.

Em qualquer outro dia treinaria na clareira, porém a única coisa que ansiava era o escuro total de seu quarto, mesmo que fosse para ficar imóvel na cama cego e surdo à qualquer razão externa, em sua própria realidade fantástica em que as coisas fossem menos infelizes.

Seus planos foram abruptamente interrompidos quando viu Mikasa passando, um vulto quase incorpóreo desaparecendo pelas paredes frias de pedra como se transitasse por uma dimensão invisível.

Quando deu por si, já a seguia.

– Mikasa!

A garota não atendeu; ao invés disso acelerou o passo e logo corria abertamente para fora da fortificação, alheia aos chamados e até mesmo às ordens diretas de seu superior.

Levi não viu outra opção além de sair em seu encalço, demorando algum tempo até alcançá-la. Mas quando agarrou seus ombros e a virou abruptamente para si, o que viu o fez congelar: sua expressão estava vazia e pálida, os olhos arregalados fitavam algo muito além dele ou de qualquer coisa nesse mundo e a boca abriu e fechou, arrependida de quase deixar algo escapar. Instintivamente, cravou os dedos nela para evitar que fugisse.

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