Névoa

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Tudo naquela manhã parecia estranho demais. Eugênio não sabia explicar ao certo o porquê de estar se sentindo assim. O tom azulado do céu estava bem oportuno para que as crianças da vila operária se divertissem por aí empinando pipas ao ar livre. Mas, é como se seu coração estivesse tomado por uma densa névoa que o impedia de enxergar qualquer beleza naquele dia.

Além disso, tinha dormido muito mal durante a noite atormentado por vários pesadelos o que contribuía ainda mais para que se sentisse mal. Nem o tempo agradável fez com que se sentisse melhor. Tinha algo estranho no ar. Algo que não conseguia explicar.

O aperto que sentia em seu peito se tornou ainda mais insuportável durante o café da manhã. E ao ser questionado por Ursula se estava se sentindo bem deu como desculpa ter sentido uma fisgada no local em que tinha levado a facada de Matias.

— Não acha melhor procurar o doutor Elias? — a governanta sugeriu. — Não é a primeira vez que sente fisgadas assim.

— Doutor Elias me assegurou que está tudo bem com a cicatrização. — Eugênio disse. — Não tem razão para preocupações.

Antes de ir para a tecelagem o homem decidiu caminhar um pouco para ver se conseguia acalmar aquela sensação angustiante que tomava conta de seu coração. Não conseguia deixar de pensar em Violeta em nenhum momento daquele trajeto.

Apesar de prometer a si mesmo que se esqueceria de Violeta ele falhava diariamente nessa missão. Um sentimento tão forte como o amor que sentia por sua sócia jamais seria esquecido. As coisas entre ele e Violeta não tinham sido mais as mesmas depois de tudo o que aconteceu.

A exceção tinha sido durante o jantar promovido por Julinha onde tinha sentido que a faísca entre os dois não tinha se apagado depois do término. Nunca soube dizer ao certo em que momento nesses dez anos havia se apaixonado por Violeta, mas estar ali trocando farpas com sua sócia fez com que se lembrasse da primeira vez que a viu.

Quando Violeta disse que sentia a sua falta dias atrás na tecelagem sentiu como se tivesse borboletas em seu estômago. Tentou ao máximo respeitar a decisão tomada pela mulher até que ela o surpreendeu com um beijo. Um leve roçar de lábios foi o suficiente para os deixar em maus lençóis ao serem flagrados por Dorinha.

Infelizmente tudo ao redor parecia atrapalhar a história de amor entre os dois. Restava a ele amar Violeta em segredo. E sofrer em silêncio a cada vez que se deitava a noite sem ter a mulher que amava em seus braços.

Eugênio se encontrou com Joaquim assim que chegou para trabalhar e estranhou o fato de Violeta ainda não ter chegado ao local. Nos outros dias sua sócia era sempre umas das primeiras a chegar na tecelagem. Tinha alguma coisa acontecendo. Ao entrar em seu escritório Dona Iara repassou uma ligação de Heloisa. Notou uma apreensão na voz da mulher e ficou preocupado quando ela disse que Matias sequestrado Violeta.

De repente tudo fez sentido para o homem. Os pesadelos que teve durante a noite. O aperto em seu peito que estava lhe incomodando desde que se levantou. Sentiu um bolo se formar em sua garganta só de pensar no perigo que sua amada estava correndo. Apesar de todas aquelas preocupações ele tinha que correr contra o tempo para encontrá-la.

Violeta havia dito que o marido não se recordava de nada do que tinha acontecido. E se ele estivesse mentindo sobre essa amnésia? E se na realidade se lembrasse de tudo o que aconteceu? Se Matias era capaz de esconder que se lembrava de tudo talvez ele não fosse tão louco como todos acreditavam. E se seu raciocínio estivesse correto Violeta corria perigo estando sei lá sabe-se onde com o marido.

Ignorou todas as fisgadas que sentia em seu ombro. Precisava encontrar Violeta o mais rápido possível. Sendo juiz, Matias sabia que a lei estaria a seu lado caso ele matasse Violeta. Infelizmente essas leis eram injustas demais com as mulheres.

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