Capítulo 3

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No sonho, eu estou parada em frente ao mar e meus pés afundam na areia quando uma onda me alcança sem aviso.

Sei que estou sonhando quando abaixo o olhar para meus pés e surpreendo-me por serem pés infantis. Levo minhas pequenas mãos ao maiô estampado com flamingos e sorrio. Eu tinha uma atração boba por flamingos muito antes de virar moda e eles começarem a serem estampados em todos os lugares.

— Isa!

A voz que me chama é de um menino que está sentado em uma prancha que dá duas dele, embora ele seja pelo menos uma cabeça maior do que eu, ainda é menor que os outros garotos que também estão no mar com suas pranchas de surf coloridas.

— Deixa eu surfar também? — grito, enquanto pulo animada para dentro do mar, indo em sua direção.

— Você é muito pequena pra isso!

— Não sou não! — Sempre fico brava quando ele fala assim. Eu tenho oito anos, não sou um bebê. Por isso me vejo rompendo o medo do tamanho das ondas que parecem cada vez mais agressivas e indo em frente. Apenas para provar um ponto.

— Isa, volta para areia — ele grita antes de uma onda gigante arrebentar em mim, levando-me para o fundo.

Engulo água, assustada, e subitamente, sinto que puxam meu maiô para cima e sou arrastada para a prancha e o menino de cabelos escuros fixa em mim seus olhos castanhos claros que parecem feitos de fúria agora.

— Eu falei para não entrar.

— Mas eu quero surfar também. — Eu me sento sobre a prancha assim como ele, cuspindo e tossindo, mas sorrindo porque estou exatamente onde gostaria de estar. — Você prometeu me ensinar quando eu fosse maior.

— Ainda é pequena.

— Você também é.

— Eu sou maior que você! E mais forte.

Eu rolo os olhos, irritada com aquela arrogância do menino.

— Vou pedir para o Pedro me ensinar, então! — rebato pulando da prancha e olhando ao redor para procurar o outro menino.

O sol está caindo no horizonte, tingindo o céu de vermelho e deixando as ondas maiores e ameaçadoras.

De novo, tenho aquela sensação de estar num sonho.

— Isa, sai daí!

— Quero achar o Pedro. Ele é mais legal que você, que é um medroso! — grito, tentando nadar, mas de novo sou puxada para cima da prancha do garoto que dessa vez me segura forte contra seu peito, quando se inclina e sussurra em meu ouvido.

— Uma hora dessas não estarei mais aqui para te proteger de você mesma.

— O Pedro me protege também!

— O Pedro não está mais aqui, Isa.

Eu me viro, para rebater aquela afirmação, confusa, mas estou sozinha na prancha.

Sozinha no mar infinito.

E de repente tenho certeza de que o garoto falou a verdade. Pedro não está mais aqui.

— Diego? — grito o nome do garoto que deveria estar ali comigo.

Me protegendo como sempre fazia.

Mas escuto apenas as ondas cruéis arrebentando abaixo de mim.

Ao meu redor.

Devorando tudo com sua fúria.

Verão CruelOnde histórias criam vida. Descubra agora