Prólogo

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Hinata.

Quando entrei na cafeteria, imediatamente aquele cheiro tão característico e amado por mim me abraçou. Eu não sabia o que fazer, além de procurar um lugar onde pudesse ler tranquilamente. Desde que não fosse dentro de casa, onde as memórias do passado estavam cravadas em cada canto daquele lugar.

Para falar a verdade, eu não gostava de ficar sozinha. Então o café era meu lugar preferido, depois da livraria onde eu também frequentava todos os dias em busca de alguma promoção ou lançamento.

Era melhor assim, mantendo a mente ocupada, eu conseguia até fingir que era feliz. Porque enquanto virava as páginas de um livro e tomava uma xícara quentinha de café, costumava sentir que o mundo era perfeito. Que eu podia almejar meu final feliz, como geralmente os personagens alcançavam nos livros.

Eu não gostava de finais tristes, de triste já bastava minha vida. Portanto, pesquisava com afinco para saber se podia confiar em determinada história. Garantindo que a autora ou o autor me daria um final feliz, do contrário abandonava a leitura sem dó. Preferia receber spoiler a me apegar a um livro com final triste.

Era meu maior medo depois de tudo o que me aconteceu.

Eu gostava de segurança dos finais felizes em livros. Me agarrava àquilo como Rose naquele pedaço de madeira que a salvou quando o Titanic afundou.

Péssima comparação, sentei no meu lugar favorito, retirei o livro da bolsa e virei a página, suspirando.

O casal finalmente se beijou, era um bom sinal. Já estava quase nas últimas páginas da história e se eles não se resolvessem eu começaria a ficar agoniada.

Minha psicóloga indicou a leitura para distrair a mente, mas não aconselhava a minha fissura por finais felizes. Ela dizia que a vida nem sempre me daria o que eu quero. Assim sendo, eu não devia esperar sempre pelo final feliz, só que nos livros tudo era possível.

Se minha vida fosse uma bela porcaria, ao menos eu encontraria conforto nas páginas amareladas de um bom livro.

Estava tão absorta na leitura, que sequer tinha feito o meu pedido ainda.

Ao ponto de também não notar quando um atendente veio pela direita e sem querer esbarrou em mim. O café quente que ele carregava entornou pela bandeja e caiu abundante no meu braço.

Dei um grito agudo, porque estava quente pra dedéu e minha blusa fina não absorveu o calor.

— Mil desculpas — pediu, tentando me limpar com um guardanapo.

Eu não conseguia falar, o líquido queimava minha pele.

— Arde... — Sibilei com os olhos marejando.

Todos os olhares se viraram para mim, mas eu não focava em ninguém. Queria lavar a pele para afastar aquela sensação de quentura. Quando um outro rapaz alto veio em minha direção.

— O que houve? — perguntou, seu tom soando baixo e repreensivo.

— Sem querer derrubei café na cliente — O garoto respondeu em forma de súplica.

Fechei os olhos, mentalizando que não doía tanto e já iria embora dali, não fosse mãos grandes e gentis tocarem meus ombros.

— Venha comigo, por favor — Não consegui fazer objeção, apenas levantei e o segui.

Percebendo quando entramos na ala restrita à funcionários, onde uma moça me amparou.

— Vamos ver se machucou — ela disse, querendo analisar meu braço.

— Vou ligar para o doutor vir examiná-la — O homem que foi me buscar, informou.

Eu fiz que não com a cabeça.

— Não precisa — consegui formular. — Vou pra casa — informei em seguida.

Mas, quando olhei a pele do meu braço sem a barreira da blusa, estava vermelha e ardida. Como queimadura.

Droga!

Aqui era o lugar mais seguro do mundo para mim. O que eu fiz para merecer isso?

— Por favor, precisamos analisar essa queimadura — A menina ratificou.

Assenti, derrotada.

Ouvi vozes ao telefone e notei que alguém já solicitava um médico. A garota me sentou no sofá confortável, no entanto, me falou que não poderia fazer nada além até que o médico chegasse. Pois poderia piorar a queimadura, de modo que eu somente fechei os olhos outra vez. Esperando que a dor fosse embora, da mesma forma que todo mundo que passava pela minha vida, uma hora ou outra, também ia.

— Meu livro... — lembrei, era uma edição de luxo, capa dura.

Não podia perdê-lo.

— Um funcionário recolheu seus pertences — respondeu, abri os olhos para observá-lo.

Porque me parecia falta de educação conversar sem olhar para a pessoa em questão. Só aí notei, ele era a coisa mais linda do universo.

Quer dizer, alto, porte de modelo e um olhar que poderia matar qualquer uma do coração.

— Obrigada — agradeci sem jeito, ainda olhando para cima.

Eu já o tinha visto na cafeteria? Não me lembrava, porém, a dor em meu braço retornou com força e eu esqueci a beleza dele por um instante. Só pensava em voltar para casa e me enfiar embaixo das cobertas.

Se a cafeteria não era mais um lugar seguro para mim, eu definitivamente não tinha para onde ir.

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