Memórias de J

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Sim, meu pai me deixou em casa sozinho naquela noite barulhenta e chuvosa, dava para escutar a batida dos portões e as correntes que a seguravam. Nós tínhamos um celeiro. Meu pai era pastor da igreja, a qual também era dele, lembro até hoje como eu estava muito assustado, com medo. Eu estava sozinho em casa, eu não queria ficar e isso, isso foi um grande erro sair de casa naquela noite. E eu fiz, saí de casa e segui o caminho da igreja, eu fui correndo porque não queria ficar lá, queria estar com meu pai. Foi quando, de tanto percorrer o bosque até o seu outro lado que finalmente eu chego na igreja. Embaixo daquela tempestade, acredita? O que eu estava pensado?... Eu era criança assustada, tratei de entrar lá dentro para se proteger. É claro, eu já estava lá, né? Droga! Não devia ter entrado! A porta estava aberta, entrei e fechei a porta devagar. Encharcado, ensopado...! E foi horripilante o que eu vi logo em seguida, porque naquele lugar cheio de velas na parede, que não se mexiam, mesmo com muito vento passando pela porta, e eu me aproximando para ir até o lugar que ficava o meu pai quando dava seus sermões nos dias de culto. Eu vi ele lá, meu pai e, no canto esquerdo de frente ao altar, sentado em um dos bancos, colocava a sua mão na cabeça de um homem. Dizia várias coisas de uma língua estranha, para mim naquela época, o latim, e eu fiquei parado escondido para ele não me ver. O homem também parecia ter uma voz diferente, era uma voz demoníaca, eu senti muito medo. Os dois sentados em de frente para o outro e eu só observando. Meu pai com a mão sobre a cabeça daquele homem e a sensação estranha de eu sentir que ele era um inimigo. De repente uma nuvem escura começa a sair por de trás do homem, pelas suas costas (eu sei bem o que eu vi) tomando um forma de morcego, e era muito grande, maior até mesmo que o próprio homem. E saiu completamente das costas daquele cara e voou por todo o salão da igreja, enquanto eu estava muito assustado abaixado em um dos bancos vendo aquela criatura voando acima de mim, e também do meu pai. Logo, aquele bicho das sombras saiu quebrando a janela e foi embora, o homem voltou a falar normalmente. Foi quando eu percebi porque meu pai me deixava em casa. Que coisa horrível!

JessWhere stories live. Discover now