Capítulo 1

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A brisa brincava enquanto as folhas decoravam o chão da vila de Arco Dourado. Algumas crianças soltavam pipas aproveitando o clima e outras faziam brinquedos de madeira perto das macieiras. Ouvia-se facilmente as risadas infantis e o tilintar dos pequenos sinos que adornavam alguns brinquedos e pulseiras.

Não muito afastado dali, ouvia-se o barulho da carroça na estrada de terra. Mãos de uma curiosa apontava para tudo que julgava diferente e questionava mais ainda para suas tias e sua mãe que apesar de admirar sua esperteza, às vezes era difícil responder suas milhares de perguntas.

— Pérola, quando chegarmos, não esqueça de olhar nos olhos e cumprimentar a todos — disse sua mãe arrumando uma mecha perdida seu cabelo encaracolado.

— Sim, mãe — respondeu ainda prestando atenção nas pipas coloridas. — Mãe! Mamãe! Olha, mãezinha! Parecem passarinhos.

— São bonitas, não são? — sorriu contida. — Que tal fazer alguma mais tarde?

— Podemos? — perguntou com o brilho nos olhos que puxou de sua mãe.

— Claro, Lala — afirmou sua tia Diantha.

Assim que chegaram na feira da vila, puderam vislumbrar-se das infinitas cores de seda e pequenos adereços. Apesar da maioria ali presente serem adultos, algumas crianças passaram entre as pessoas correndo em direção ao morro brincando com bonecos ou de pique.

Enquanto as outras faziam seus trabalhos, Pérola andava com Iliana, sua irmã mais velha de consideração. Não era a primeira vez que ela vinha para a vila e a empolgação para mostrar tudo para a mais nova tomou conta.

Explorando e descobrindo o lugar, Pérola logo notou os papagaios em cores e sons suaves vindo do monte. Faltavam algumas horas até o pôr do sol, já haviam pegado os materiais para montar seu próprio brinquedo e então a garotinha indagou animada:

— Ana, podemos ir lá também? — Apontou para a criançada e a outra mão puxou a barra da saia de Iliana.

— Claro. Vamos, Lala.

Pérola era uma falante por natureza e gentil demais para não fazer amizade de maneira fácil. Com a ajuda de sua irmã— e de alguns pentelhos — a pipa com formato de passarinho logo foi feita com a brisa fresca que ajudou para que secasse ainda mais rápido. Alguns dedinhos estavam com papéis grudados e nem mesmo o cabelo loiro de Iliana saiu ileso.

A garotinha pegou o carretel cheio de linha e sua irmã distanciou-se com a pipa em mãos. Nas primeiras tentativas o brinquedo não fez grande voo, parecia mais um passarinho filhote tentando voar. Apesar da insistência, a dificuldade era maior do que se era permitido para um pingo de gente.

— Quer ajuda? — Uma voz infantil perguntou.

Vendo ser um garotinho com idade próxima à sua, a pequena somente assentiu um pouco envergonhada por não conseguir. Após entregar o objeto para a mão dele com receio, notou que o garoto sorria a ponto de mostrar que seu dente tinha recém caído e seus olhos formavam uma meia-lua.

— Tem um jeito mais fácil — contou ele. — Você só tem que correr e ir soltando a linha.

Pérola pensou um pouco no que lhe foi-lhe dito. O menino logo viu que uma das crianças estava fazendo exatamente o que havia explicado e apontou para a direção da outra criança.

— Olha — apontou mais uma vez. — Daquele jeito.

A menina tentou mais uma vez e outra, mais outra... Quando conseguiu, a alegria era aparente. Sua pipa colorida destacava-se no céu azul e limpo, assim como seu sorriso genuíno. Após mais algumas brincadeiras, não notaram o tempo passar até os primeiros raios alaranjados serem formados colorindo o morro.

Reino sem Coroa - Song Mingi Version [Em Andamento]Onde histórias criam vida. Descubra agora