Eles me perguntam por que sou tão quente: porque sou brasileiro ué/uai/tchê!

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São Paulo escorou-se no muro de um bar qualquer, Belo Horizonte terminou a garrafinha de bebida barata que haviam comprado no posto de gasolina e Porto Alegre jogou o isqueiro de sua mão pro céu adiante, com raiva

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São Paulo escorou-se no muro de um bar qualquer, Belo Horizonte terminou a garrafinha de bebida barata que haviam comprado no posto de gasolina e Porto Alegre jogou o isqueiro de sua mão pro céu adiante, com raiva.

"O rolê nem começou, e 'ocê já tá dando pt, Juninho?" A mineira bateu no ombro do paulistano, dedos cheios de anéis fazendo barulhos nos spikes da jaqueta de couro dele.

"Bah, esse aí tá de mau humor desde a reunião das capitais. Oh, tu tem um fogo aí pra me emprestar? O meu foi pra cochinchina." O portoalegrense pediu com o cigarro pendurado nos lábios, cabelos bagunçados e…

"Cê ainda tá com a roupa da reunião?" Isabela constatou, olhando para o terno formal, a gravata pendurada e o all-stars do gaúcho, estendendo seu isqueiro e aproveitando para acender o próprio fumo. "Não quer um também, Júnior?"

"Não, não. Parei de fumar por enquanto." O mais velho agradeceu com um sorriso, coçando seus olhos cansados. "Acho que preciso beber o bar inteiro dessa pocilga pra me sentir melhor."

"Ei! São os meus barzinhos favoritos, sô!"

"É, 'tchê, não fale assim das pocilgas dela!" Francisco riu e desviou de um empurrão da belo horizontina, seus olhos se enrugando com o sorriso malicioso.

E de bar em bar, de tribo em tribo, as três capitais se embrenharam noite adentro na capital mineira, no ambiente punk da década de setenta. Era libertador estar com sua gente sem sentir o peso das aparências, era animador cantar em altos pulmões as letras politicamente incorretas com as garrafas no ar, era refrescante saber que cometiam um ato de rebeldia sendo representações que deveriam ser a lei.

Ninguém poderia julgá-los ali e o mais importante, ninguém os reconheceria ali.

Num dos últimos bares em que estavam, o dono subiu ao palco apenas para anunciar que a última banda havia desistido do show, e que a vaga estaria aberta para o corajoso que se dispusesse.

Belo Horizonte trocou um olhar com São Paulo, que pulou no palco e puxou a mineira consigo. Porto Alegre tentou puxá-los de volta, mas acabou sendo jogado no palco pelos grupos bêbados empolgados atrás de si.

"A guitarra-"

"Eu fico com a guitarra!" Os olhos de Isabela brilharam por entre a maquiagem pesada arroxeada e preta e sua voz se afinou um pouco.

"Meu, então eu fico com a batera. Chico, 'cê fica no baixo?" Júnior parecia dez vezes mais animado com cheiro de álcool no hálito, cabelos apontando para todos os lados e um sorriso malicioso, as mãos segurando os ombros das duas capitais.

"Mas vocês dois são de cair os butiá do bolso, barbaridade uma coisa dessas 'tchê." Os outros dois riram do rosto vermelho de Francisco, que mesmo com o tom queixoso balançou a cabeça em negação com um sorriso, empurrando as capitais aos seus devidos lugares.

Os jovens humanos se acumulavam na frente do palco, atraídos pelo som do toque das baquetas seguido das notas fortes da guitarra, a voz cantada e risonha ajudando a ditar o ritmo de uma música de uma banda conhecida. O ar estava quente, misturado às cores vermelhas das luzes de baixa qualidade do lugar, a fumaça dos cigarros acesos e os corpos dançando e cantando juntos em voz alta.

BH se juntava vez ou outra no microfone com PoA, cachos castanhos voando a cada batida de cabeça, parecendo ser a que mais se divertia enquanto dançava pelo palco. Porto Alegre acompanhava a bateria com o baixo quando sentia sua voz perto de falhar, língua para fora nos poucos segundos de concentração que conseguia para harmonizar as notas. São Paulo gargalhava com os mais novos, girando as baquetas nas mãos e parecendo mais que satisfeito ao fazer as batidas fortes manterem o ritmo que vez ou outra se perdia.

Não eram músicos, mas aquela era sua vez de dirigir sua própria orquestra.

Sentados no chão de uma praça, à espera de um táxi às cinco da manhã, as três capitais viam o céu se tingir de novas cores aos poucos, o leve laranja começando a ser substituído pelo azul bebê do novo dia.

Chico já cochilava encostado no ombro do paulistano. Isa bocejava e tentava se esquentar com a jaqueta jeans estilizada de mangas cortadas, maquiagem borrada. Júnior rasgava folhas de árvores e as reunia em um monte entre seus coturnos, pensando em quantos bolsos teria que revirar para conseguirem dinheiro o suficiente para pagar a viagem – e quantas explicações aceitáveis para uma noite tão condenavelmente especial como aquela.

Oh mamma mia!Onde histórias criam vida. Descubra agora