Prólogo

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As pernas curtas de Pérola não conseguiriam correr por muito tempo e, mesmo que fizessem, não seriam rápidas o suficiente em comparação aos homens que pareciam ser rígidos por uma raiva tão concreta que, facilmente, poderia ser cortada por uma das espadas que carregavam pela rua de terra batida.

Apesar da visão incrivelmente adorável da menina esforçando-se para acompanhar os passos apressados, era notório que não chegariam muito longe nesse ritmo, e isso fez com que sua mãe pegasse-a nos braços.

Mãozinhas fofas como pães seguravam firmemente um coelho de pelúcia que nunca recebeu um nome e, quanto mais distanciavam-se, mais agarrava-se não somente ao bichinho, quanto também à sua mãe.

Enquanto tentava desviar das pessoas e carroças, Marina — mãe de Pérola — viu-se diante de um caminho cada vez mais difícil e não demoraria para que começassem abrir passagem para os oficiais, mesmo que ninguém soubesse o real motivo de estarem ali. Não seria bom ter os impostos aumentados ou a cabeça em uma cesta.

Ao seu lado, as barracas de frutas coloridas chamaram atenção, principalmente a barraca de maçãs caramelizadas que ambas comiam quando economizavam durante o mês e, passando pela esquina, Marina acabou notando um casarão que surgia no final da rua ao lado, protegido por um muro não tão alto quanto deveria ser para o lugar tão grande.

Ninguém saía ou entrava, era a oportunidade perfeita de esconder-se. Pegando a garotinha pela cintura, apoiou-a no muro sentada enquanto utilizava um caixote de madeira para erguer-se. Pulando para o outro lado, levando consigo Pérola, a mulher atentou-se ao redor. Realmente, aquela casa não era protegida o suficiente.

— Mamãe, o que estamos fazendo? — perguntou Pérola, curiosa.

— Estamos brincando de esconder, meu amor. — disse Marina, tentando disfarçar o medo. — É um jogo muito divertido, mas temos que ficar em silêncio, está bem?

— Está bem, mamãe. — disse Pérola, sorrindo. — Eu gosto de brincar de esconder.

Cochichos aos fundos foram passados despercebidos pela criança, porém não por sua mãe. A única opção era entrar na primeira porta que encontrassem e, arrastando a pequena pelos braços, elas puderam esconder-se em um cômodo à parte.

Se não fosse por duas janelas pequenas e minúsculas frestas na madeira, seria quase impossível ver o sorriso divertido que a garotinha exibia.

— Mamãe, onde estamos? — perguntou Pérola, olhando em volta.

— Estamos em um lugar seguro, minha filha. — disse Marina, abraçando-a. — Aqui ninguém vai nos achar.

Mesmo tapando a boca com as mãozinhas, sua mãe ainda podia ver o sorriso familiar pelos olhos curiosos. Pérola logo sentou-se perto de uma sacola de grãos de milho, apoiando a cabeça em algo macio que havia ali, entretanto não lembrava de um travesseiro fofinho ou algo parecido, já que mexia sem que ela fizesse esforço.

Parada da mesma posição, a pequena tentou de várias maneiras chamar a atenção da mãe, que fitava qualquer vestígio de alguém que poderia descobri-las ali.

Levantando a cabeça devagar e virando para observar o que seria a almofada peculiar, sua expressão mudou de assustada para encantada em questão de segundos.

Reino sem Coroa - Song Mingi Version [Em Andamento]Onde histórias criam vida. Descubra agora