0.20 // noite fria

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O céu já estava escuro, tomado por um azul intenso que seguia de uma ponta a outra. Não havia estrelas, não via a lua, eu não via nada além de imensidão do azul. Por um momento fiquei desapontada, queria que hoje fosse uma noite estrelada, mas aqui nessa cidade nunca se faz sol pelo visto.

Eu já estava deitada, por mais de 2 horas. Tentei dormir, relaxar, mas nada tirava o peso de culpa que eu carregava sobre meus ombros. Eu não conseguia parar de pensar em Vinnie, não conseguia parar de pensar em como ele deveria estar se sentindo.

O corredor estava vazio, e ficou assim ao longo do resto do dia. Nenhum sinal do Vinnie, nenhum sinal de alguém. Fiquei em silêncio por horas, jamais pensei que pudesse ficar tão quieta na minha vida.

Quando tive a coragem de me levantar da cama, senti um medo bater em meu estômago. Encostei meus pés no chão, que estava gelado. Eu poderia ficar ali deitada, na minha, sem precisar me esforçar para nada, sem precisar começar uma briga. Mas não, eu me levantei e segui até o final do corredor. Passei pelo quarto de Vinnie, que ficava no outro lado da casa. A porta estava entre aberta, mas ele não estava ali, sua cama continuava arrumada, sem nenhuma dobra sequer pelos cobertores. Sua mala estava jogada ali por cima, nem sequer foi aberta.

Talvez Vinnie queria ir embora logo, eu pensei descendo as escadas timidamente. No último degrau pude ver Vinnie em pé, cortando algumas coisas na bancada, ele não percebeu minha presença, então não tive que me esforçar para andar em sua direção. Parei por um instante, enquanto ele se movimentava pela cozinha em busca de alguma coisa. Abriu uma gaveta e não tirou nada, depois a outra, depois outra, a mesma coisa.

Vinnie certamente não queria prestar a atenção em mim, era isso que eu deveria pensar desde o começo. Decidi que talvez a melhor coisa a se fazer era pegar algo na geladeira e voltar para minha cama, sem falar nada com ele. Por mais que doesse e me desse uma pequena vontade de ir para casa, eu continuaria ali, por ele, ou pelo seu pai.

Abri a geladeira, ainda criando uma ideia do que eu poderia querer pegar. Talvez uma fruta ou uma bebida. Eu não fazia a mínima ideia.

-eu já estou fazendo o jantar.__ele disse do outro lado da cozinha.

Levantei meus olhos a ele, que ainda continuava cortando a cebolinha sobre uma tábua de madeira. Ele cortava com uma certa rapidez, uma certa agilidade que eu imaginaria que ele tivesse.

Fechei a geladeira e dei alguns passos em sua direção, olhando para o que ele preparava. Havia cebolinha ali, sendo cortada. Pimentão verde, amarelo e vermelho já picados em um pote pequeno. Cebola cortada em rodelas e peixe na pia, para serem lavados.

-o que vai fazer?__eu disse tentado imaginar um prato com tudo aquilo.

-peixe refogado.__ele sorri fraco, finalmente me encarando.

Era a comida preferia do meu pai, e ele sempre fazia todos os finais de semana. Sorri fraco e senti a nostalgia se acumular em meu corpo, como se fosse hoje que tudo estivesse acontecendo. Meu pai na cozinha, minha mãe ao seu lado o ajudando, e eu com uma pequena cadeira tentando subir sobre a pia e ver o que eles faziam. É claro que eu nunca conseguia sozinha, então minha mãe me dava impulso e me dava pedaços de cenouras cortadas em um pote rosa para eu comer enquanto os encarava preparar o prato.

Olhei para vinnie que voltava a se concentrar, ele não parecia triste por fazer isso, parecia que fazer alguma coisa ocupava a sua mente vaga durante esse meio tempo.

Vinnie lembrava meu pai, meu antigo pai, não o que ele se tornou.

-o que foi?__disse o homem notando meu silêncio.

Eu levantei meus olhos até ele. Seus olhos brilhavam de maneira ingênua, aqueles olhos me faziam ter o sentimento de estar em casa. Eu sorri fraco, tirando uma mecha de cabelo que cobria meus olhos enquanto abaixava o olhar.

I NEED YOU// Vinnie HackerOnde histórias criam vida. Descubra agora