2. Coisas de destino

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Eu acredito em destino. Mas quem escolhe o resultado sou eu. Eu fui morar com o pai da minha filha e de cara percebi que ele não gostava de mim como dizia, pois ficava conversando com várias no celular, de forma romântica e erótica enquanto me desprezava dentro de casa. Eu limpava. Eu lavava. Eu arrumava. Eu apenas não cozinhava, esse era nosso trato, ele dizia gostar de cozinhar, então essa era a única função dele em casa. E claro, ele não queria cumprir, e quando fazia metia um arroz sem tempero com frango frito. Por que eu tinha que dar o meu melhor em tudo sendo o nível de mulher que sou a troco de menos que o mínimo? Isso nunca descia na goela. Bonita, inteligente, talentosa, batalhadora, parceira, gente boa pra caralho. Sendo traída por um prato mal feito? E quem disse que o ruim não pode piorar? Todos os dias eu tinha que ver ele empenhado apenas em passar horas jogando no notebook. Fechar a cara pro celular quando devia ter um tempo de qualidade comigo. Ele só se animava quando o rolê tinha terceiros, nunca foi por mim, era sempre pra ele. Quando tinha que ser pra mim ele relutava, enrolava, mas pra ele, resolvia na mesma hora. E claro, na hora de dormir queria que eu mostrasse amor. O amor que ele tava tendo chance de cativar e só jogou fora. Eu mobiliei a casa dele, com meu dinheiro e ele reclamava de eu estar gastando ao invés de pagar contas que ele fazia, por ele só tinha uma TV e a geladeira. No aniversário dele que eu fiz tudo, peguei conversas sexuais no celular dele, a postura que eu tive que manter pra não destruir tudo em frente os amigos dele foi a prova do quanto uma mulher pode ser forte. Levei a gestação sozinha, e a criação da Helena, e infelizmente tive que abrir mão de tudo pra tentar fazer ele abrir os olhos pra realidade. Parei de limpar a casa e cuidar da nossa filha pra ver a reação dele além de perguntar pra mim sobre as coisas. Um homem, UM HOMEM, mais velho que eu, maior e mais forte, como ele conseguia agir como um filho meu? E eu percebi que quando eu desisti de aceitar agir feito mãe dele, ele trouxe a mãe dele (juro) pra morar com a gente. Já era um plano dele, mas morando comigo as coisas tinham mudado, ele deveria ter me perguntado o que eu achava. Mas ele é o tipo que gosta de ser servido como criança, mas decidir como adulto sozinho e autossuficiente. Ai de quem se meta. E veio morar em um apartamento de 2 quartos e 1 banheiro, com sala e cozinha, a mãe, a irmã, o irmão, a esposa do irmão, a filha do irmão. Eu, Helena e ele. Enfim, piscianos. Nenhum caos é problema. E eu, virginiana, morrendo aos poucos. A mãe dele viu como eu já o tratava. E que eu não cuidava mais da casa nem da Helena, pra deixar ele sair do joguinho e acordar pra vida. Isso gerou uma má impressão nela, não julgo, mas julgo pela falta de visão. Afinal, olhar pra mim é mais fácil do que olhar pro filho dela e corrigir. E ela sabe o porquê. Ela não fez isso a vida toda, tanto que ele é como é e não muda. A irmã que foi muito coerente e minha amiga, foi se afastando aos poucos, pois a mãe começou a se incomodar comigo ao ponto de virar implicância. Achava que eu fazia as coisas pra provocar ela, eu as vezes ria de algo no celular e escutava ela falando: ela fica rindo debochando da minha cara, não suporto mais nem ouvir a voz dela. Ela me xingava, me afrontava DO NADA. Me humilhava. Me difamava pra qualquer pessoa. E como se já não bastasse o que o filho dela fazia comigo. Eu estava morando em um ninho de cobras. Quando eu somente queria ter tido uma família unida e feliz. Na primeira oportunidade eu sai de lá. A ansiedade de morar pela primeira vez sozinha com uma criança e a sensação de que não vai conseguir me fazia perder o sono todas as noites. E foi quando eu percebi que eu não estava sozinha, minhas corujinhas estavam comigo (são as pessoas que a internet me deu pra não desistir do amanhã).
De alguma forma, me afastar do pai da minha filha fez com que muita coisa se resolvesse, eu finalmente tinha minha casa limpa e arrumada, minha paz de espírito foi voltando, tive forças pra trabalhar e meu ânimo de viver foi surgindo novamente. Foi quando me senti pronta pra iniciar novos ciclos. Ele ficou mais próximo de mim emocionalmente, como amigos, a gente brincava e sorria e se ajudava pra tudo, eu realmente acreditei que era a coisa certa. E decidi baixar o Tinder.
Baixei, fiz uma bio e coloquei algumas fotos, e fui beeeeem seletiva com cada envolvido, uma semana sem mandar "oi" eu desfazia o match. Pode ser um homem muito lindo. Mas eu não tô procurando enfeite. Dentre todos, um se destacou, chamaremos ele de "P". Quem me acompanha em outras redes sociais vai lembrar dele. Era leonino, já fiquei desconfiada que não daria certo. Mas ele parecia tão desconstruído socialmente e bonzinho, dengoso, estudioso, era um padrão de beleza que me lembrava as pessoas antigas, e ao mesmo tempo tão atual, eu simplesmente tentei de todas as formas fazer aquele crush virar realidade, mas depois de tanto marcar o date e furar, eu comecei a perceber que se ele tinha tempo pra tudo menos pra mim, ele não era o que eu queria. Outra coisa sobre o signo de virgem: THANK YOU, NEXT. Eu não sofro por homem, se não é o que eu tô procurando, é como uma peça de roupa que não me serve, é só acúmulo, doa pra quem precisa. E deseja felicidades pois gente feliz não enche o saco. Eu tinha deixado de responder de forma interativa aos outros enquanto eu conversava com o P. Respondia por educação, mas quando desencanei, resolvi mandar "boa noite" para os candidatos do banco reserva. Chamo isso carinhosamente de repescagem. Todos responderam, e eu olhei a conversa acima de cada um. Alguns eram muito desinteressantes, não tinham uma demonstração de interesse em me conhecer, e outros nem sabiam desenrolar a conversa. E foi quando percebi que um deles se destacava, vamos chamar ele de "W", ele interagia com tudo que eu postava, de forma gentil e engraçada, flertando sem sentido sexual, até lia meu livro "Black Way" aqui no Wattpad, sua primeira mensagem foi 17 de março, e desde então acompanhava minhas loucuras nos stories do Instagram e quando eu fui ver as fotos, era exatamente o padrão de beleza que eu pedi na minha listinha do varão (aquela listinha que a gente faz quando se converte e ora pra Deus enviar pra gente kkkkkkk). Bom, pelo menos em aparência, e daí eu pensei: gente, como que eu não notei este boy antes? Kkkkkk super investi. E super rendeu. Altas conversas, até que um dia eu estava fazendo live de ASMR no Tiktok, quando a gente marcou de se conhecer. Ele estava em um rolê e de lá veio pra minha casa, que loucura, exatamente 3:33 da madrugada de 9 de abril ele chegou na minha casa. Quando eu subi pra ver ele, ele parecia um adolescente, magro, roupas casual-esportivo, estava cheiroso e com hálito de álcool, ele me abraçou como um amigo que eu não via há tempos, e eu perguntei se ele aceitava gravar Tiktok comigo, e ele nem pensou duas vezes e disse: VAMO! Com um sorriso lindo e animador. Ali eu percebi que a gente se daria muito bem, e que poderia receber ele em casa, que não seria um clima ruim de quando o cara te pressiona a algo. E foi dito e certo. A gente gravou dancinha, ele se saiu muito bem pra uma primeira vez, meu público amou e já estavam à mil querendo saber quem era o novo crush. E que casalzão lindo a gente formou. Super combinava. Depois dos vídeos (desenrola, bate, joga de ladinho) a gente sentou um em cada canto da cama, ele ficou bem à vontade e eu também, conversamos sobre tudo, TUDO, eu quase posso dizer que já conhecia ele muito bem de tanto assunto que tivemos, e ríamos, e eu nunca me senti tão bem na presença de um boy, muito menos assim na primeira vez que o vejo, sentia como se a gente já se conhecesse há anos, porque ele já me acompanhava nas redes sociais e ao invés de me julgar como louca, ele gostava exatamente da minha loucura, e quando ele me contava as histórias dele, eu conseguia sentir como se eu tivesse presenciado tudo de perto, uma empatia, uma conexão de milhões. A gente tinha as mesmas ideias, a mesma sintonia caótica, o mesmo humor quebrado, a mesma vibe... até que ele me chamou pra deitar perto dele... bom, nessa altura ele já tinha de alguma forma mágica feito o que ninguém jamais fez em toda minha vida: se adequado aos princípios da minha seletividade, ganhado minha confiança e meu interesse (anotem BEM esses 3 itens). E quando eu deitei em seu colo, foi como a peça que faltava, o cheiro, a maciez e temperatura, mas foi genuíno, não teve malícia, era como se ele já fosse de casa. A suavidade e precisão do toque dele ao me fazer carinho, o local onde ele acariciava, eram exatamente os que eu preferia, braço, mãos, rosto e cabelos, e como ele sabia? Eu sou cheia de não-me-toques. Eu me virei de lado pra apoiar o celular na cama, e ele virou a conchinha maior, estávamos falando sobre assuntos pessoais do nosso passado e eu mostrei pra ele um dos rapazes que eu já fiquei enquanto contava um enredo sobre meu passado, e daí entramos no assunto sexual, eu estava à vontade pra falar, já que não tinha malícia e sim apenas fofocas, trocas de informações, nos conhecendo 100%. O problema foi quando eu fiquei demais à vontade, e mostrei um vídeo íntimo que virou a chave do cenário meigo. O homem suspirou, apertou minha cintura com uma pegada que eu já arrepiei, se encostou em mim e eu senti que ele tava excitado, ele disse:

W: Meu Deus! Eu nem vim pensando em querer fazer nada, mas depois desse vídeo me deu vontade...

Eu: Eu também.

Ele desceu a mão da cintura pra minha saia, e me tocou por cima da calcinha com uma exatidão que me fez pensar: ai, ai, pretinho, cheiroso, delicado, e pelo visto sabe o que tá fazendo, é... VAI ROLAR.

A Deusa do TinderOnde histórias criam vida. Descubra agora