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— Olá, adorável moça, tome uma moeda para tomar um café. — Falou um senhor, aparentava ter uns 65 anos, entregou-me a moeda e caminhou a sorrir.

— Lhê respondi apenas com um olhar agradecido e um sorriso um pouco tímido, olhei a minha volta, segurei a moeda com toda a minha força e a escondi entre as minhas vestimentas. Neste local, as pessoas cuidam umas das outras, mas sempre que há dinheiro envolvido, tentam de toda a forma nos roubar.

Bem ao meu lado, dormia uma adorável senhora, todos a chamavam de Mama, ela sempre cuidava de todos os enfermos, nos conseguia comida nas portas dos restaurantes da cidade e as vezes nos levava para nos banhar. Mama era a primeira imagem de amor que eu tinha, bem nova, não me recordo a idade, fui abandonada em lares adotivos, nunca conheci os meus pais e nunc tive uma família para cuidar de mim, os tutores logo se cansavam e achavam novas crianças para receber do governo um auxílio que os ajudava a cuidar da gentee, muitos utilizavam esse dinheiro para outros fins, até chegar no meu último tutor, eu passei por 5 outras casas, onde passei por traumas muito pesados que ainda não estou pronta para contar. O meu último tutor, eu o chamava de pai, ele cuidou de mim por cerca de 5 anos, sempre muito gentil, atencioso e zeloso, me tratava como uma verdadeira princesa, um certo dia meu pai (Samuel Schimtch) caiu da escada do nosso prédio, fraturou grande parte dos seus ossos e precisou ficar internado. Ele foi induzido ao coma devido a toda a dor que sentia, e daí jamais acordou. E quanto a mim, sua adorável filha? Infelizmente precisei voltar ao orfanato, de lá após 2 meses juntei as minhas coisas e fugi durante a noite.

— Querida!? — Me questionava a Mama com as mãos na cintura enquanto sorria. — Está a viajar de novo, é?

— Mama, apenas estava a lembrar o quanto a vida já me proporcionou bons momentos. — Falei com algumas lágrimas nos olhos, o meu queixo já marcava a alertar que eu iria chorar, foi então que sem dizer uma palavra a Mama me abraçou e me deitou dobre o seu colo.

O dia então se passou e quando eu já recolhia as minhas coisas para me deitar no canto da calçada, um homem muito atraente chegava na minha direção com um saco cheio de pães. O homem então se agachou e falou:

"Suzan, por favor se alimente, amanhã lhe trarei mais."

Após me entregar o saco, se levantou e foi a andando em direção ao fim da rua. Fiquei me questionando o porque um senhor bem arrumado e tão caridoso saberia o meu nome, por qual motivo estaria a me entregar comida?

— Senhor? — Gritei, mas os meus esforços foram em vão, o homem já estava bem distante e parecia não se incomodar com a minha voz á gritá-lo.

Mama então apareceu atrás de mim e me segurou para que eu não fosse ao encontro do jovem senhor.

— Querida, apenas agradeça, não faz bem seguir pessoas que lhe fizeram o bem. — Ela fala enquanto coloca os meus cabelos para trás com um olhar compreensivo.

— Apenas assenti com a cabeça e fiz um gesto inclinando o meu olhar para o saco a chamando para comer comigo.

Era tudo o que precisávamos, conseguimos nos alimentar e ainda sobrou para comer no dia seguinte.

Após comermos, nos deitamos para dormir, Mama sempre dormia abraçada comigo para que os homens que cercavam o local a noite não se aproveitassem da minha ingenuidade. Eu era uma menina de apenas 17 anos, apesar de já ter passado por muito, ainda não acreditava que muitas pessoas possuíam um lado sombrío.

(...)

Dias se passaram, todos os dias no fim da tarde o rapaz passava lá com algo para me alimentar, eu sempre dividia tudo com a Mama. Outras pessoas do conjunto começaram a perceber e a questionar o porque eu tinha aquele tratamento tão especial, porque o rapaz sempre entregava o alimento apenas a mim. Eu nunca soube responder essas questionamentos, e logo as pessoas se tornaram mais agressivas.

Esperei que todos se levantassem, me encaminhei até a farmácia para trocar as minhas moedas por notas, ninguém sabia, mas o pouco que eu ganhava eu juntava para tentar sair daquela situação e levar a Mama comigo.

Voltando para a calçada onde morava encontro Mama chorando sentada.

— O que houve, Mama? — A questiono já aflita.

— Levaram todas as nossas comidas, minha menina. — Me responder enquanto secava o seu rosto com a barra da sua saia.

— Eu prometo que não vamos passar fome, Mama, confia em mim! — Falei e a dei um abraço a confortando.

A levantei e a apoiei em meu ombro, hoje era uma sexta-feira e era o dia em que a senhora Ramaldês amiga da Mama nos deixava entrar em sua loja para tomar um banho, apesar do nosso banho ser apenas uma vez na semana, conseguíamos manter-nos limpas, graças à algumas torneiras que ficavam espalhadas pela cidade, não dava para garantir, mas ao menos uma vez na semana a senhora Ramaldês nos dava sabonete e produtos para cabelo em sua loja.

Voltamos por todo o caminho conversando e sorrindo, aquele gesto, por mais simples nos dava muita dignidade, nos trazia mais confiança e nos fazia acreditar que algum dia a nossa história iria mudar.

Chegando próximo a nossa calçada, vejo um grande movimento ao redor das nossas coisas, não conseguia identificar bem o que estava a acontecer, mas tinham várias pessoas paradas lá, o semblante da Mama logo mudos, parece que ela estava sentindo que tinha algo de errado.

- É vagabunda, é aqui que você esconde o seu dinheiro da gente, né? - Falou um homem enfurecido com todas as minhas economias em suas mãos.

- Piranha, quando pretendia dividir com a gente toda essa comida? - Uma mulher falou chegando próxima a mim com um olhar raivoso.

- Não toquem, essas coisas são nossas! - Falei já me debulhando em lágrimas.

A mulher cada vez chegava mais perto e a Mama puxava o meu braço para trás, foi quando eu vi que estavam carregando todas as nossas coisas e então corri em direção deles. Um homem veio ao meu encontro com uma faca na mão e tentou me acertar, foi quando percebi que ele mudou a sua rota e foi ao encontro da Mama, eu tentei o segurar, mas quando agachei em sua poça de sangue, percebi que já não havia mais pulsação sanguínea em seu corpo.

— Mamaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!! — Gritei enquanto chorava e passava a minha mão pelo seu rosto, aquilo não podia estar a acontecer, não com ela!

Não esperaram o meu luto e logo comecei a receber chutes e socos, mas eu precisava me manter ao lado dela, segurando a sua mão e tentando preservar o pouco de dignidade que ainda lhe restava.

Não enxergava mais nada e acabei me caindo por cima da Mama, quando acharam que também haviam me matado se afastaram todos do local correndo.

Suzan KylerOnde histórias criam vida. Descubra agora