Sem forças para questionar

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Part 15

S/n

Deitados no tapete do quarto, olhávamos para o teto. Então virei para ele e observei os fios soltos do penteado de Draken. Eu estava tão melhor, pensei que talvez... Se eu finalmente falasse tudo, eu sentiria menos dor.

S/n: Eu sei que não gosta que eu fale do meu outro irmão... Mas eu queria contar para alguém. Acho que se eu falar tudo para você, a dor diminua.

Ele continua na mesma posição, mas olha de canto para mim.

Draken: Se vai se sentir melhor...

Ele falou com uma voz calma, mas eu ainda sentia algo estranho nele. Eu continuava sem saber o que ele pensava, mas mesmo assim, comecei a falar.

S/n: Meu irmão sempre cuidou de mim, a vida toda. Ele sempre me protegia e se sacrificava pelo meu bem. As únicas vezes em que alguém me machucou, foram porque ele não estava lá para impedir.

"Ele estava trabalhando muito mesmo. Meu irmão era tão bom com as pessoas, que era fácil ser provido. Sempre aproveitava cada oportunidade para ganhar um pouco a mais por qualquer serviço e tudo isso por um motivo. Para me dar uma vida melhor. — eu sentia meus olhos arderem, mas continuei. — Faltava pouco para completar a quantia para alugar o apartamento que tanto queríamos, seria o início do nosso sonho. Um dia ele chegou animado, ele sempre estava animado, mas eu nunca o tinha visto tão feliz em toda a minha vida. Foi então que ele me disse: "Nós conseguimos".
A quantia de dinheiro finalmente estava completa e tudo se resolveria no dia seguinte, quando nos mudássemos. Eu estava tão alegre...
Continuei assim, mesmo quando meu irmão recebeu um telefonema e disse que teria um compromisso e que logo voltaria. Achei estranha a sua expressão, mas eu não me importava, pois amanhã não haveriam mais problemas.
O "amanhã" nunca existiu.
Ele não voltou.
E o dinheiro sumiu com meu pai."

Eu estava chorando novamente, por pensar que faltava tão pouco. Todas as noites em que eu passei em claro, pensando no "e se".
Draken não respondeu, quando olhei para ele, sua expressão parecia abatida. Aquilo o tinha afetado intensamente, não sei se isso é normal, pois ele foi o único que ouviu a história da minha boca. Mas eu estava envolvida demais com meu irmão e tudo que havia acontecido, que eu não continuei a pensar sobre isso. Tratei como normal, sem saber se era normal. Finalmente o garoto saiu daquele transe de reflexão e segurou fortemente em minha mão. Foi a única coisa que ele fez.
Segurou em minha mão.



Draken

Eu ouvia o som do chuveiro do outro lado da porta onde eu me encostava. Minhas mãos cobriam meu rosto, tentando esconder meus sentimentos de raiva e dor. Eu a havia destruído, destruí toda a vida dela. Ela estaria feliz se não fosse por mim.

Imaginava ela provando receitas novas na cozinha do apartamento que dividiria com o irmão. Seu avental sujo de farinha e seus cabelos presos em um coque, sorrindo para suas criações e esperando para seu irmão prová-las, sem ter lembranças tão ruins para a atrapalharem.

Ela poderia estar sorrindo há um ano, eu arranquei 365 dias de risadas e momentos felizes daquela garota. Ela não deveria nem ter me conhecido.

"Não consigo olhar no espelho ou tocar meu próprio corpo sem sentir nojo."
Aquelas palavras haviam me destruído, pois ela nunca diria isso se não fosse por mim. Eu pensei que a minha maior cicatriz tinha se cicatrizado, mas ela apareceu da pior forma, encharcada de chuva e com marcas que eu nunca poderei curar.
E eu me odeio por isso.

Vai um voto aí?

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