Capítulo 2

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Eu já estava preparada para muito surto da parte de Ana, mas aparentemente eu não estava preparada o suficiente.  Minha amiga claramente tinha se esquecido que eu estava bem longe de ser uma boneca, pois já fazia pouco mais de duas horas que eu estava sentada de frente para sua penteadeira, completamente à mercê de suas vontades.

— Eu acho um pouco demais esses cílios falsos, linda — a voz de Luciano foi a personificação do meu pensamento naquele exato momento.

— Xiu, você não pode ficar do lado dela aqui amor, você é meu namorado. — Ana protestou.

— Eu... — tentei aproveitar pra argumentar, mas Ana pousou a mão em meus lábios e decidiu trocar o delineado marrom por um preto carvão, me deixando completamente chocada com meu atual reflexo no espelho.

Desisti de protestar pois minhas pernas voltaram a tremer, eu ainda não estava acreditando que teria a chance de ser uma garota normal, saindo para uma festa sem a companhia de nenhum adulto e podendo me divertir abertamente, quase parecia bom demais para que acontecesse, eu ainda esperava que minha mãe fosse aparecer a qualquer momento e me castigar por sequer imaginar que poderia ir a qualquer lugar sem ela.

O peso da convivência com minha mãe me sufocava, eu já havia aceitado, sob protestos claros de Ana e Marli é oblívio, que ela mandaria e comandaria minha vida pra sempre, mas parte minha ainda queria lutar contra isso e esse momento era claramente esse lado fazendo sua rebelião.

— Você está linda Maya — Ana falou orgulhosa de sua criação.

Deixei os devaneios de lado e me olhei atentamente no espelho e apesar dos exageros, sim eu estava bonita, tinha 17 anos e nunca tinha sido beijada, essa noite eu iria sim mudar tudo isso, essa noite eu iria viver.

Depois de Ana checar a sua maquiagem pela terceira vez, fazendo o namorado bufar, saímos, antes que ela inventasse mais algum ajuste em mim para fazer.

A noite estava calma e quente, eu dei um passo vacilante e ajeitei o vestido sem alças que minha amiga fizera questão de me emprestar.

— Você tem um corpo lindo Maya, olhos que atraem, pare de se esconder atrás de suas roupas velhas de segunda mão. Você está maravilhosa. — Minha amiga falou colocando a mão em minhas costas. — Vou te ensinar a viver hoje minha Cinderela.

Sorri e roubei sua mão direita que estava entrelaçada nas mãos de Luciano, respirei fundo e fui tentando ser o mais confiante possível para o que parecia ser um divisor de águas em minha vida.

Só que nada estava saindo como imaginei, desde o primeiro passo que dei porta adentro e fui recebida por música alta, gritaria e euforia, me senti mal e comecei a questionar se a noite mais mágica da minha vida deveria se parecer como a noite mais errada de todas?

Já fazia pouco mais de duas horas que estávamos cercados por música alta, jovens completamente alterados e sem noção e nada parecia certo pra mim.

— Você precisa se soltar um pouco amiga. — Ana me falou duas vezes.

— Não consigo...

— Vou te ensinar como.

E sem aviso ela me puxou para o centro da pista de dança e começou a me balançar para lá e para cá, Luciano olhava a distância, sorrindo, o lado louco de Ana era tudo o que ele precisava para esquecer as formalidades da sua personalidade, ela era a leveza que o lembrava de respirar e ele o ponto de equilíbrio dela. Sentir o olhar dos dois evidenciava aquele vazio constante em mim, era uma fisgada incomoda, eu sentia falta de me sentir daquele jeito, segura, amada e ao mesmo tempo completamente entregue e vulnerável.

De Tal Maneira (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora