Capítulo 3

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A conversa fluiu bem, não falamos sobre nada muito profundo. Apenas preferências climáticas, tipos de café e gêneros de livros. Três tópicos confortáveis para um diálogo com um estranho bonito.

Naruto sorriu algumas vezes, o que me deixou um pouco fora de órbita. Contudo, infelizmente ele não pôde ficar muito tempo e logo fui deixada sozinha com meu exemplar de O castelo animado.

Eu já estava no meio do livro, pedi mais um café, que dessa vez uma atendente trouxe. Quando senti o perfume do Naruto e olhei para cima.

— O castelo animado — mencionou, colocando um pedaço de torta holandesa na minha frente. — Acho que vai gostar do final.

— Já leu? Tem final feliz? — perguntei curiosa. — Quer dizer, é fantasia e não romance, mas eu estou torcendo pela Sophie. Ela parece gostar do Howl.

— Acho que o final é bem satisfatório mesmo sendo fantasia — respondeu sorrindo.

— Ah — olhei a torta e minha boca encheu de água. — Eu não pedi.

— É cortesia. — Naruto piscou para mim e de repente tudo desapareceu ao redor.

Como um homem podia ser tão charmoso?

Fiquei em silêncio por alguns instantes, ali com a boca aberta. Até que decidi dar uma garfada na torta e uau, estava divina.

— Está uma delícia!

— Sério? — devolveu com expectativa nos olhos azuis. — Fui eu que fiz.

— Então fui uma cobaia? — brinquei.

Naruto riu outra vez e balançou a cabeça.

— Não necessariamente — rebateu, coçando a nuca. — Eu só queria saber sua opinião.

— Gostei bastante. — Comi outro pedaço. — Desse jeitinho eu não vou querer sair daqui.

— Ótimo, vou sempre trazer um pedaço pra você então — garantiu, me surpreendendo.

Novamente fiquei sem saber o que dizer, só me restou agradecer a gentileza. Naruto me deixou sozinha logo em seguida, terminei de comer e olhei no relógio de pulso. O dia praticamente se foi e eu precisava voltar para casa.

Suspirando, fui pagar a conta.

Eu não queria ficar em casa sozinha, mas Sakura trabalharia até tarde e eu não queria dar mais trabalho a ela. Só me restava lidar com minhas emoções e fazer o meu melhor.

Pensei que veria Naruto antes de partir, erro meu. Ele deveria estar ocupado ou simplesmente não quis voltar para se despedir.

Meu carro estava na oficina para revisão, então eu tive que pedir um Uber. Não demorou muito para um Fox estacionar em frente a cafeteria.

Não tinha muito trânsito, ainda não era horário de pico. Portanto, em menos de uma hora eu já estava de banho tomado, procurando algo para assistir na Amazon.

Ser divorciada era ruim, mas às vezes era tão libertador. Eu não tinha responsabilidade com o jantar do Kiba, com suas roupas imundas. Eu podia fazer tudo que era satisfatório somente para mim, sem precisar dar satisfação a ninguém.

Fui até a geladeira, peguei o vinho que comprei na semana passada e abri. Coloquei uma taça, escolhi o queijo que Sakura me deu de presente quando voltou de Minas e voltei para o sofá.

Pela primeira vez em meses, eu senti que pertencia a mim mesma. Que estava confortável na minha própria pele e que não precisava de ninguém mais além de mim para ser feliz.

(...)

— Eu aceito vender a casa — respondi ao Kiba. — Com a condição de que você não me procure nunca mais. Não entre em contato comigo se não for através do meu advogado e não me peça mais nada. O carro é meu, eu comprei com meu salário. Não temos nada mais a tratar, assim que a casa for vendida, você receberá a sua parte — finalizei, dando um gole no meu café.

Escolhi um lugar neutro para encontrá-lo, não queria estragar a minha experiência na cafeteria do Naruto. Lá era meu local de conforto, se eu fosse com o Kiba, lembraria desse momento e nunca mais ficaria confortável como antes.

— Você está muito estressada, Hina — murmurou sarcástico. — Ainda sente minha falta?

— Se tem uma coisa que eu não sinto, é a sua falta. — Levantei da cadeira e fui em direção ao meu carro.

Busquei na oficina ontem, não estava dirigindo há um tempo porque me sentia insegura sobre tudo. Minhas mãos tremiam ao volante e eu temia causar um acidente. Só que desde a minha noite de reflexão com uma taça de vinho, me sentia melhor. Ou pelo menos o suficiente para retomar algumas atividades que facilitariam minha vida. Dirigir era uma delas.

Sakura me informou que eu estava partindo para a outra fase: aceitação.

Eu esperava que fosse, porque estava definitivamente cansada de sofrer pelo cretino do meu ex-marido.

Fui direto para a cafeteria do Naruto, fazia dias que eu não aparecia lá. Pensei até em mandar uma mensagem para ele perguntando se estava bem. Mas não tinha nenhum motivo para isso. Trocamos gentilezas por causa do que aconteceu, só que não tínhamos intimidade para conversar fora da cafeteira.

Ainda assim eu senti vontade de revê-lo, conversar com ele seria agradável e admirar aquele rosto também não me faria nenhum mal.

Ao chegar, meus olhos imediatamente percorreram o local em busca do meu alvo. Eu facilmente o encontrei, ele se sobressaia em meio aos outros. Seu porte elegante e o cabelo loiro o destacavam. Apesar de não sorrir, parecia feliz naquela manhã.

Pelo menos para quem observava de longe.

Sentei no meu lugar favorito, sem querer dar bandeira de que o estava encarando. Até que uma garota loira foi até o balcão e se apoiou ali, era óbvio que tinha interesse nele. Não era nenhuma novidade.

Quando um atendente veio anotar meu pedido, tive que disfarçar um pouco mais e manter meus olhos longe do Naruto.

Fiz o pedido e aguardei, agora já podia observá-lo discretamente. Ele ainda não me viu ou fingiu que não, sua atenção era mantida na garota em sua frente.

Desviei o olhar e puxei o livro da bolsa, nos últimos dias não consegui ler porque estava atarefada com reuniões e conversas com meu advogado. Eu só queria pôr um fim naquilo e me ver livre do Kiba.

Não sabia onde iria morar ainda, não queria alugar uma casa. Mas também não poderia comprar outra somente com a minha parte na venda.

Mesmo com tudo isso acontecendo eu estava estranhamente bem. Depois da minha crise noturna, no qual adormeci de tanto chorar. Eu parecia finalmente disposta a aceitar que o Kiba não voltaria para a minha vida e que talvez eu não o queria de volta.

Foram longos meses de dor e lágrimas, nem pensei que conseguiria superar o meu divórcio. Agora eu talvez estivesse caminhando para a próxima fase ou poderia enfim ter paz comigo mesma.

Estava distraída no livro, então ouvi a voz rouca e ligeiramente grave do Naruto.

— Pensei que tinha encontrado outro lugar favorito para ler. — Puxou assunto. — Eu ficaria bem triste se acontecesse.

Ergui o olhar.

— Provavelmente essa vai continuar sendo minha cafeteria favorita por bastante tempo. — Entrei no clima.

— Estou contando com isso — respondeu, esboçando um sorriso de lado.

Fiquei sem reação e só me restou retribuir o sorriso.

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Não acredito que atualizei essa fic haha será que ainda tem alguém aqui?

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