três

94 20 16
                                    

Track suit and a ponytail

You hide the body all that yoga gave you

Red wine and a ginger ale

But you would make fun of me for sure


Eu nunca vou esquecer o dia 23 de Outubro. Foi o dia em que tive que fazer a escolha mais difícil e também o dia em que percebi o quanto a amava. Vai ser difícil explicar sem que eu seja visto como um completo idiota, mas a situação era a mesma de estar em um trem em movimento e ter apenas duas escolhas: pular ou seguir viagem.

E eu simplesmente não podia pular de um trem em movimento, por mais que eu quisesse muito. A única coisa que eu fiz foi assistir ela desaparecer enquanto o maldito trem ganhava velocidade.

Era uma tarde gostosa de fim de verão, tive que sair para resolver umas coisas com os meninos a respeito do lugar onde íamos nos apresentar naquela noite e deixei Caroline em casa, dormindo. Não duvido que ela esteja exatamente onde a deixei quando saí.

Caroline, cadê você? — grito pela casa assim que entro e por um momento não tenho resposta alguma.

Estou carregando as correspondências que peguei na caixa de correios, passando uma a uma, conferindo se há algo importante.

Caroline? — a chamo mais uma vez e logo depois sinto minha espinha gelar.

Uma das cartas que recebi era de uma gravadora dos Estados Unidos que eu tinha feito contato alguns dias atrás e enviado nossa demo, em busca de uma possível chance de sermos alguém no mundo da música. Engulo seco e deixo os outros papéis em cima da mesa de centro da sala, enquanto tento, sem sucesso, abrir o envelope ao mesmo tempo.

Passo meus olhos rapidamente pelas palavras e sinto meu coração se acelerar.

Eles querem nos conhecer. Puta merda. Eles querem mesmo nos conhecer.

Nem percebo que estou sorrindo até ouvir um barulho do outro lado do corredor.

Calum, é você que está aí? — a voz adocicada dela pergunta com incerteza.

Coloco o papel de novo no envelope e o escondo em um dos bolsos. Agora não é o momento pra falar disso com ela.

Sim, onde você está? — pergunto de volta, caminhando em direção a voz.

Na banheira...

Quando chego lá, não consigo evitar de sorrir. Caroline está imersa em uma nuvem de espuma sorrindo também.

Eu não sabia que você estava tentando criar um portal com tanta espuma — digo no meio de uma risada.

Em minha defesa, eu só queria ficar cheirosa pra você! Não sei em que ponto as coisas saíram do controle.

Passamos alguns minutos conversando. Ela me perguntou como tinha sido os preparativos, como estava o tempo lá fora e em nenhum momento consegui dizer a ela que a carta que eu tanto estava esperando finalmente tinha chego. Precisava de mais um tempo disso. De nós. Porque eu sei a reação que ela vai ter quando souber e não estou pronto pra isso.

Você devia ler um pouco pra mim, aproveitando que está aí, sem fazer nada — ela comenta, fazendo aquela cara de quem sabe que vai vencer no argumento. — Igual naqueles filmes, tipo Uma linda mulher...

Me levanto e vou até o quarto procurar o livro. Observo o ambiente por um momento e sinto meu coração se apertar de novo. Eu já era bagunceiro por natureza, mas algo na bagunça que ela fazia deixava sua marca por onde quer que passasse. Há algumas camisetas minhas empilhadas perto das suas botas favoritas, os livros empilhados por todos os lugares, em cima da cômoda, da escrivaninha, no chão ao lado da cama. Ela estava por toda parte.

little freak | cthOnde histórias criam vida. Descubra agora