Capítulo II

336 46 147
                                    


O ar congelante, mas agradável tocou meu rosto assim que saí da cabine do grande barco. Nele, havia apenas o capitão e dois auxiliares da equipe marítima. Era uma viagem quase solitária e me ajudou um pouco a refletir sobre o que estava prestes a fazer e de todos os porquês que era minha melhor escolha fazer aquela escolha exata.

A viagem não foi tão longa, apenas para cruzar o estreito oceânico do Chile até ali, onde outro barco, esse da família ao qual estava entrando, nos receberia.

Sim, nos receberia, afinal não fui a única escolhida, afinal.

— É lindo e impressionante toda essa paisagem...

Olhos verdes, que agora eu sabia se chamar Ian, disse ao chegar do meu lado.

Não tivemos muito tempo para conversar, afinal a viagem foi tumultuada até o barco e no barco eu estava tão cansada que só quis ir para a cabine dormir. Trocamos algumas palavras de como foi surpreendente sermos os dois e o motivo de sermos dois foi respondido para nós nos últimos instantes da 'entrevista', quando a mulher que finamente soubemos o nome, Valarys, veio a nós, os únicos restantes:

— Ficaram empatados em todos os quesitos e sendo assim, depois de uma reflexão, decidi enviar ambos. A escolha final será feita por seu próprio empregador. Desejo boa sorte.

E foi assim que fomos levados para um aeroporto particular, colocados dentro de um avião e enviados para o polo sul. Eu não tinha a quem me despedir, mas aquele poderia não ter sido o caso de Ian... E, contudo, foi assim.

Simples, prático e sem direitos a remorso ou desistência final.

— E também um pouco assustador.

— Tudo que vale a pena geralmente é assim. Belo e assustador.

Ian parecia ter resposta para muitas coisas e de fato me intrigava ainda mais, afinal, o que o levava até aquele ponto? Ele era jovem, não mais que vinte e cinco anos, certeza, e muito bonito. Ele precisava daquilo de verdade?

Eu estaria sendo muito supérflua sobre seus motivos sendo que os meus também eram egoístas?

— Sabe, eu ainda não sei seu nome e aparentemente vamos viver próximos agora, seja eu ou você que se tornar a propriedade desses três homens, tenho certeza de que o outro ainda viverá por lá, então...

Ele fez aquela pausa com um sorriso quase fofo e eu acabei rindo baixo, mesmo contra a vontade:

— Em uma disputa entre nós dois, você ganharia por simpatia...

— E você pelo olhar de misteriosa. Estamos mesmo empatados.

— Me chamo Elandra, sou do México.

— Ian, sou da Colômbia.

— Você me disse seu nome quando nos mandaram para outra sala depois da entrevista individual, lembra?

— Ah é, eu estava um pouco nervoso naquele momento. Aquela mulher é muito intimidante.

Ele fingiu estremecer e rolou os olhos, eu ri de novo e assenti:

— Acho que é um talento natural de recrutadores.

— Consortes, voltem para a cabine ou vão congelar aí fora. Em pouco tempo a embarcação marítima da região virá nos encontrar, até lá, fiquem em local quente.

Um dos marujos disse sério. Nos olhamos percebendo que sim, já tremíamos àquela altura. Voltamos em um clima amigável e ele entrou na minha cabine esfregando um pouco os braços:

O acordoOnde histórias criam vida. Descubra agora