Capítulo I - S/N

506 42 3
                                    

Nova Iorque
06:00 da manhã

POV S/N

Pela primeira vez em muitos anos, acordo com o som estridente do meu despertador. Há anos que não dormia a noite toda. Sempre acabava por acordar com os gritos que ouvia no sonho que, todas as noites se repete.

Eram seis da manhã. Deveria preparar-me o quanto antes para ir trabalhar. Isso era uma das poucas coisas que me mantinha sã, depois de tudo o que aconteceu.

Já tinha fugido da Sala Vermelha há alguns anos. Não conseguia mais lá continuar depois de tudo o que tinha acontecido.

Era conhecida pelo mundo como a viúva que vivia nas sombras. Era, sem dúvida, a melhor viúva negra que o mundo já tinha visto. No entanto, conseguia manter a minha identidade escondida, o mundo conhecia essa viúva mas não a S/N Dranova.

Para meu desagrado, a minha vida toda, até há alguns anos atrás, se resumia à Sala Vermelha. Curiosamente, nasci lá.
Sou produto de uma experiência que começou e acabou comigo. O que quero dizer ? Dreykov acreditava que uma viúva negra, que nascesse de outra viúva poderia começar uma geração de novas e poderosas lutadoras. Como antes nada visto. Assim, minha mãe foi obrigada a ser minha mãe. De alguma forma que não sei explicar, implantaram um óvulo já fertilizado nela e, acabei por nascer na Sala Vermelha.

Nunca a cheguei a conhecer. Semanas depois de ter nascido, ela acabou por falecer devido ao descuidado que os médios tiveram com ela. Eles só se importavam que nada me acontecesse. Ela, depois que nasci, tornou-se descartável.

Pouca coisa me lembro acerca da minha infância. Não sei quem me criou, era muito nova para me lembrar. As minhas primeiras recordações são pequenas memórias  a aprender combate.

Desde pequena que revelei o quão boa era em luta. Sempre habilidosa, ágil, forte e astuta. E, a acrescentar a tudo isso, era a frieza em pessoa. Nunca ninguém me tinha mostrado emoções. Não sabia o que eram sentimentos. E como, nunca tinha sido treinada com as outras viúvas, nunca tinha tido contacto com ninguém para além de, três ou quatro adultos que tinham sempre a mesma expressão de neutralidade na cara.

Fui sempre tratada diferente das restantes. Apenas tinha contacto com elas em breves momentos de treino de combate. Quando acabavam, era logo levada para uma pequena cela afastada de tudo a que chamava quarto. Apesar de ser tratada de forma diferente, não significa que fosse de forma melhor que as outras.

Desde muito cedo, talvez desde que tinha 13 ou 14 anos, fui obrigada a participar em missões que Dreykov me mandava. Era sempre  acompanhada por alguém mais velho que eu, no mínimo, uns 10 anos. No entanto, essas missões davam-me alguma liberdade. Acabava sempre por conseguir, nem que fosse só por algumas horas, fugir da vigilância dos mais velhos, e explorar por mim própria a realidade que existia para além daquela que conhecia. Para ser sincera, matei tanta gente que, a partir do momento que cheguei aos 280 parei de contar. Mas desde o momento que escapei, nunca mais acabei com nenhuma vida. Tinha me prometido isso. E principalmente, tinha LHE prometido isso.

No entanto, quando tinha 16 anos a minha vida mudou totalmente. Finamente soube o que era amar e ser amada.

Com todas estas memórias a voltar, a minha cabeça estava a mil. E quando dei conta, já se tinham passado trinta minutos desde que o meu despertador tinha tocado.

Levanto-me com preguiça e vou até à casa de banho do meu pequeno "quarto" para tomar um duche.

Neste momento, vivia num pequeno studio que tinha alugado com o pouco dinheiro que tinha. Ele era bem pequenino: uma cozinha minúscula, uma mesa pequenina para as refeições com uma cadeira velha e manchada, um sofá para duas pessoas e uma televisão com décadas, a minha cama de solteiro e uma cómoda. Aquele apartamento, com cinco pessoas lá dentro já estava a abarrotar.

Tinha começado a trabalhar recentemente para o bilionário Tony Stark. Não fazia nada demais, apenas o ajudava a organizar a sua agenda e eventos relacionados com a sua empresa.

Esta manhã ele tinha-me pedido para o encontrar mais cedo que o normal. Não me disse a razão. Mas para ser sincera, os seus pedidos nunca eram nada demais.

Entro no chuveiro e deixo a água fria correr pelo meu corpo. Todas as manhãs fazia isso. Talvez para me relembrar que continuava ali, viva. Sempre que fechava os olhos a sua imagem invadia a minha cabeça. A única pessoa que tinha, e continuo a amar. E essa imagem, todas as vezes que aparecia, acabava com mais um pouco de mim. Talvez tivesse mesmo necessidade do choque da água fria com o meu corpo para me fazer acordar, pelo pouco que fosse.

Saio do chuveiro e vou em direção à cómoda. Vestia sempre o mesmo estilo de roupa para o trabalho. Hoje vestia umas calças pretas simples, uma blusa lisa da mesma cor e um blazer a combinar. Gostava sempre de juntar uns brincos dourados. Mas a única coisa que não podia faltar era o anel que usava sempre e para todo o lado. Um anel dourado com pequenas flores de cinco pétalas a toda a volta, adornado com pequenas pedras brilhantes que as separavam. Este anel, era a única coisa que tinha, que me fazia estar mais próxima dela. Um dia aquele anel tinha sido dela, eu própria lhe tinha oferecido. E depois de tudo que aconteceu, aquilo era a única coisa que dela restava.

Acabo por tomar um pequeno almoço bem simples. Apenas uns cereais com leite. Pego nas chaves do carro que estão sempre no mesmo sítio e preparo-me para mais um dia no trabalho. 

Quando entro no carro, diminuo o volume do rádio. Preferia conduzir em silêncio, só eu e os meus pensamentos. Acabo sempre por pensar e relembrar os momentos com Yelena, a única pessoa que amava e que um dia me tinha amado. Ouço as risadas que demos, as promessas que fizemos. Vejo o seu sorriso e os seus cabelos loiros que me hipnotizavam quando o vento os fazia esvoaçar. Acabo por involuntariamente sorrir ao lembrar-me de todos esses momentos. Mas só de pensar que a tiraram de mim... o mundo já não mais fazia sentido.

Perdida nos meus pensamentos, acabo por nem dar conta que já tinha chegado ao trabalho. Estaciono o carro e antes de sair, faço o que quase todos os dias fazia. Respiro fundo e coloco a minha cabeça pousada na parte superior do volante com as mãos dos dois lados do mesmo. Nesta posição, as lágrimas acabam sempre por escorrer a minha cara. Na minha cabeça digo o que todos os dias digo:

"Amo-te irremediavelmente Yelena. Só queria que estivesses aqui comigo."

E, mais uma vez, alheia ao mundo à minha volta, sou trazida de volta por um súbito bater na janela do carro. Ainda em choque por aquele barulho repentino abro a janela para ver o que de mim queriam.

- Ei, senhora! Está tudo bem ? Já está aí no carro à algum tempo e como não saiu ninguém de dentro, pensei que alguma coisa poderia estar a acontecer. - pergunta um dos porteiros do prédio numa voz que para ser sincera, quase fez a minha cabeça explodir.

-Estou sim, não se preocupe. Estava só a organizar o pensamento. Grande dia no trabalho... Sabe como é... - digo fingindo um sorriso bem fraco.

-Tudo bem então! Boa sorte com o seu dia!

E com o mesmo sorriso fraco, subo o vidro da janela e pego nas minhas coisas para subir até ao escritório de Tony.

———————————
Hi! É a primeira vez que escrevo algo do género então, sejam pacientes comigo. :)

Espero que gostem da apresentação. Muito mais está para vir.

!! A personagem principal é da minha autoria. As restantes (exceto algumas de menor importância) são da autoria do MCU. A história é parcialmente da minha autoria tendo alguns momentos de episódios ocorridos nos filmes do MCU. !!

Irremediavelmente Apaixonada (Yelena Belova x S/N) - Em pausa Onde histórias criam vida. Descubra agora