Cap 20 - É culpa minha

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Qi Rong esperou até que a respiração de Lang Qianqiu se tornasse estável para só então sair cuidadosamente de seu abraço e levantar. Ele vestiu suas roupas e ajustou a aparência. Voltou-se para cama onde esteve emaranhado com aquele homem há apenas alguns momentos atrás e deu uma última olhada nele.

Ele relembrou o que Lang Qianqiu havia lhe dito antes de adormecer e sentiu um calafrio descer por sua espinha. 'Amor' como alguém poderia se sentir assim em relação a alguém como ele?! Guzi tudo bem, ele era uma criança ingênua, mas Lang Qianqiu... Qi Rong fez uma careta e não se estendeu em seus pensamentos. Ele virou-se, mas antes que desse um passo para se afastar, uma mão segurou seu pulso.

"Onde você vai a essa hora?" Lang Qianqiu sentou-se e encarou sua silhueta misturada a escuridão.

"Embora." Qi Rong disse, balançando o braço para se libertar, mas o aperto só se tornou mais forte.

"Pra onde?" Lang Qianqiu indagou.

"Não te interessa." Qi Rong respondeu com frieza. "Eu consegui enganar você e cultivar meu próprio núcleo. Eu não preciso mais que você me alimente. Eu finalmente estou livre."

"Do que você está falando?" Lang Qianqiu levantou e lhe segurou os ombros. Qi Rong havia acendido uma pequena vela antes e através do fraco brilho, Lang Qianqiu pôde encarar seus olhos frios. Ele sentiu seu peito apertar. "Você está brincando, não é?"

"Se você não acredita em mim, quando você voltar pra casa, olhe no meu quarto. Você vai achar vários livros de encantamento que eu peguei com o Chuva de Sangue." Qi Rong abriu um sorriso maldoso. "Acorde, você foi enfeitiçado por mim! Seus sentimentos são todos falsos!" Ele mentiu.

Lang Qianqiu soltou seus ombros. Ele estava confuso e não podia dizer se Qi Rong o estava enganando ou não. "Mas... mas... você não pode ir assim! Tudo que a gente viveu, as noites que nós passamos juntos... elas foram reais pra mim... elas não significaram nada pra você?" Ele apelou vendo o sorriso de escárnio no outro murchar.

"Significar alguma coisa?! Eu nunca disse a você como eu morri? Eu tive minha dignidade roubada por um bando de cães no cio que eram exatamente como você! Meu último suspiro foi debaixo de um porco asqueroso! Eu ainda posso sentir suas respirações nojentas sempre que eu fecho os olhos." Quando Qi Rong falou as lágrimas brotaram no canto de seus olhos, cheio de mágoa e ressentimento. "Você sabe o horror que eu tive que suportar toda vez que eu me deitava com você?!"

Lang Qianqiu deu um passo atrás. Então era por isso. Ele pensou como todas as reações de Qi Rong agora faziam sentido. Era por isso. Ele de repente sentiu um pesado sentimento de culpa cair sobre seus ombros. Ele o intimidou e deleitou-se com seu pranto, mesmo quando Qi Rong estava tremendo de medo. Que tipo de homem era ele?!

Ele não teve mais forças para continuar argumentando e assistiu em silêncio Qi Rong cruzar a porta e deixar sua vida.

Quando Guzi acordou na manhã seguinte, ele encontrou uma carta na caligrafia garranchosa e desleixada de seu pai. Ela dizia para que ele fosse um bom menino e ficasse com Lang Qianqiu. Que ele não havia sido um bom pai de qualquer forma e que não seria bom para seu futuro continuar seguindo um fantasma vulgar como ele.

Guzi não entendeu. Eles estavam tão bem até ontem, por que seu pai iria embora tão de repente? Ele correu até o quarto de Qi Rong e viu Lang Qianqiu sentado do lado de fora sob os beirais enquanto lançava um olhar vazio ao pequeno pote de rouge que ele segurava na mão. Ele ergueu a cabeça ao vê-lo e sua expressão se tornou pesarosa.

Houve um momento de silêncio e então Guzi correu ao seu encontro. Ele enterrou o rosto em seu peito e chorou copiosamente. Lang Qianqiu acariciou sua pequena cabeça e o apertou entre os braços. "É tudo culpa minha. Eu sinto muito, Zi-er. Eu... eu não sou capaz de trazê-lo de volta dessa vez."

...

Mesmo depois de dias e de eles terem voltado para casa, Guzi não havia se conformado com a partida de seu pai. Seu mestre também estava muito deprimido e passava o dia inteiro encarando o vazio enquanto brincava com aquele potinho de maquiagem. Ele não podia insistir para que Lang Qianqiu fizesse alguma coisa, mas ainda podia pedir ajuda ao seu Lian-gege.

Ele havia mandado uma mensagem para Xie Lian há alguns dias e estava esperando ansiosamente por sua resposta, quando um pequeno envelope lhe foi entregue por um servo. Havia uma pequena carta e um par de dados dentro dele. Ela dizia apenas para jogar os dados perto de uma porta e prometia que ele seria capaz de encontrar seu pai do outro lado.

Guzi não hesitou nem por um segundo antes de jogar ansiosamente os dados próximo a porta de seu quarto. Ele a abriu vagarosamente e deu uma espiada. Não havia mais o corredor da mansão do outro lado e sim o interior de uma caverna escura. Ele guardou os dados no bolso e olhou em volta. A cúpula da caverna era altíssima no ponto em que ele estava e parecia um enorme salão de pedra. Ele sentiu alguma familiaridade com aquele local, mas não sabia exatamente onde estava.

Aquele grande espaço estava vazio e seus passos faziam um eco assustadoramente alto. Ele viu, não muito longe, um grande trono de pedra e uma pessoa sentada nele em uma postura preguiçosa. "PAI" ele gritou e correu. Só então aquela pessoa levantou a cabeça. Levou algum tempo para que Qi Rong reagisse.

Ele levantou-se surpreso ao vê-lo ali e olhou para além de Guzi, mas não viu ninguém o acompanhando. Um leve desapontamento brotou em seu coração e ele sentou-se novamente. "O que você está fazendo aqui, eu não disse pra você ficar com seu mestre?!" Qi Rong questionou. Guzi ofegou ao finalmente alcançá-lo. Ele se expremeu no trono com ele.

"Eu sei, mas eu senti saudades do papai. Por que o papai não volta comigo? O mestre tem estado deprimido por todos esses dias." Guzi apelou enquanto o abraçava. Qi Rong abriu um pequeno sorriso de escárnio. Ele havia se esforçado tanto para ir embora, como ele poderia simplesmente voltar atrás?!

"Esqueça, eu não posso voltar. Seu mestre está melhor sem mim. Todo mundo está melhor sem mim." Ele disse.

"Isso não é verdade! Até as tias da cozinha e o vovô Li sentem a sua falta!" Guzi contestou. "O mestre passa o dia todo com um olhar vazio segurando aquele rouge." Ele contou, mas Qi Rong o ignorou. Ele soltou um suspiro e de repente uma ideia brotou em sua cabeça. "E ele disse... disse que desafiaria Lian-gege para um duelo de vida ou morte."

Qi Rong finalmente reagiu, mas ainda evitou seu olhar enquanto perguntava em dúvida. "Não foi o primo Lian quem derrotou o Imperador com as próprias mãos antes? E ainda há o Chuva de Sangue ao lado dele. Mesmo que Qianqiu ganhasse, qual seria a chance de sair vivo disso? Por que ele enlouqueceu de repente?"

"Ele disse que não importa o resultado, porque... ele não tem mais pelo que continuar vivendo." Seu pequeno teatro dramático pareceu fazer algum efeito em Qi Rong, já que ele se levantou em um impulso. Sua expressão era instável e hesitante. Guzi então acrescentou. "Você precisa voltar e convencê-lo a desistir!"

....

XL: O que que eu tenho a ver com isso?

GZ: foi mal, gege

The devil's love - QiuRongOnde histórias criam vida. Descubra agora