Capítulo III

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Caminhamos por um longo caminho de mosaicos em pedra polida no chão e construções elegantes ao redor. Pessoas transitavam para lá e para cá como uma vila daqueles filmes de época medieval, ainda que não fosse muito parecido. Muitos cumprimentavam Wuiam que ia a nossa frente e tantos outros apenas sorriam com a nossa passagem. Todo o local era bem iluminado, mas não dava para saber com exatidão como, já que o teto era extremamente alto, como se estivéssemos dentro de um gigantesco globo de neve só que ao invés de vidro, fosse um globo de pedra... Caminhamos por um bom tempo até que o porto de lago ficasse para trás e inatingível com os olhos e entrássemos em um túnel menos movimentado. Foi daí que Wuiam voltou a conversar:

— Estamos indo a pé a pedido do rei, para que conheçam a cidade portuária e a cidadela que antecede o palácio. Nosso reino se chama reino de Gelo por causa das estufas que em breve conhecerão, mas como já estão vendo, podíamos ter muitos outros nomes. Não há gelo aqui embaixo. Em resumo somos muitas abóbadas com muitas cidades e diversas ocupações. Nossos ancestrais eram ótimos em construção e ainda hoje temos excelentes engenheiros que continuam cuidando das estruturas e segurança das cidades que nos compõe. A família real não é em nada diferente do nosso povo, caminhamos do mesmo jeito, comemos as mesmas comidas, vivemos do mesmo modo. O palácio existe apenas para o povo saber aonde ir quando precisam de algo que não podem resolver por si mesmos e sobre a sucessão acontece em regime popular por isso exigência de descendência não acontece aqui. O rei pode ou não ter filhos, isso é sobre a felicidade do casal e não sobre sucessão e por isso verão tantos casais heteros quanto homossexuais ao redor e em todas as cercanias, aliás isso nem é relevante para nós, mas como vocês são pessoas do mundo externo, podem ter dúvidas sobre tais coisas. Tudo o que importa para uma pessoa do reino do gelo é a compatibilidade, pois esta garante e muito a felicidade do lar.

— Compatibilidade?

Perguntei e ele assentiu passando a caminhar ao meu lado:

— Sim, compatibilidade. Por isso passaram por uma longa e criteriosa seleção. Era preciso que possuíssem atributos específicos que se enquadram aos atributos dos Lordes. Não é o fim, mas o início do processo de compatibilidade. Primeiro os critérios, depois as respostas aos fenótipos e genótipos. Vão entender melhor na prática.

Aquilo me deixou ainda mais confusa, quer dizer, a coisa da seleção ainda não tinha terminado?

Ian me olhou de canto e sorriu pequeno, sussurrando em seguida:

— Ainda bem que tomamos banho e estamos vestidos como a Bela na cena da neve. Me sinto menos intimidado com a coisa dos fenótipos.

Olhei para nossas roupas que eram quentes, elegantes e simmm... Parecíamos príncipe e princesa de algum desenho da Disney que se passava na neve. Pela primeira vez percebi que ambos estávamos de vermelho, não era a única cor que tinha disponível, mas por algum motivo acabamos os dois usando vermelho...

— Estou chocado que só percebeu que estamos combinando agora! Você me fez ficar mais de meia hora de costas para que você se trocasse...

Ele fingiu um ofegar ofendido e eu tive que rir. Ian de fato era muito descontraído...

— Você também demorou, sabia?

— Eu estava preocupado em como eu ia me vestir para ganhar de você em uma disputa de beleza. Não é uma tarefa fácil.

— Não seja absurdo, garoto!

Resmunguei e logo saímos do túnel para outro globo de neve de pedra gigante... Quer dizer, abóbada como o nosso guia turístico chamava.

— E aqui estamos, a cidadela do palácio real.

Orgulho transbordava da voz dele e ficou muito óbvio que realmente Wuiam amava seu lar.

O acordoOnde histórias criam vida. Descubra agora