Mundo da lua

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POV CAMILA

Parecia que um trem tinha passado por cima de mim, todo meu corpo doía, mas nada se comparava com a dor na minha cabeça. Gemi tentando entrar ainda mais para baixo da coberta, já que as luzes do corredor fazia minha cabeça latejar ainda mais. 

— Achei que tinha morrido — ouvi a voz do Veiga e depois senti a cama se afundar. 

O que ele fazia ali? Me olhava dormir? Resmunguei de novo e ouvi ele rir, abri meus olhos com muito esforço e vi ele apenas de bermuda, com uma xícara de café nas mãos. Tirando o fato dos seus olhos estarem mais pequenos que o normal, ele estava incrível. 

Dez anos de amizade e eu nunca vi ele de ressaca. Eu odeio atletas - menos os que jogam no meu time, é claro. 

— Eu te odeio porque você parece estar ótimo — falei fazendo bico. 

— Eu disse que estava bem, agora levanta para gente tomar café, ainda temos muito que conversar — falou puxando a coberta e uma das minhas pernas. 

Gritei e taquei um travesseiro nele, fazendo ele rir mais. 

— Rapha só mais uns minutinhos — tentei pegar a coberta de novo e me virei ficando de bruços quando não consegui. 

— Para de ser bicho preguiça — brigou. 

— Você fala isso porque é atleta — choraminguei. 

— Você é sedentária porque quer — deu os ombros, filho da puta. 

— Eu estou me exercitando, tá? 

— Dá pra ver — falou analisando meu corpo, e eu estava muito mal ainda para achar que ele tinha olhado para minha bunda — Não demora, tem escovas novas na última gaveta, e remédio no seu lado — falou saindo do quarto. 

Virei minha cabeça e vi um copo com água e remédio na mesa de cabeceira, acho que nunca amei tanto esse homem quanto agora. Me esforcei para pegar o remédio e tomei rezando para fazer efeito instantaneamente, mesmo sendo impossível. Ressaca de vinho é a pior. Me arrastei para o banheiro, e foi literalmente já que eu estava tão encurvada que parecia um zumbi. 

Valeu a pena, senti falta do  meu melhor amigo, e ele precisava de apoio. Então está tudo bem, falei pensando na noite de ontem. Enquanto achei estranho dividir a cama com ele, no carinho do cabelo e no sonho em que eu o beijava. Mas o sonho era muito detalhado, e levando em consideração que eu raramente lembrava do que sonhava, isso começou a me assustar. 

Pensa, pensa Camila, sem chance do Raphael ter me beijado. E sem chance de eu ter retribuído. Mas estava tudo lá, todos os detalhes, as sensações que eu senti, ele dizendo que estava feliz que eu estava lá. 

Eu beijei meu melhor amigo. 

Puta que pariu. 

Dez anos de amizades e isso nunca aconteceu, e nem a possibilidade tinha passado pela minha cabeça. Como foi acontecer? Como eu deixei acontecer? Eu devia ter ficado no sofá, eu sempre tenho que ouvir minha intuição. 

Calma, foi só um beijo bobo, isso não muda nada. Não muda em nada nas nossas vidas, e na nossa amizade. Respirei fundo jogando no meu rosto, e treinando para aparecer na cozinha normalmente enquanto voltava para minhas roupas. Não tinha porque nada mudar. 

Entrei na cozinha devagar, porque a claridade estava me matando, mas já estava mais suportável que antes. Ele ainda não tinha colocado a blusa, e pela primeira vez isso me incomodou. Porque eram muitos músculos, e distrações, as tatuagens do seu braço direito estavam mais claras mas mesmo assim ainda chamavam atenção. 

Friends | Raphael Veiga +18Onde histórias criam vida. Descubra agora