4 - Ethan

70 23 5
                                    

Depois que nós comemos, Thomas se desculpou e explicou que hoje ele precisaria ir até sua empresa e terminar os últimos preparativos para que pudesse se afastar pelas próximas semanas. Por mim tudo bem, estou tão acostumado a estar sempre sozinho, que aproveito esse tempo para explorar o lugar. A principal impressão que tenho é de que Thomas tem um gosto excelente, embora talvez um pouco suave demais para o meu gosto. Muitas cores claras em todos os cômodos, se fosse pelo meu gosto haveria mais tons fortes aqui e ali, dando mais vida. Mas a julgar por sua postura ele era certinho demais para permitir que algo como um vermelho vivo ou um roxo destoassem do perfeito equilíbrio de creme e azul claro ao seu redor. Isso acaba sendo mais divertido do que eu esperava, e rio sozinho enquanto observo tudo. Impecavelmente limpo, uma surpresa se for levar em conta que ele disse que não há ninguém cuidando da casa para ele no momento.

É começo da tarde, e depois de fazer hora pela casa, gastar um bom tempo na biblioteca - que é maravilhosa, composta por uma variedade incrível de títulos, edições de colecionador, e versões de algumas obras em vários idiomas - e comer qualquer coisa de almoço, estou entediado. Num dia normal eu estaria no meu emprego de meio período, atendendo num café perto de casa, mas pedi as contas hoje pela manhã, já que não tinha como manter a minha vaga por vinte e um dias de ausência.

Como se na deixa meu celular vibra, e vejo uma mensagem de Patrick na tela.

'Tudo certo por aí? O que o cara de ontem queria?'

Eu e ele sempre fomos amigos, mas nos aproximamos ainda quando o ajudei com a adaptação de seu filhinho, que a mãe simplesmente decidiu que estava dando muito gasto e trabalho, e então o entregou ao pai. Agora Patt era meu melhor amigo, e eu me tornei o Tio Ethan de Ryan.

'Sim, estou vivo ainda. Mas morrendo de tédio. Onde é que você está?'

Vou até o quarto e mexo na minha mala enquanto espero por sua resposta, pegando uma blusa um pouco mais quente que a camisa fina que estou usando. Eu a escolhi porque sabia que ficava bem com ela, e queria ter uma aparência boa hoje, quando chegasse aqui. Pela expressão que Thomas tinha quando eu desmontei de Sandie, acho que consegui.

'MC com o R. Vai vir?'

Ótimo. Respondo que estarei lá em vinte minutos, e vou pegar minha jaqueta e as chaves.

****

Guiar Sandie é sempre um prazer, e mais de uma vez senti vontade de fazer o mesmo que meu pai fez quando tinha minha idade, e largar tudo e sair pelo país montado nela, uma muda de roupa na mochila e só. Mas quando lembro do que decidi que seria minha missão de vida, essa vontade passa.

Entro no McDonald's e paro, procurando pela mesa dos dois, e quando uma mãozinha sobe e balança com empolgação, vou sorrindo até onde eles estão. O lugar não está muito cheio, talvez por estar começando a esfriar e as pessoas tenderem a preferir ficar em casa. É bom, mais tranquilo que a loucura do auge do verão, com famílias inteiras vindo atrás de seu milkshake para aliviar um pouco do calor.

— Tio Ethan! — Ryan exclama, e vem correndo me encontrar.

Ele tem quatro anos, cabelos pretos, sardas e os dois olhos cinzentos mais lindos que eu já vi.

— Hey, campeão, como é que você está hoje? — Essa é a nossa brincadeira, e sei como ele vai responder.

— Estou bem, obrigado. — Ainda assim é adorável com ele sorri.

— E essa janela?! — Finjo surpresa ao ver a falha nova em seus dentes da frente.

Carrego-o comigo e me sento em frente ao seu pai. Que é meu exato oposto. Pele um pouco azeitonada, cabelos curtíssimos, com os olhos cinzas que Ryan herdou, ele é muito bonito, mas tem sempre esse ar de preocupação, que não some, mesmo que eu diga sempre o excelente trabalho que ele tem feito como pai.

ESPERE POR MIM Romance homo +18Onde histórias criam vida. Descubra agora