Capítulo 9

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CRISTIAN COLLALTO

Antes que pensem que eu odeio os Savóia, eu realmente odeio, mas isso não é intencional, foi algo construído por muitos anos dentro de mim. A minha infância foi apenas treinamento para servi-los da melhor forma possível, não tive pai presente e muito menos carinho da minha família. Minha mãe e Vicenzo são excessão somente porque quando meu pai viajava ou ia para reuniões, fazíamos programas familiares. Esse era o momento exclusivo que eu pensava que éramos realmente uma família.

Com o passar o tempo as coisas pioraram gradativamente, meu pai começou a treinar não só ao Vicenzo, mas também à mim. Ele dizia que eu teria que ser o melhor para me destacar e ser alguém aqui dentro. Isso piorou meu modo de pensar, sempre tive a noção que eles são poderosos financeiramente e socialmente, mas jamais pensei que influenciariam na minha criação.

— Fazendo hora extra, diamante bruto? – com os braços e pernas cruzados, mantenho meu ombro encostado no batente da porta, analisando Beatrice com uma pilha de relatórios na mesa da biblioteca.

— Alguém tem que fazer o trabalho duro. – vejo uma sombra de sorriso em seus lábios, o que miseravelmente me dá energia para adentrar na biblioteca e parar diante a mesa de madeira antiga. – Veio inspecionar o que estou fazendo ou apenas me admirar? – seus olhos esmeraldas encontram os meus.

— Um pouco dos dois. São quase duas da manhã e vi a luz acesa. – respondo, me sentando na poltrona à sua frente, chamando a atenção para minha ação. – Vicenzo não costuma deixar nenhuma porta dessa área destrancada, como conseguiu entrar?

— Sua pergunta foi inocente demais, vou fingir que não escutei. – abre um sorriso de canto, ainda olhando para o relatório. – Pelo o que sei você tem uma casa, por que dorme aqui?

— Depois do que ocorreu com Jane, eu e Vicenzo preferimos ficar na mesma casa para a segurança da minha cunhada. Quando ele necessitar sair pela madrugada, estarei aqui caso algo aconteça.

— Jane sabe muito bem se defender.

— Por isso mesmo precisa de proteção. Ela está grávida, quase ganhando o Marco e ainda tem o Lorenzo com dez meses. Mesmo que pense ao contrário, ela necessita de uma proteção redobrada, nossos inimigos sabem que ela jamais permitiria que alguém cuidasse dela. – explico, cruzando os braços e encostando minhas costas na poltrona de couro branco – Eu seria como um elemento surpresa, se assim preferir.

— Isso é ridículo. – solta uma gargalhada – Ouvir isso saindo da sua boca é a coisa mais maluca que já escutei.

— Você me subestima demais. – nego com a cabeça – Agora é minha vez de perguntar.

— Não estamos jogando.

— Agora estamos. – Beatrice arquea uma sobrancelha, mas logo se dá por vencida. – Porque ainda está aqui?

— Como? – me olha supresa.

— Matamos o padre, a missão já foi cumprida. Entendo que ainda falta a tia insuportável da Catarina e o assessor dela, mas quando seu irmão nos informou sobre a missão, ele especificou que você veio pelo padre.

— Está me expulsando, Collalto?

— Entenda como preferir. – abro um leve sorriso na sua direção, o que faz ela suspirar e balançar a cabeça desviando o olhar. – Quero minha resposta.

— Esse caso me interessa, é importante para a minha família e eu faço questão de estar presente. – ela para, olha para as mãos e suspira – Não deveria falar isso, mas ultimamente a minha casa não é o melhor lugar para estar.

— Pensei que os Savóia fossem amorosos com seus filhos, que eram uma família unida e de dar inveja ao restante da associazone.

— Não queremos causar inveja em ninguém, mas a minha família tem costumes diferentes, o que nos deixa mais unidos. Mas estamos longe de sermos perfeitos para causar inveja, como toda família temos nossas desavenças e momentos de estresse.

— Jamais imaginaria isso de vocês. Cresci com a noção de que somos o chão que vocês pisam.

— Isso é ridículo, arriscamos nossas vidas assim como vocês. Estamos todos os dias na mira da polícia e do governo. – Beatrice larga as folhas, apoiando os dois cotovelos na mesa e aproximando o rosto do meu – Matamos varias pessoas por dia, apenas para que essa associazone jamais caia. Aqui é o lar e sustento de varias pessoas.

— É justo trocar uma vida pela outra? – ela engole seco, mas sorri.

— Não, não é, Cristian. Mas o governo faz isso todos os dias, quando escolhe aumentar os impostos e a bolsa de valores. Não somos santos, mas escolhemos o povo que realmente necessita.

A Prometida - Nova Era 3 - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora