Quando Tomáz acordou naquela tarde, Jason já tinha dispensado umas vinte pessoas da tal entrevista em seu escritório. Sua assistente, Suzanne, organizava a extensa fila de candidatos, quando Tomáz saiu do seu quarto, pro delírio de algumas garotas na fila, que chegaram até suspirar alto.
— Continua gata hein, Suzy. ― Disse Tomáz, passando por ela, antes de ir em direção ao escritório.
— Me respeita, menino. ― Ela disse, sorrindo, o acompanhando, e logo depois abrindo a porta do escritório para ele.
— E aí, já escolheu minha gata? ― Perguntou Tomáz, assim que entrou no escritório, e Suzy fechou a porta.
— Não tem essa de sua gata, e isso são horas? ― Perguntou Jason, olhando o relógio, incrédulo.
— Cê viu o tanto de gata que tem lá fora? Se eu soubesse tinha acordado bem mais cedo. ― Disse Tomáz, parando a cadeira de rodas ao lado dá do seu irmão.
— Suzanne! ― Jason a chamou, ignorando seu irmão.
— Pois não, senhor. ― Ela respondeu, prontamente, após abrir a porta.
— Cancela essa entrevista. ― Disse Jason, rude.
— Mas você não pode fazer isso, irmãozinho. ― Disse Tomáz, sorrindo.
— Não pode mesmo, Sr. Schnitzler. ― Disse Suzanne, colocando as mãos na cintura.
— Por que não? ― Jason perguntou, irado.
— Com saúde não se brinca senhor, olha a situação crítica do seu irmão... ― Ela começou a dizer, séria.
— Então começa a dispensar algumas garotas irrelevantes, rapazes obcecados, sei lá, tô sem paciência já. ― Disse Jason, bravo.
— Mas pega os currículos, pra eu poder salvar os contatos depois hein, Suzy. ― Disse Tomáz, sorrindo safado, e Jason a mandou sair rudemente. — Que mal humor.
— Próximo. ― Chamou Jason, alto, o ignorando.Aquela imensa fila parecia não andar nunca, Marina já estava exausta, e Keila reclamava sem parar sobre os calos que faziam em seus pés. Suzanne, havia passado por elas várias e várias vezes, recolhendo alguns currículos e dispensando algumas pessoas, Marina torcia pra ela não estar na lista de dispensa, e Keila não parava de falar um só segundo sobre isso.
— Espero que não peça o meu, tenho muito... ― Keila começou a dizer.
— Currículo, senhorita. ― Disse Suzanne, parando ao lado dela, a interrompendo.
— Meu? Por que o meu? Pede o dela. ― Disse Keila, apontando para a Marina.
— O seu, querida. ― Rebateu Suzanne, sorrindo.
— Não vou dar. ― Disse Keila, relutante.
— Key. ― Chamou Marina, calma.
— Ah qual é? Tem tanta gente aqui, vai pegar o deles, a maioria já tem até emprego, não sei nem o que tá fazendo nessa fila. ― Disse Keila, irritada.
— Era só o que me faltava, e nem ganho a mais por isso. ― Bufou Suzanne, antes de sair de perto dela.
— Desculpa, desculpa mesmo. ― Disse Marina, envergonhada, e a mulher apenas balançou a cabeça indignada, antes de se afastar.
Marina imediatamente virou-se para sua amiga, colocou as mãos na cintura, e a encarou bem séria, a repreendendo, mas Keila apenas deu de ombros, revirou os olhos e a ignorou por completo.Mais de duas horas na fila, chegou a vez de Marina, ela endireitou o corpo, deu seu melhor sorriso, pronta pra ser chamada. Jason chamou o próximo, e ela foi determinada, mas ao passar por Suzanne, Marina foi empurrada contra a parede, e Keila passou na frente dela feito furacão e entrou na sala, fechando a porta do escritório na cara de todos. Suzanne olhou incrédula para a Marina que deu um sorrisinho de canto sem graça.
— Minha nossa, que sem educação. ― Resmungou Suzanne.
— Com uma amiga dessas, nem precisa de inimigos. ― Disse um rapaz, atrás dela, e Marina abaixou a cabeça envergonhada.Keila entrou na sala jogando seus longos cabelos loiros pra trás do ombro, e abriu um sorrisão, Jason a encarou com um olhar analisador, e Tomáz a olhou sorridente.
— Pode se sentar! ― Jason disse, seco.
— Ele é o chato, eu sou o legal. ― Disse Tomáz, e Keila lhe deu um sorrisinho sapeca, fazendo Jason fechar a cara, e arquear a sobrancelha, sério.Cinco minutos depois...
— Vamos amiga. ― Disse Keila, sorrindo, puxando Marina pra fora da fila.
— Pra onde? Tá doida, é minha vez agora. ― Disse Marina, voltando pra fila.
— Próximo! ― Chamou Jason, alto.
— Desiste amiga, eu já consegui a vaga, eles vão me ligar, vamos. ― Disse Keila, puxando Marina pra fora da fila novamente.
— Ei, não Key, eu preciso deste emprego, tá doida?! ― Disse Marina, se desvencilhando dela.
— Quer mesmo competir comigo? Pensei que éramos amigas. ― Disse Keila, fazendo drama.
— Nós somos, mas você sabe muito bem que preciso de um emprego, e essa pode ser a minha chance. ― Disse Marina, a encarando.
— Mas não é amiga, é a minha. ― Disse Keila, sorrindo maldosa.
— Eu não tô conseguindo te entender Key, qual é a sua? Por que quer me sabotar? ― Perguntou Marina, intrigada.
— Aí minha nossa, que dramática, vai lá fazer a entrevista então, depois não diz que eu não te avisei. ― Ela disse, bufando, e cruzando os braços.
— Com uma amiga dessa, não precisa de inimigos. ― O rapaz atrás da Marina disse novamente.
— Não se mete, baitola. Vai amiga, faça sua entrevista, mas já adianto, a vaga é minha, amiga. ― Disse Keila, debochada, encarando o rapaz, e Marina a encarou incrédula, sem dizer uma palavra.
— Senhorita, vai entrar ou não vai? ― Perguntou Suzanne, séria, a encarando.
— Estou indo, me desculpe. ― Disse Marina, dando uma última encarada em Keila, antes de entrar na sala, e fechar porta.
— Demorou. ― Resmungou Jason, a encarando.
— Desculpa, infelizmente vim com uma amiga que acabou surtando, e... ― Marina começou a dizer, sem jeito, mas foi interrompida.
— Não estou interessado. ― Disse Jason, rude.
— Me desculpe. ― Disse Marina, engolindo em seco, e se endireitando.
— Não precisa pedir desculpas moça, nós ouvimos daqui, e ignora o mal humor do meu irmãozinho, ele bateu a cabeça no chão quando pequeno, então não se preocupe, pois o mal humor é diário. ― Disse Tomáz, zombeteiro, e Marina deu um sorriso leve para ele, mas logo sua expressão ficou tensa, com o olhar fuzilador de Jason em cima dela.
— Sente-se senhorita Foster, e conte-me mais sobre suas experiências profissionais. ― Disse Jason, frio.
— Com licença! ― Ela disse, se sentando. — Bom, me formei em Medicina numa faculdade da minha antiga cidade, mas me especializei em Harvard, eu já trabalhei em alguns hospitais daqui do centro, em dois centros de apoio, e também participei do projeto Médico Sem Fronteiras, mas infelizmente tive que desistir na metade do percurso. ― Ela disse, séria.
— Por que? ― Perguntou Tomáz, sério, ganhando um olhar furioso de Jason nele.
— Meu pai faleceu por conta de um câncer, e logo minha mãe adoeceu, e... ― Marina começou a dizer, mas foi interrompida.
— Se limite a contar somente sobre suas experiências profissionais. ― Disse Jason, rude.
— Deixa a moça falar, irmãozinho. ― Disse Tomáz, sorrindo, o fazendo inspirar profundamente controlando o acesso de raiva.
— Continue. ― Disse Jason, relutante.
— Não tenho mais nada a dizer, minha mãe faleceu, estou a muito tempo parada, mas me mantive atualizada na área por meio de cursos e concursos, e é isso. ― Disse Marina, séria.
— Sua mãe também morreu? ― Perguntou Tomáz, surpreso e curioso, e ela confirmou com um sinal de cabeça. — A nossa também, meus pêsames... ― Ela disse o mesmo, sorrindo de leve.
— É... Meus pêsames. ― Disse Jason, baixo, e Marina assentiu com a cabeça. — Bom, como anunciado será um trabalho de período integral, tem disponibilidade?
— Sim, total. ― Ela respondeu, de prontidão.
— Podendo dormir no serviço eventualmente? Dormirá em um quarto de hóspedes. ― Disse Jason, sério, e ela confirmou com a cabeça.
— Mesmo sabendo que é um emprego temporário, e que poderá ser dispensada a qualquer momento, você aceita? ― Perguntou Tomáz, perplexo.
— Eu aceito. ― Respondeu Marina, firme.
— Quero me casar com você, que determinação, mulher. ― Disse Tomáz, sorrindo, mas ela o ignorou.
— Isso é o que falta em você né, além de foco, obediência, responsabilidade, juízo, noção... ― Começou a dizer Jason, zombeteiro.
— Engraçadinho você, hein. ― Disse Tomáz, sorrindo sem graça, e Jason o encarou surpreso por um breve segundo.
— Você tem um currículo surpreendente, tem certeza que quer esse emprego? Mesmo sabendo que terá que olhar pra nossa cara o dia todo, todos os dias? ― Perguntou Jason, sério, olhando para os papéis em sua mesa.
— Sim! ― Ela respondeu, séria.
— O melhor currículo até agora, sem dúvidas. ― Disse Tomáz, sorrindo.
— Obrigada! ― Disse Marina, sorrindo esperançosa.
Jason a encarou, e sentiu firmeza na mulher, estava pronto para contratá-la.
— E muito linda por sinal. ― Disse Tomáz, sorrindo, a deixando sem jeito.
— Não se empolgue irresponsável, seja profissional pelo menos uma vez na sua vida. ― Disse Jason, o fuzilando com o olhar.
— Ok, ok, a vaga é sua moça. ― Disse Tomáz, sorrindo.
— Quem decide isso, sou eu. ― Disse Jason, bravo, o encarando.
— Suzanne, já preenchemos a vaga. ― Disse Tomáz, alto.
— Sou eu quem decido isso, seu moleque. ― Jason disse, partindo pra cima do irmão.
— Acalmem-se meninos. ― Pediu Suzanne, ao entrar na sala e vê-los se atracando, Marina deu um pulo da cadeira assustada, e foi pra cima deles, tirando Jason de cima do Tomáz, que estava sendo enforcado.
— Misericórdia, o que é isso? ― Ela perguntou, alto e indignada.
— Ela já está mais do que apta ao trabalho irmãozinho, isso temos que concordar. ― Disse Tomáz, a olhando sorrindo, depois de recuperar o fôlego.
— Verdade, uma boa babá pra você. ― Disse Jason, rude.
— Não serei babá de ninguém, serei a médica acompanhante, não confundam, não estou aqui pra separar brigas inúteis de vocês dois. Deveriam estar envergonhados dessa cena lamentável, principalmente nesta situação que estão, onde um está imobilizado numa cadeira de rodas, e o outro com o braço e pescoço fraturados e no gesso, eram pra estarem de repouso, não brigando feitos dois meninos mimados, ou como cão e gato. ― Disse Marina, séria e autoritária, os repreendendo, olhando de um para o outro, e eles a encaravam impressionados com a audácia da mulher.
— Está contratada, senhorita. ― Disse Suzanne, sorrindo, maravilhada. — Agora vou dispensar o restante, e vocês descansem, amanhã será outro dia cansativo.
— O que terá amanhã? ― Perguntou Tomáz, confuso.
— Mais uma seletiva. ― Resmungou Jason.
— Aff, do que agora? ― Perguntou Tomáz, bufando.
— Empregada doméstica. ― Disse Jason, se sentando em sua cadeira giratória.
— Aff pega qualquer um nessa fila aí, sempre vai ter uma que faria de tudo só pra estar perto da gente. ― Disse Tomáz, com desdém.
— Desculpa, mas não a qualquer um nesta fila, são homens e mulheres que estudaram muito pra estarem aqui hoje, concorrendo a uma vaga de emprego. ― Marina o repreendeu, arrancando um sorriso de Jason.
— Gostei dela. ― Ele disse, sorrindo.
— Começa amanhã, viu senhorita. ― Disse Suzanne, antes de sair do escritório.
— Vai levar o contrato de admissão pra casa, para ler, reler, e assinar, se caso concordar com todas as regras estabelecidas no contrato, nos veremos amanhã pela manhã. ― Disse Jason, sério, lhe entregando alguns papéis.
— Meu irmão e suas regras chatas. ― Disse Tomáz, sorrindo, mas Marina o ignorou e olhou fixamente para o papel.
— Acho que posso ajudá-los na seletiva de amanhã. ― Disse Marina, os encarando.
— Não será necessário. ― Disse Jason, sério.
— Eu conheço uma garota, batalhadora, precisa muito de um serviço, ela estuda em Harvard atualmente. ― Disse Marina, sorrindo.
— Faz que curso lá? ― Perguntou Tomáz, curioso.
— Direito. ― Respondeu Marina.
— Essa moça tem referências? ― Perguntou Jason, séria.
— Não viaja irmão, primeiro que a mina é advogada, segundo que a Mari já disse que a mina é trabalhadora, responsa, confia. ― Disse Tomáz, sério.
— Me chamo Marina. ― Ela disse, o corrigindo.
— Me chame de Jason. ― Ele disse, sorrindo.
— Me chame de Tomáz, o galã. ― Ele disse, sorrindo.
— Menos Tomáz, e você, Marina, traga está garota amanhã e faremos um teste, pode ser?! ― Disse Jason, e Marina concordou com um sinal de cabeça. — E ao sair, avise para Suzanne vir até aqui.
— Já estou aqui, senhor. ― Disse Suzanne, abrindo a porta.
— Suzanne, minha querida, já preenchemos todas as vagas de emprego, cancele a entrevista de amanhã, e obrigado, será muito bem recompensada, e é tudo por hoje, tá dispensada. ― Disse Jason, sorrindo.
— Amém, Senhor. ― Ela respondeu, sorridente, antes de sair porta a fora.
— Quer matar a velha de tanto trabalhar, irmãozinho. ― Disse Tomáz, rindo, mas os outros dois o ignoraram.
— Você senhori... quer dizer, Marina, seja bem vinda a família Schnitzler. ― Disse Jason, sorrindo, lhe estendendo a mão sem gesso, Marina o cumprimentou, e os três se entreolharam sorrindo.
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Lados Opostos
RomanceEle, rico. Ela, pobre. Ela, uma estudante de Direito, ele, o CEO da empresa da família. Duas pessoas com vidas completamente diferentes, que se encontram em meio à tantas regras. E mesmo eles tentando reprimir seus desejos mais profundos, sabiam que...