Capítulo 8: Feliz

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O enterro e o velório do Fábio acabaram comigo. Eu ainda prometi a Pamela que iria para o seu teste no laboratório. A partir de quando eu assumi as responsabilidades dos outros para mim? Com a criação da Alessandra tudo bem, uma vez que a Lúcia é família. Enfim, eu acho que fiz a coisa certa. E as vozes da minha cabeça não me farão desistir.

Em uma tarde chuvosa e fria, o Henrique decidiu me levar para passear. Não fomos de moto por motivos óbvios. Estava aproveitando os meus primeiros dias de férias. A gente não cancelou a viagem, mas eu não estava muito no clima de celebração.

Fomos em um café bem famoso na Avenida Paulista. Por causa da chuva, o local não estava em sua lotação máxima. Pegamos uma mesa bem no canto e conversamos sobre as últimas coisas que aconteceram. O Henrique era sempre preocupado e atento aos meus problemas, mas eu confesso que não conhecia muito dele.

— E sobre você? Quase não conversamos sobre você. — questionei, pegando o copo e tomando um pouco de café.

— Bem, — parando um pouco e pensando. — acho que você já sabe a maioria das coisas sobre mim. Eu moro em São Paulo, estudo programação e tenho poucos, mas bons amigos. Os meus pais são pessoas boas, o meu irmão tá naquela fase que exige atenção e tenho uma gata chamada Basset. — ele pegou a carteira e tirou uma foto da gata.

— Diferente. — disse, mas achei a gata feia demais.

— Ela é feia, eu sei. Não precisa mentir, Jay. — Henrique deu uma risada sincera.

— Os pelos dela caíram? — questionei, fazendo uma careta.

— Não. Já nasceu assim. A Basset é uma gata da raça bambino. Ela é super dócil e vai adorar te conhecer. — garantiu Henrique tomando seu chá.

— Os pelos não serão um problema. — brinquei. — Desculpa, Henry. Sei que não estou sendo uma companhia fácil e...

— Ei, você não precisa se preocupar. O seu colega acabou de falecer. Você ainda está processando as coisas. — Henrique pegou na minha mão e apertou forte.

— Justamente. Desde que você apareceu a minha vida está muito melhor, mas uma voz dentro de mim diz que não é certo. Eu só não quero te fazer infeliz. Porra, eu estou parecendo um adolescente de 15 anos. — balbuciei ao ouvir minhas lamentações e o Henrique sorriu.

— Você é muito fofo, Jay.

Depois de três dias, nós seguimos para Campos do Jordão. Separei as minhas roupas mais quentes, tudo bem, a Alessandra separou as minhas melhores roupas para quatro dias em um dos lugares mais bonitos de São Paulo. São 2 horas e meia de carro. Passamos por algumas cidades, algumas bonitas e outras nem tanto.

Por incrível que pareça, eu adorei a playlist do Henrique. Ele é um jovem, mas que gosta de canções de qualidade. Roupa Nova, Engenheiros do Hawaii, Cazuza, Legião Urbana e Los Hermanos. É uma viagem em um túnel do tempo. Lembrei do Jaime novinho ouvindo essas "canções proibidas" em um walkman que a Lúcia comprou em um brechó.

***

Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado que não é nação

***

A estrada foi se tornando cada vez mais bonita. O cenário começa a mudar, principalmente, a arquitetura das casas e hotéis das estradas. Elas ganham um estilo mais europeu. O termômetro do carro marca uma temperatura externa de 10 graus. Ainda bem que eu trouxe uma touca e boinas, a pior parte de ser careca é o frio na cabeça.

A entrada da cidade é linda. Uma espécie de portão no estilo europeu, que deixa qualquer cidade da Europa de queixo caído. As pessoas passam por nós vestindo seus melhores trajes de frio. Morar aqui deve ser difícil para as pessoas que não curtem temperaturas negativas.

Ainda dá tempo para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora