Arco V

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5

Afundei.
E dessa vez não foi como um afogamento ou qualquer outra coisa que eu havia mencionado anteriormente, eu estava afundando de fato, mas numa piscina, não, em um mar de piche, e eu tentava retornar, mas quando eu conseguia tirar uma mão da água, um fogo violento foi colocado, e além de eu me afogar, eu me queimei.
Era essa a sensação dolorosa e estranha que eu sentia cada vez que um degrau da minha vida descia, e não subia.
E a parte mais estranha é que eu não conseguia me livrar.
Era tudo uma gigantesca montanha russa de emoções que parecia nunca chegar no fim, mas eu acreditava que uma hora ou outra eu ia conseguir, eu ia ter meu momento de paz e me livrar disso tudo.
Resolvi responder a mensagem de Bryan.
—Precisamos conversar
—Não tenho nada para falar com você.
—Mas eu tenho para falar com você

Diga que você o odeia, faça isso por você, pelo menos uma vez na vida.

—O que você tem para falar?
—Eu te amo, desculpa por tudo, sinto sua falta, vamos voltar?
—Depois de tudo que você me fez passar?
—Eu sei, fui um idiota, mas você também estava virando muito amiga daquele Tony.
—O que você quer dizer com isso?
—Ah, você meio que pediu por aquela traição, mas deixa isso para lá, vou ai para gente se reconciliar.
—Eu pedi? Bryan, não vem aqui, se não eu vou te matar.
—Para com isso amorzinho, já estou indo, vai ficar tudo bem entre a gente.
—Eu estou falando sério!
Mas eu não tive mais nenhuma resposta, tentei me levantar, uma, duas, milhões de vezes, mas toda vez que tentava eu caia em um loop de frustrações, não ia na faculdade a mais de duas semanas e acho que isso não era bom para mim.
Uma ligação ressoou pela casa.
—Alô? —Minha mãe atende, eu escuto tudo através do meu quarto.
—Sim, é a mãe dela. O que? Isso não pode ser verdade, deve ter outro jeito, mas, isso é um absurdo! Não acredito, desligaram na minha cara!
Permaneço deitada, tentando arrumar forças e me levantar abruptamente, mesmo que isso seja quase impossível, como se uma força me segurasse na cama e me impedisse de erguer.
Minha mãe bate na porta, duas vezes, e eu a ignoro, ela bate mais uma vez, mas o telefone toca de novo, impedindo ela de entrar forçadamente em meu quarto.
—Alô? Sim. Não, não é possível, isso não. Ela está passando muito mal, dê a ela outra chance por favor, eu imploro.
Então para, o telefone desliga, e ela parece começar a chorar, tento me levantar, mas não consigo e lágrimas brotam do meu rosto.
Antes que minha mãe possa vir mais uma vez tentar conversar comigo eu adormeço, meus olhos vão se fechando cada vez mais até eu apagar de vez.
Nos primeiros momentos é só um vazio, uma escuridão, não consigo imaginar em nada, não consigo sentir nada, só um corpo cansado, triste e exausto de tudo que não aguentou e se auto desligou de tudo e de todos.
Mas no segundo momento eu começo a sonhar, não sei como eu categorizaria isso, um sonho, um pesadelo, ou algo que aconteceu enquanto eu estava acordada, ou se eu já estava morta e nem sabia, só sei que não conseguia notar a clara diferença entre a realidade e a ficção.
O sonho começou comigo acordando.
—Onde, onde estou? —Olho em volta.
Estou em um barco, feito com uma madeira branca, linda e reluzente, e estou em um mar dourado, como se o ouro houvesse sido derretido e eu estivesse navegando nele liquido.
O lugar é vazio, tem árvores na costa do rio, e tudo é feito de ouro, e brilha, tanto que meus olhos ardem enquanto tento levantar.
O barco para na costa, parece que ele emperra em uma rocha e não consegue sair, aproveito a oportunidade e desço, estou descalça, na verdade somente agora fui ver minha roupa, eu estava sem calçados e com um fino vestido branco, meu cabelo loiro estava solto totalmente, fazendo uma grande cortina em meus ombros.
A sensação de pisar na terra daquele lugar era estranha, parecia areia, uma areia fria, mas mais densa, como massinha de modelar, e a claridade refletida na cor dourada era tão forte que eu não conseguia olhar por mais de trinta segundos que meus olhos ardiam muito.
Era como olhar para Amurah. A nossa estrela.
E falando nisso eu olhei para o céu, mas havia somente escuridão, e estrelas, como se eu estivesse vagando pelo espaço.
Eu não conseguia diferenciar a realidade da ficção, fiquei naquele lugar tentando entender o que era aquilo tudo, e o pior era que eu não percebia que era um sonho, mas acho que não era, tudo parecia tão real que não conseguia acreditar que era fruta da minha imaginação.
Mas, naquele lugar eu me sentia bem, me sentia em casa, um aconchego, uma tranquilidade, eu escutava pássaros e sentia um aroma agradável, por mais que não tivesse nenhuma dessas coisas lá, era algo inexplicável, uma sensação que só eu conseguia sentir, ouvir, ver, tudo.
Eu estava com fome, muita fome, olhei ao redor e a árvore mais próxima a mim estava seca, quando me aproximei mais ela se encheu de folhas, todas douradas e belas, desviei o olhar quando começou a arder, e então imaginei uma maçã, uma simples maça.
E a árvore me deu exatamente o que eu precisava, uma maçã, bem a aparência era uma maçã, e eu experimentei, não sei onde estava com a cabeça para comer algo daquele tipo, mas eu comi, e era tão gostoso, era como o melhor sabor que eu já havia sentido na minha vida. Que até aquele momento era torta de chocolate, e a maçã tinha exatamente aquele sabor.
Ela era dourada, brilhante, grande, maior que os frutos convencionais, e ela não tinha nenhum arranhão, nenhuma marca, comi uma, duas, e quando percebi eu já estava com cinquenta na barriga.
—Pare de comer querida. Seu corpo pode não aguentar e desintegrar.
Uma voz atrás de mim disse isto, eu não consegui me virar para ver quem era, acho que fiquei com medo, mas pouco a pouco fui girando e olhando.
A pessoa, se é que posso dizer assim era toda dourada, parecia uma estátua em ouro, seu corpo era estranho, ele era gordo, mas não tanto, e baixo, mas não tanto, ele tinha um rosto engraçado, era uma mistura de um ser humano com um animal, mas eu nunca havia visto aquele animal antes, não conseguia descrever, seus braços eram grandes, tocavam o chão, e com eles que ele tirou as maçãs das minhas mãos e as jogou no rio de ouro.
—As árvores de tudo podem ser atrativas, mas você rapidamente percebe que elas podem ser traiçoeiras para quem não as conhece.
As maçãs caíram no rio e desintegraram, como se fosse feito de ácido aquele líquido.
—Árvores de tudo? —Eu pergunto.
—Sim querida, junto com o rio do nada são atrações famosas dessa ilha. —Ele responde.
—O que? Rio do nada? —Pergunto de novo.
O homem, ou a criatura muda de aparência, seus braços continuam largos, mas suas pernas o acompanham, na verdade todo seu corpo, ele deixa de ser baixo e gordo para ser muito alto e esguio, seus dedos são gigantes, e percebo que tem mais três em cada mão.
—Sim! O rio do nada, as árvores de tudo, os frutos da saciedade, a terra do sentimento! Tudo querida, tudo está conectado.
—Entendi. —Eu respondo.
Mas eu não tinha entendido, nada, nem sequer uma palavra, e eu não conseguia questionar, nem perguntar quem era ele, parecia que eu estava em outra realidade da minha, outra existência, onde estava Ariel? Onde estava meu planeta Geb? O que estava acontecendo?
—Quer saber porque está aqui? —Ele disse.
Só consegui balançar a cabeça.
—Olhe para você mesmo. Me pediram para conversar com você!
Eu olhei para mim mesma, e eu estava preta, como as trevas, meus olhos, meu cabelo, minha pele, parecia que eu tinha nadado em piche, como eu havia sonhado várias vezes.
—Você precisa se libertar querida. Você é a luz da alvorada, tem que libertar a luz de dentro de você, afastar essa escuridão, antes que ela te consuma de uma vez por todas.
—O que? Quem é você? —Eu consegui dizer, as palavras só saíram da minha boca, como se fosse o momento certo.
Então a terra começou a me engolir, como se tivesse me sugando para o chão, meus pés sumiram junto com meu tronco rapidamente, tentei me debater mas nada.
—Não tente lutar querida, chegou a hora de você voltar.
—Voltar? Calma, você não me respondeu, quem é você? —Eu grito.
A terra engoliu meus braços, minha boca, só meus olhos ficaram de fora.
—Quem sou eu? Todo mundo sabe, você também, só que um dia você irá descobrir.
E então a terra me engoliu.

Ariel #1 (A Deusa perdida)Onde histórias criam vida. Descubra agora