"Traição"

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Traição não é algo que te deixa marcas fisicamente, mas é algo que marca sua alma, mente e coração. E quando ela vem da pessoa que você mais ama na vida é mil vezes pior. É uma morte lenta e dolorosa. Você pode demorar uma vida pra se recuperar, mas a cicatriz sempre vai existir, por que uma traição pode ser perdoada, mas jamais esquecida.

Outra coisa sobre a traição, é que ela sempre vai ser uma escolha, nunca algo que simplesmente acontece.

Era sobre isso que Tay pensava. Porque mais uma vez Time tinha escolhido lhe trair. Só que dessa vez não era com um desconhecido qualquer. Tem tava longe de ser um desconhecido. Ver os dois transando no seu apartamento, no seu sofá, ambos gemendo como se não houvesse amanhã era algo que iria lhe tirar o sono por um bom tempo. Não houve briga, lágrimas ou acusações. Havia apenas decepção e uma tristeza constante que já era amiga de Tay desde a primeira traição que descobriu. Por isso sair pela porta do apartamento sem olhar para trás foi fácil, ele sabia que mais cedo ou mais tarde isso acabaria acontecendo, era só uma questão de saber onde e com quem. Tay sempre soube que nunca iria parar. Mas talvez agora tenha chegado a hora de ele parar. Como dizia aquele ditado: antes tarde do que nunca.

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A vista daquele ponto era de tirar o fôlego, principalmente aquele horário. Duas da manhã. As luzes dos prédios e casas eram como um mar de estrelas na terra. A ponte Bhumibol sempre foi um lugar de reflexão para Tay. Ele amava sentar na grade de proteção, seus pés balançando ao vento cinquenta metros abaixo de si, exatamente como estava agora. A exceção era que ele tinha uma garrafa de Vodca barata na mão direita e o celular na esquerda tocando desesperadamente desde que saiu do apartamento mais cedo. Quase cem chamadas perdidas. Dessa vez Time parecia estar um "pouco" desesperado. Tay virou o último gole da Vodca e soltou a garrafa observando o momento em que ela atingiu o rio e sumiu nas águas escuras. Ele também queria sumir como aquela garrafa. Seria tão fácil, um simples impulso e tudo acabaria em segundos. Sem mais traições, humilhação, insegurança e dor constante. Cinco anos vivendo assim lhe pareciam ser o suficiente. Esse tipo de amor só o fez se esquecer de si próprio. Ele tava tão cansado. O celular tocou novamente e sem pensar duas vezes Tay o fez ter o mesmo destino que a garrafa.

- Seu celular não vai ter muita utilidade lá embaixo, uma pena, parecia ser um bom aparelho.

Bom, era aqui que a paz de Tay acabava e o precioso equilíbrio dele também. Uma virada rápida de corpo devido ao susto foi o bastante para se sentir caindo no vazio. No entanto, com a mesma rapidez que a sensação chegou, ela foi embora. Mãos e braços fortes o agarraram junto a grade de proteção numa velocidade impressionante. Seu coração saltava desespero em seu peito.

- Confesso que sou um ótimo nadador, mas mesmo eu pulando atrás de você, no fim seríamos apenas comida de peixe. Que tal parar de bancar o equilibrista e passar para o lado de cá?

Contrariando todas as opções de pessoas possíveis para aparecer naquele momento, era Vegas o segurando firmemente contra a grade. Um sorriso pequeno enfeitava suas feições. Vegas. O destino às vezes era maluco em suas escolhas.

Tay demorou um pouco para se recuperar do susto/surpresa. Seu coração ainda batia acelerado. E quando falou, optou pela ironia.

- Eu tô bêbado, mas tecnicamente foi você quem me assustou. Então a culpa da minha provável morte seria sua. - Vegas estava o ajudando a passar para o lado seguro da grade.

- Em minha defesa, essa não era a minha intenção.

- Também não era minha intenção ser salvo essa noite, muito menos por você. Mas já que quis bancar o herói, obrigado, de qualquer forma. - Ele rapidamente se desvencilhou dos braços e mãos que ainda o rodeavam. Vegas o olhou de cima a baixo antes de falar.

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