2. Dopamina

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Loid

Vergonha é um substantivo que pode descrever-me muito bem nesse momento.

As lágrimas que insistem em vazar de meu olhos são vergonhosas, e os soluços baixos que acompanham esse choro tenebroso são ainda mais. Contudo, eu simplesmente não consigo parar. A água continua a cair e me sinto estúpido por fazer isso justo na frente dela. Sinto-me ridículo por me sentir indefeso.

Não consigo enxergar seu rosto, muito menos suas reações. Isso dá agonia. Mas me sinto acanhado suficiente para não permitir de maneira alguma que ela veja essas lágrimas idiotas.

— L-Loid?! Tá tudo bem? M-Meu Deus, você tá chorando! — só então ela percebeu meu choro, e ela parece desesperada.

— E-Eu estou bem. — foi difícil formar uma sentença sem me engasgar todo, mas eu consegui, mesmo me sentindo idiota por gaguejar tanto. Levo minha destra até meus olhos, procurando secar inutilmente esse rio e abafar o som. Me sinto péssimo.

— Não tá tudo bem! — ela está praticamente desesperada. — Loid, foi alguma coisa que eu disse? E-Eu sinto muito.

Ela aguardou uma resposta, mas esta simplesmente não veio. Eu não consigo falar direito. Eu sinto-a apreensiva e tensa. No fim, ela apenas fez suspirar.

Então, o silêncio retorna.

No entanto, ele não volta sozinho. Ele vem acompanhado do calor de Yor.

Ela entrelaçou seus braços ao redor de mim.

Yor me abraçou.

Seu aperto me acolhe. Ele é aconchegante.

Ela não fala mais nada. Ela respeitou o silêncio e fez o que podia fazer no momento, que foi me consolar silenciosamente.

Ela alisa minha nuca, num carinho gostoso. Dessa vez, a única coisa que consigo fazer é chorar em seu ombro. Um choro baixo, agora contido, mas que faz meu coração arder. Derramo toda a desgraça que minha mente abriga. Sentir esse conforto, pelo menos uma vez na minha vida, é muito bom, e não consigo parar desabar por conta disso.

Todo esse carinho é passageiro. Nós nem somos um casal de verdade. Eu não deveria me apegar tanto à esse terço de afeto.

Mas, porra, é extremamente bom. Tão bom que me faz chorar mais.

Não consigo evitar entrelaçar meus braços ao redor dela, e aproveitar ao máximo desse afeto passageiro, pois eu sei que mais tarde nunca mais deixarei ela me ver assim novamente. Nunca mais teremos esse contato.

Porém, só por esse momento, por esses poucos minutos, vou permitir-me ser um pouco vulnerável, mesmo que eu odeie isso.

Chorar em seu ombro, sentindo seu cheiro e consolo aquecem meu coração.

Após chorar por minutos, concluo que o estrago foi grande.

Hoje aconteceu uma corrente de eventos que nunca imaginei de ocorreriam. E agora, nesse banheiro, consigo refletir melhor sobre cada sufoco e emoção que passei hoje.

Não consigo evitar de pensar em Anya e seu machucado, em como ela sofreu. Além disso, meu momento de mais cedo não sai da minha cabeça.

Apesar de ainda não sentir-me cem por cento bem, eu admito que chorar não foi... tão ruim. Parece que um peso de toneladas foi retirado de minhas costas, posso até me sentir leve, mas isso não faz o menor sentido. Todos os problemas não desapareceram magicamente, quem me dera que um gênio da lâmpada surgisse de repente e realizasse meus desejos que acabassem com meus infortúnios. Chorar modificou nada.

Mortífera [YORxLOID]Onde histórias criam vida. Descubra agora