Traças

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TRAÇAS.3


– Certo, classe! Hoje faremos diferente – O professor anunciou, escrevendo no quadro o tema da aula. O tempo cada vez mais frio pareceu tornar a sala sem vida, Remus imaginou que aquela fosse uma ideia para agitar as coisas e impedir os alunos de dormirem nas carteiras congeladas – Produção em grupo! Formem suas alianças e quero que produzam algo em conjunto. As ideias tem que se conectar de alguma forma, nada pode estar solto. Se vocês, poetas e escritores, não são capazes de se entenderem, então quem será? – perguntou, olhando para alguns alunos na sala. Por fim, bateu as mãos e direcionou alguns grupos a ficarem em cantos específicos do cômodo – O texto pode ser em formato de poesia ou narração, mas devem conter um eu lírico e ter um tema bem definido. Comecem!

Tanto Severus Snape quanto Remus Lupin se encolheram em suas carteiras. Aquela ela a aula de literatura, teoricamente deveria ser um ponto seguro para os antissociais, mas, ao que tudo indicava, naquela tarde não poderiam se safar. Enquanto uma bagunça controlada tomava conta da sala, o loiro lançou um olhar para a única pessoa com a qual esse trabalho seria suportável. E não era nenhuma das garotas que só estavam lá para fofocarem e idealizarem perspectivas românticas, muito menos os garotos que, ou tiveram o azar de pegarem as últimas matérias com vagas restantes, ou eram estranhos além do que Remus estava disposto a suportar.

Jogou suas coisas na mesa ao lado da de Severus e se sentou, mexendo as mãos na tentativa de aquecê-las. Imediatamente o moreno direcionou a Remus um olhar um tanto bravo e um tanto grato. Havia uma dualidade nos sentimentos que vinham com a companhia do garoto.

– Eu não pedi...

– Eu sei que não, mas não quero escrever com mais ninguém – O Lupin admitiu rápido, sem se importar em ser objetivo sobre o assunto. Snape arqueou uma sobrancelha – Meu estilo de escrita não combina muito com o dos outros colegas.

– O que assusta você? Fazer trabalho com garotas que escrevem sobre namorados imaginários ou com garotos que abordam temas mordazes? – Severus questionou de maneira cirúrgica, estendendo para Remus uma folha de pergaminho. O Lupin riu anasalado.

– Não considero Edgar mordaz – O grifinório disse, olhando para o colega corvino. Snape ergueu as sobrancelhas, ele estava curioso para saber o que Remus pensava sobre as poesias perturbadoras daquele colega em específico – Considero ele autodestrutivo e não consigo imaginar qualquer um que queira abordar como tema um eu lírico morto e se decompondo enquanto narra o seu eterno sofrimento. É apenas cruel e triste.

– E quem você considera mordaz? – Severus questionou, ganhando um olhar divertido do Lupin. Um pequeno sorriso se abriu no rosto do loiro.

– Aposto que você me considera ainda mais mordaz* do que o contrário – Remus disse de maneira sarcástica, fazendo o sonserino revirar os olhos por um momento – Se serve de consolo, pelo menos eu te salvei de fazer dupla com Margara, ela começou um texto sobre... Sobre algumas das qualidades de Sirius que eu não quero nem ouvir falar sobre.

– É mesmo? Achei que vocês tivessem um caso – Severus debochou, arrancando outra risada baixa de Remus, ele não duvidava nada dos boatos que surgiam sobre o herdeiro dos Black e suas companhias duvidosas.

– Eu também pensei... Por um tempo. É o que as más línguas falam – O grifinório comentou entrando naquela brincadeira.

– James Potter deve ter ficado triste depois de ser excluído dessa – Snape alfinetou, o que fez Remus morder o lábio enquanto pensava em uma resposta apropriada.

– Mas ele não foi excluído – Remus continuou na atuação, dando àquele jogo despreocupado e mentiroso um clímax um tanto quanto absurdo – Quem dera ele tivesse sido. Agora eu sofro de amores por nosso rompimento. Mas é o que todos dizem: toda vez que um triangulo se desmancha, é porque um novo ciclo está começando.

Não escreva sobre mim - SnupinOnde histórias criam vida. Descubra agora