Capítulo 6

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Retorno da praia devagar, ainda perdida no embate com Diego.

Eu queria tanto não me importar, e, na verdade, nem sei por que me importo.

Do que você lembra, Isa? Ele havia perguntado como se esperasse algo de mim que eu não sabia o que era.

E por um momento ínfimo, eu achei ter vislumbrado naquele olhar turbulento o mesmo menino que ele foi um dia, o menino que gostava de mim.

Em todos aqueles dez anos, eu pouco parei para pensar no tempo em que vivi com a família Pupo ali em Maresias. Era como se tivesse enterrado aquelas memórias na areia, como um tesouro, e finalmente eu a encontrasse.

Agora, enquanto entro no jardim e ligo a ducha externa para tirar a areia do meu corpo, deixo a água gelada escorrer por meu cabelo e meus olhos vagueiam pelo jardim até as ruínas da casa da árvore.

Meu coração se aperta de tristeza por um momento. E de repente consigo avistar a mim mesma puxando meu pai e apontando para a árvore e pedindo que ele construa uma casinha para mim.

"Eu quero uma como nos filmes.", eu havia pedido.

Meu pai sorriu e disse que ia ver o que poderia fazer.

Mas foi só no verão seguinte que tive meu desejo realizado. Ainda me lembro da alegria com que eu subi as escadas até a pequena casinha de madeira. Levei minhas bonecas para lá e minhas panelinhas e passei horas brincando sozinha, embora logo tenha achado muito chato. Solitária, a casinha não tinha tanta graça. Logo me cansei da novidade e voltei às atividades de verão, como nadar na piscina e ir à praia com meu pai.

E no verão seguinte, eu tinha oito anos quando voltei a casa de Maresias, e me deparei com a casinha e ela me pareceu interessante de novo, só precisava arranjar amiguinhos para brincar comigo. Mas meu pai não incentivava que eu brincasse com outras crianças em casa. Então, só convivia com elas quando estava na praia.

Isso mudou alguns dias depois quando Márcia chegou. E com ela, Diego e Pedro.

Eu fiquei tão feliz por finalmente ter amigos com quem brincar. Parecia um sonho realizado, ainda mais quando entendi que meu pai ia casar com a Márcia, e Diego e Pedro seriam meus irmãos.

Com um sorriso triste, eu desligo o chuveiro e caminho pelo jardim me lembrando de como havia puxado a mão de Diego e Pedro até a casinha.

— Olha, o que eu tenho! Vamos brincar?

Os meninos pareciam animados em subir na casinha comigo, mas ficaram decepcionados ao ver minhas coisas de meninas espalhadas por lá.

— Credo, aqui é chato! — Pedro fez uma careta.

— Por quê?

— Porque é de menina!

— Mas e daí?

— Não brincamos de boneca, pirralhinha.

— Podemos brincar sim, olha. — Eu olhei para trás e Diego estava com uma das minhas bonecas na mão e ele havia tirado a cabeça dela, para meu horror.

— O que você fez?

— Olha só, ela foi atacada por tubarão... Oh não, arrancaram o braço dela também. — Ele fez uma voz de terror. Pedro se dobrava de tanto rir enquanto pegava outra boneca e fazia o mesmo.

Eu comecei a chorar e sem pensar me aproximei tentando arrancar a boneca da mão deles, que corriam pela casinha.

— Vou contar tudo para o meu pai! — Eu dei um soco no estômago de Pedro quando o alcancei.

Verão CruelOnde histórias criam vida. Descubra agora