desespero

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Escrito por: RedWidowB 

Notas Iniciais: Este capítulo contém gatilhos de violência doméstica e menção a estupro. 

Ambas as cenas estão marcadas em negrito, para que sejam evitadas em caso de sensibilidade aos assuntos. 

No mais, boa leitura <3


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Estranhamente, a primeira vez em que a Estrelinha percebeu que era diferente foi quando, ao olhar para o céu fixamente, não sentiu incômodo. Eram dez horas da manhã de um verão escaldante, e apenas ela observava o sol de forma deslumbrada.

Sua mãe, que há muito já havia percebido seu jeitinho "único", fez questão de impedi-la de manter o costume incomum. Seoyun a advertia, explicando com todas as palavras possíveis sobre como aquilo não era correto, que as pessoas a julgariam, entre outras afirmações que ficaram gravadas em sua mente.

Porém, quando ninguém estava olhando, ela repetia o ato. Era algo prazeroso — que ela só soube descrever assim anos depois —, então nem as ameaças de castigo conseguiam assustá-la o suficiente para desistir de sentir a quentura que se espalhava por todo seu corpo e enchia-o de energia.

Da mesma forma, ela costumava desobedecer a alguns outros "ensinamentos" da mãe, com o pensamento de que, se Seoyun não visse, não havia problema. Afinal, a única que parecia se importar o suficiente com o que ela fazia ou deixava de fazer era a mais velha.

Assim, cheia de coragem inspirada pela adrenalina do perigo, a Estrelinha começou a fugir de casa, durante a madrugada, para colocar em prática tudo o que seus pais morreriam caso vissem. Ela corria pelas plantações, pulava cercas dos vizinhos e, por mais que não se orgulhasse disso, também espiava certa amiga que gostava mais do que as outras.

Kim Dahyun, a amiga em questão, nunca a viu nessas ocasiões. Ela gostava de fingir que era uma espécie de Edward Cullen, espreitando-se pela propriedade dos pais da garota e observando-a durante o sono. A diferença era que ela sabia muito bem que estava errada em fazer tal coisa, e tinha certeza que a menina não ficaria nem um pouco encantada em vê-la pendurada em sua janela.

De qualquer forma, isso não a impediu continuar fazendo.

Ela tinha todos os horários gravados em sua cabeça: quando os pais dormiam, os vizinhos acendiam as luzes noturnas por também irem dormir e Dahyun cansava de pentear seus cabelos loiros compridos e finalmente se enfiava sob as cobertas.

Claro que os dias não eram sempre iguais, então ela agradecia a quem quer que tivesse lhe dado os poderes que tinha, pois conseguia escutar muito bem a quilômetros de distância e media perfeitamente cada passo seu graças a isso.

Era seu décimo sexto verão quando a medida de suas ações perdeu a acurácia.

Ela nunca havia sido pega, e probabilidade não era sua especialidade. Pouco pensava que a chance de acertos diminuía com o aumento da quantidade de tentativas baseadas em sorte, e que sua sorte havia sido gasta aos montes quando nenhuma autoridade procurou pelo meteorito que era sua nave em dezesseis anos.

Assim, em uma noite de sexta-feira, enquanto ouvia seus pais se prepararem para dormir e os vizinhos discutirem sobre um determinado programa de TV, ela escutou algo incomum, bem longe dali. Dahyun estava murmurando algo para alguém. Para um garoto, ela logo se corrigiu.

Sua amiga estava fugindo de casa, assim como ela fazia todas as noites, porém seu motivo era um rapaz.

Apesar da dor que sentiu em seu coração, tentou não se importar o suficiente. Era apenas um dia, e ela esperava genuinamente que a Kim conseguisse se divertir como ela pretendia fazer enquanto corria entre as plantações e alcançava os limites daquela cidade minúscula.

St. Follet | YoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora