3 - Thomas

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Embora eu tivesse planejado trazer o acompanhante que eu acabaria contratando ontem à noite mesmo, Ethan pediu para me encontrar aqui em casa pela manhã. São quase oito horas, e estou na garagem do prédio, recostado no meu carro, esperando que ele chegue.

Relembrando a nossa conversa, sinto que meus planos vão dar certo. Gostei dele, e acho que vamos conseguir passar a imagem correta, quando encontrarmos com a minha família.
Lembro do olhar de Ethan quando enfim entendeu o porquê de eu contratá-lo, o sorriso largo e branco combinando com sua pele lisa e perfeita. Seus traços suaves, os lábios cheios, tomam meus pensamentos mais uma vez, e não consigo evitar sorrir, satisfeito. Ele é lindo, e parece gritar 'sexo'. Vai ser divertido ver como meus parentes homofóbicos e preconceituosos reagirão.

Todos os pensamentos coerentes são soprados da minha mente quando a porta da garagem se abre, e uma Harley preta reluzente desliza para dentro. Digo desliza, porque ela praticamente não faz barulho, como se estivesse sobre um tapete de veludo. O tanque em formato de lágrima, com o logo em alto relevo prende meus olhos por um instante, mas então eu presto atenção no condutor. Luvas de couro com os dedos cortados, jeans pretos, jaqueta de couro, e uma camisa de um tom de roxo profundo, contrastando com o pescoço esguio de pele cor de creme. O capacete é preto e sem adornos, e o quadro geral é tão bonito, que eu apenas espero que ele estacione e venha até mim.

O principal motivo para eu tê-lo escolhido na noite anterior, era porque ele não era meu tipo, de jeito nenhum. Todos os parceiros e namorados que eu cheguei a ter geralmente vinham embalados num terno que rivalizava com o meu, podiam listar todos os restaurantes seis estrelas do estado, e uma plaquinha escrito 'cuidado, frágil'. E eu gostava deles assim. Mas Ethan Foster era todo grande, com músculos longos e flexíveis, olhos de uma cor deslumbrante, num tom indefinido entre cinza, azul esverdeado e âmbar, e cabelos pretos e lisos, presos num coque masculino, um pouco desgrenhado, e sem dúvida fora dos padrões. Um homem deslumbrante, mas que em tese não deveria despertar nada demais em mim.

Ele tira o capacete, desmonta e pega uma mala amarrada na parte de trás da moto, e então se aproxima. Nós fazemos um contraste interessante, e eu gosto disso. Olho o relógio e vejo que são exatamente oito horas. Pontual. Perfeito.

— Bela moto. — Elogio, lançando mais um olhar para ela.

— É a Sandie. Herança de família. — Diz com um sorriso, e passa por mim, indo para o elevador.

O espaço fechado me faz consciente da nossa proximidade, e o olho pelo espelho das paredes, e ele me encara de volta. O clima muda, ficando carregado, e fico quase satisfeito ao ver como Ethan engole em seco. Um pequeno sorriso involuntário curva o canto da minha boca, mas antes que possamos falar, ou fazer qualquer coisa, o elevador para, e outros moradores entram. Um casal de meia idade, um andar abaixo do meu.

Continuamos subindo, e eu começo a repassar meus planos para o dia, mas então sinto quando ele chega perto de mim, tão perto que nossos braços se tocam. E então se curva na minha direção, murmurando contra o meu ouvido.

— Espero que você não pretenda ficar todo estoico e calado ao meu redor, senão não daremos um show convincente. — O seu tom é divertido, mas também um pouco desafiador.

— Apenas tentando não chocar a vizinhança. — Retruco, erguendo os olhos para os dele, nossos rostos ficando a milímetros de distância. A ousadia provavelmente veio do punhado de arrepios que se espalharam pelo meu corpo com sua respiração quente no meu pescoço, ou com o cheiro delicioso de sua loção pós barba. Normalmente sou bastante discreto com qualquer tipo de demonstração de intimidade em público, por menor que a audiência seja. Mas tudo em Ethan grita desafio, como se cada palavra, ação e respiração dele me chamasse para ser rebelde também. Uma forma quase perigosa de reagir a alguém que estará ao meu lado enquanto estivermos cercados por uma família extremamente conservadora – bastante hipócrita, também.

ESPERE POR MIM Romance homo +18Onde histórias criam vida. Descubra agora