Quando Violeta se tornou sócia de Eugênio na tecelagem ela não entendia patavinas sobre o negócio. Como nunca foi de ficar sofrendo pelos cantos a espera de uma solução mágica para todos os seus problemas, a mulher decidiu se dedicar de corpo e alma para o que agora seria o ganha pão de sua família. Já que a aposentadoria pela doença de seu marido não seria suficiente para arcar com todas as contas da casa, a partir daquele momento ela se tornaria provedora de sua família.
O começo não foi fácil. No entanto, ela superou todas os obstáculos que surgiram no meio do caminho e quatro anos após a inauguração da Tecelagem Tropical ninguém diria que Violeta até pouco tempo não entendia nada sobre o funcionamento de uma fábrica têxtil. Até o próprio Eugênio se impressionou com a perspicácia da mulher e cada vez mais as propostas de sua sócia rendiam bons frutos para o negócio. Aos poucos a empresa começava a dar lucros e consequentemente atraía novos investidores impressionados com a qualidade dos tecidos produzidos por eles.
Surgiu uma oportunidade perfeita para a expansão dos negócios. Aconteceria uma conferência no Rio de Janeiro que reuniriam responsáveis pelas principais fábricas de tecido do país. Seria o momento oportuno para que eles dois conhecessem novos modelos de máquina de tear e também poderiam aproveitar para levar amostras de tecido para oferecerem para as grandes modistas da capital.
Para Violeta, o obstáculo seria o fato de ter que ficar uma semana fora de casa. Desde que teve que assumir o papel de provedora da família nunca havia ficado mais do que algumas horas fora de casa. E só de pensar em ficar todo esse tempo longe de Dorinha uma preocupação tomava conta de si. E se a menina sentisse sua falta? E se ela ficasse doente nesse meio tempo? E se Matias tivesse um novo surto? Ela sempre gostava de estar por perto quando esses surtos aconteciam para acalmar a filha que se assustava com os rompantes do pai. E se ela não estivesse por perto quando sua filhar precisar?
Eugênio já havia começado a cobrar por uma decisão e isso a deixava mais nervosa ainda. Será que aquele quadrúpede nunca iria entender todos os seus dilemas? Violeta se sentia sufocada à medida que a data da viagem se aproximava e ela continuava estagnada sem conseguir tomar uma decisão.
— O que está te impedindo de aceitar acompanhar Eugênio nessa tal conferência? — Heloisa quis saber enquanto tomava um gole de chocolate quente. As irmãs sempre conversavam todas as noites enquanto tomavam a bebida.
— Não tem nada me impedindo. — Violeta suspirou. — Acho que deixarei que Eugênio vá sozinho dessa vez. Não me sinto preparada ainda.
— E você vai perder a oportunidade de deixar de tomar as decisões sobre a tecelagem junto com ele? — Heloisa perguntou.
— Minha irmã, não me confunda mais do que eu já estou. — Violeta se levantou da cama e andou em círculos pelo quarto.
— Se me permite dizer, acho que você não está pensando racionalmente. — Heloisa disse. — Posso vislumbrar perfeitamente Eugênio voltando de viagem e você discordando de todas as escolhas tomadas por ele.
— Eu não sou tão intransigente assim. — Violeta comentou e o olhar acusador da irmã fez com que se sentisse desnuda. Ela a conhecia como ninguém. — Talvez eu seja um pouco intransigente com ele. Mas, ainda assim fico preocupada de viajar e deixar Dorinha aqui.
— Não vai acontecer nada com Dorinha. — Heloisa assegurou para a irmã. — Pode viajar tranquilamente.
Ao perceber o desconforto de Violeta, Heloisa entendeu o motivo de toda hesitação da irmã para aquela viagem. Mesmo se passando seis anos da morte de Elisa algumas cicatrizes demoravam para cicatrizar. E esse era o caso de Violeta.
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Dizem por aí...
Fiksi PenggemarDizem por aí... é uma coletânea de one shots de Euleta. Um mesmo casal e várias perspectivas de uma história de amor.