Capítulo 4

331 70 11
                                    


— Está calada desde que voltamos do rapel, o que foi? — Caio cai ao meu lado na espreguiçadeira, de onde eu observo Flavia tentar aprender uma nova coreografia perto da piscina com Babi.

— Nada, estou normal. — Sorrio, mas sei que é mentira.

Estou mal-humorada desde o episódio com Diego. Fiquei brava por mais aquela discussão boba. Eu não costumo ser assim. Não gosto de conflitos e sou bastante conciliadora. Dócil demais até, às vezes. Porém, em vinte e quatro horas já entrei em discussão com aquele cara mais do que deveria.

— O que foi? Falta do namorado? — Caio brinca e eu rolo os olhos me levantando.

— Sim, pode dizer para seu amigo deixar o trabalho chato e vir logo ficar comigo?

— Ei, onde vai?

— Vou dar uma volta.

Eu me afasto, numa súbita necessidade de ficar sozinha e organizar meus pensamentos. Pego minha bolsa e decido caminhar um pouco sozinha, mas próximo da garagem encontro uma bicicleta. Imediatamente me vem à lembrança minha bicicleta de criança e Diego me empurrando e me encorajando a me equilibrar para eu não cair.

Solto um suspiro profundo, pois foi Diego quem me ensinou a andar de bicicleta.

— Ei, vai sair? — Catarina passa por mim.

— Sim, vou dar uma volta. De quem é essa bike?

— É do Diego, mas pode usar, não acho que ele vai se importar.

Eu hesito.

— Ele não está em casa, está?

— Não está não.

Eu não deveria pegar a bicicleta justo de Diego emprestada, mas numa súbita explosão de afrontamento, decido que, se está na minha casa, eu posso usar sim. E se ele achar ruim, que vá para o inferno. Talvez seja bom dar motivos reais para Diego implicar comigo, para variar.

Então, subo na bike e me afasto pedalando.

Enquanto pedalo, sinto-me mais calma e as palavras de Caio voltam a minha mente. Estou sentindo falta do meu namorado? Não acho que é este o meu problema. Eu havia feito um vídeo no rapel e mandado para o Vitor, que desde que cheguei parece bem ocupado para me ligar.

Claro, cheguei ontem e nem sou uma namorada grudenta. Na verdade, nos últimos tempos eu e Vitor estamos bem sem tempo para ficarmos juntos, já que ele anda ocupado ajudando o pai e eu com o meu trabalho.

Enquanto estava em São Paulo, trabalhando e ocupada com os eventos de fim de ano, não estava preocupada com o fato de eu e Vitor estarmos cada vez mais distantes.

Porém, agora, do nada, me vejo questionando quantas vezes eu e ele estivemos sozinhos de verdade.

Nossa, faz tempo. Dezembro foi um mês cheio de publis e ele viajou para a Europa com a família. Assim como eu fui para a fazenda dos meus avós.

Não passamos o réveillon juntos, ele estava na França e pediu que eu fosse ficar com ele, mas eu tinha que ir em uma festa em uma boate em São Paulo, pois fui paga para isso.

Quando externei a ideia de ir para Maresias em vez de Floripa, ele não achou ruim e ainda disse que ia ser bom porque o pai havia insistido que ele o acompanhasse em alguns negócios de um novo hotel que abriram.

Agora, eu não sei ao certo o dia que ele conseguirá vir, mas anseio por sua presença ali. Eu e Vitor estamos juntos há oito meses, meu relacionamento mais longo. Quando começamos a sair, minha carreira estava começando a decolar e naquela época, Vitor não tinha nenhuma ocupação além da faculdade e parecia satisfeito em ser o namorado que me ajudava a deixar minha vida mais fácil, quando sempre me levava para encontros incríveis que me rendiam um ótimo conteúdo. Ele não achava ruim que eu gravava nossos jantares em restaurantes badalados, ou boates da moda, ou quando usava boa parte do nosso tempo em alguma viagem fazendo vídeos e produzindo conteúdo para meus seguidores. Muito pelo contrário, ele adorava aparecer nos meus vídeos como o namorado perfeito. E sim, Vitor era o namorado perfeito. Bonito, rico, divertido e gentil.

Verão CruelOnde histórias criam vida. Descubra agora