Lua cheia

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LUA CHEIA.4


– Traças cuspiram as palavras que escrevi na esperança que você as lesse,

Devem ser tão amargas quanto o seu falso desdém.

Cartas ditas em voz alta perdem o sentido enquanto as falo

Nunca antes os sons pareceram tanto como areia saindo da boca.

Declarações tardias não tem efeito como as confissões que outro alguém sussurra

Nem mesmos gritos d'minha alma conseguem romper a barreira criada entre nós

Em algum momento, espero que as traças devorem as páginas junto com a minha dor – Severus leu em voz alta, recebendo algumas palmas da turma e uma série de elogios do professor. O moreno não estava particularmente feliz com aquele dia em si, o fato só se agravou ao saber que sua dupla havia faltado.

"Onde está esse maldito Lupin?" Snape pensou cabisbaixo, andando até sua mesa entre resmungos. Não gostava de falar em público, muito menos de expor algo que compôs com outra pessoa sem tê-la de fato ali. De certa maneira, Severus se sentia abandonado à própria sorte por Remus. Estavam fazendo aquilo juntos, por ideia do garoto. Aparecer era o mínimo a se fazer depois de tudo isso. Aparecer era o mínimo que o sonserino estava pedindo tão desesperadamente.

Franziu a testa e bufou ao ver o cachecol amarrotado no fundo de sua mochila. Ele precisava devolver aquilo, assim como precisava cortar laços com o Lupin. Severus já havia visto aquele filme uma vez. Já havia sido amigo de Lily e não tivera um final feliz. Snape não queria passar aquilo, não de novo. Estava sendo obrigado a enfrentar a dualidade dos sentimentos e situações que envolviam ambos. Ele gostava da companhia de Remus ao mesmo tempo que odiava ardentemente lembrar dos significados por trás de sua presença. Em um momento era capaz de perdoá-lo, em outro tinha certeza que o afastamento era a melhor opção. Por fim, estava tentado a tornar Remus seu amigo (nem mesmo que fosse apenas durante as aulas de poesia e literatura) simultaneamente em que tinha a certeza de que aquilo não acabaria bem;

Estava ficando difícil para Severus pensar em qual passo dar a seguir.


~~~


Remus não apareceu em momento algum naquele dia. Ninguém parecia tê-lo visto ou conversado com ele, Severus apenas ficou sabendo do que tinha acontecido ao ouvir um comentário entre duas garotas durante o jantar no salão principal: naquela a noite, o monitor Remus Lupin havia tido uma queda nas escadarias e havia fraturado um osso. A testa de Snape se franziu ao ouvir a informação e ele buscou em sua mente visualizar o calendário lunar daquele mês, quando suas suspeitas se confirmaram, a comida perdeu o sabor em sua boca. A lua cheia esteve em seu auge no dia anterior. O verdadeiro motivo para a ausência de Remus pareceu ainda mais desagradável que a mentira contada aos seus colegas.

O garoto xingou baixo sem saber ao certo porque a notícia remediou a pequena ira pela falta injustificada de seu colega e despertou uma empatia em Severus que o surpreendeu.

Não era bom simpatizar com pessoas como Remus.

Não acabaria bem.

E por isso, Snape tomou uma decisão sobre o que fazer dali em diante.


~~~


No dia seguinte, quando a falta do Lupin foi explicada pelos professores — seguindo o mesmo padrão dos rumores sobre sua suposta queda — Snape se perguntou o quão feio havia sido a transformação para que ele ainda estivesse na enfermaria. Severus sempre escutara sobre o quão repulsivos criaturas como os lobisomens eram, contudo mesmo depois de quase ser vítima do lobo, o sonserino deixou as dúvidas crescerem em seu peito. No fim da tarde convenceu a si mesmo de que possuía uma desculpa boa o suficiente para visitar Remus Lupin.

Não escreva sobre mim - SnupinOnde histórias criam vida. Descubra agora