Capítulo 7: Difícil decisão

197 20 1
                                    

No fim do arco-íris tem um pote de ouro. Isso é o que diz uma antiga lenda da Irlanda, na Europa. Geralmente, usamos isso para mascarar as merdas de obstáculos que a vida nos joga. Bem, eu não sei quanto a lenda irlandesa, mas estou pronto para a minha viagem de férias com o Henrique. Vamos passar uma semana em Campos do Jordão, infelizmente, não podemos nos dar ao luxo de férias mais longas.

Chego na Escola por volta das 07h. Apenas alguns poucos alunos e funcionários transitam pelos corredores. Eu mal posso esperar para o fim do dia. Já deixei todas as malas prontas para a viagem. Durante o período de férias, ganhamos alguns dias para relaxar e isso é o mínimo se pensar na dor de cabeça que os estudantes nos dão.

Não vejo o Fábio há alguns dias. Espero que esteja tudo bem. Eu me imagino muito no lugar dele. Uma vez que o sonho do meu pai era que eu tivesse uma família. Ele me apresentou diversas mulheres nos seus últimos anos de vida. Já pensou? Eu preso em um casamento infeliz e tendo que trair a minha esposa escondido.

Perdido em meus pensamentos nem percebo quando a diretora chama por mim. O nome dela é Alice Romão, a mulher mais linha dura que eu já conheci. Sério, ela faz a Lúcia parecer um doce de pessoa. Eu sou louco para ver as duas em um debate. Qual delas sobrevive? É difícil de dizer.

— Jaime. Você pode vir na minha sala, por favor. — ela pediu, então, eu prontamente a segui.

— Com licença. — pedi ao entrar na diretoria.

O gosto da diretora Alice é peculiar. Durante muitos anos, ela foi chefe das escoteiras, um grupo conhecido como 'Anjos de Saias'. Várias medalhas e documentos de honra ao mérito estão distribuídos pelas paredes da diretoria. A parte mais bizarra? A pele de uma onça guardada como um troféu. Eu só estive duas vezes aqui. A primeira foi na minha entrevista e depois na admissão.

— Algumas pessoas me contaram que você almoçou com o professor Fábio no início da semana? — questionou Alice, antes de sentar e abrir o notebook.

— Sim. Almoçamos juntos. Ele está passando por alguns problemas. — expliquei, cruzando as pernas e tentando não me intrometer em um assunto tão pessoal.

— Quais problemas?

— Diretora, acho que isso é algo que o Fábio deveria dizer e...

— Ele se matou, Jaime. O professor Fábio tirou a própria vida. — disse a diretora com uma voz embargada. — Seu corpo foi encontrado ontem no trilho do metrô.

Meu Deus. Como assim? Ele preferiu a morte do que enfrentar seus problemas de frente. Eu não consigo evitar às lágrimas. Quanto peso será que foi colocado sobre os ombros do Fábio? A diretora explicou que a família entrou em contato, pois ele não havia retornado para casa. Então, na madrugada a polícia localizou o corpo próximo a uma estação de metrô.

— Provavelmente, a polícia vai falar com você. Eles querem entender o motivo dessa atitude tão drástica. Eu tive que passar o seu contato. — contou a diretora, que fez algumas anotações no notebook.

— Ele tinha HIV. — soltei, ainda em choque com a notícia.

— O quê? — questionou Alice surpresa.

— O Fábio, ele era soropositivo. Por isso, nós almoçamos juntos. — confessei.

— Você também é?

— Não. Eu fui fazer os exames em uma clínica aqui perto da escola. Estou ficando com uma pessoa e decidimos nos precaver. O Fábio fez um pouco antes de mim. O coitado não sabia que eu estava lá. Ele ficou desesperado, Alice. Meu Deus, eu não pude ajudá-lo. — lamentei, enxugando as lágrimas.

Ainda dá tempo para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora