SWEET QUEEN

A Amiga

Bia refletia ainda sobre a noite com Reis quando teve seus pensamentos interrompidos por um pigarro de Fernando que se encontrava à porta ao lado de ninguém menos do que Jonathan Cruz, fundador do império Cruz e avô dela.

Jonathan estava com seus cabelos mais compridos do que ela podia se lembrar, vestia um suéter casual de tons azuis escuros e tinha um ar sério ao adentrar o ambiente. Sentou-se em uma das poltronas colocadas ali para fazerem par com um sofá. Mas foi após alguns segundos encarando-o que Bia e Fernando perceberam que nada mais no mundo importava do que a presença dele ali.

- Se importa em mandar seu cãozinho pastar? – disse ele referindo-se à Fernando.

Bia apenas o encarou e ele saiu pela porta sabendo que precisava sumir enquanto os Cruz discutiam algo de extrema importância. Fernando pegou o elevador e desceu para dar uma volta no lobby, ele temia Jonathan desde que o vira pela primeira vez na capa de uma revista quando era mais novo e sabia que a impaciência era algo quase genético entre os Cruz.

Bia sentou-se de frente para o avô no sofá, fitou o carpete no chão por um momento em silêncio. Jonathan riu, a neta parecia pequena ali naquele sofá e escritórios tão espaçosos.

- Então é assim que o meu legado vai continuar? – falou ele se referindo-se ao ambiente e tentando cortar o ar tenso com uma animação falsa.

- Eu... – Antes que ela pudesse pensar sobre o que ele estava falando, surpreendeu-se novamente.

- Ah, pelo amor dos céus! Acha mesmo que eu preferiria outra pessoa no seu lugar? Meus filhos já me dão trabalho demais desde que nasceram. – Ele soava como se contasse um segredo a ela.

Jonathan levantou-se e foi até a janela que ficava atrás do sofá onde a neta estava em pé anteriormente.

- Sobre seu novo contrato... Algumas muitas pessoas comemoraram, como eu. Já outras nem tanto...

Ela permanecia em silêncio, mas agora de pé tentando encontrar coragem para perguntar a ele suas verdadeiras intenções ali. Ao perceber a mudança na neta, Jonathan mudou de assunto rapidamente.

- É uma bela vista daqui. Esses prédios novos, é a primeira vez que visito um. Mas me diga, como estão as coisas?

Bia conhecia os truques de seu avô melhor que todos, e pensou um pouco antes de lhe responder. Sabia que ele não estava ali para lhe apreciar ou para visitar uma de suas muitas empresas.

- O que você quer saber, vovô?

O velho riu.

- Acha mesmo que quero que meu legado termine em um dos iates do seu tio? Ou quem sabe uma das mansões do seu pai? Minha querida, Bia. Um velho não pode ter a felicidade de cumprimentar a própria neta pelas suas conquistas?

Bia sorriu com aquele discurso barato dele.

- Os acionistas estão felizes, os executivos e diretores também e o seu filho está irritado. Nada me satisfaz mais.

Eles riram com sinceridade daquilo

- Ah meu bem, nem tudo é uma guerra. – Jonathan a olhava com um pouco de tristeza, apesar de compreender toda situação que sua família se encontrava. – Quando eu comecei também pensava assim, hoje percebo que não vale a pena. Seu tio e primos, eles não são como nós. Eu e você temos isso em comum. E apesar do que seu pai diz sobre você, estou feliz que seja minha verdadeira herdeira no fim das contas.

Bia entendeu o recado, mas ainda sim tinha suas dúvidas sobre a visita do avô. Não sabia se Thomas o tinha enviado ou seu próprio pai, ou será que ela tinha feito barulho suficiente para que o Cruz Sênior – como ele era conhecido – saísse pessoalmente do conforto de sua casa até aquele cubículo que era seu escritório? Ela sempre foi boa em ler as pessoas, mas ultimamente ler o seu próprio avô estava se tornando um desafio para si.