28 - Confissões

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O dia 15 estava chegando rápido demais.

Contar sobre sua partida antecipada para o Black Diamond foi doloroso. SB começou a chorar como se Bia tivesse dito que matara sua mãe. Chin perguntou o motivo, mas ela não tinha certeza. Queria ver Lana, é claro, e o inverno ali era muito frio, mas... tinha algo mais? Não saberia dizer.

A praia era um pouco diferente das do Brasil. Estava frio, e o vento era forte e constante. A faixa de areia dividia espaço com uma faixa de pedras, que formavam quase uma parede até chegar na rua, um pouco elevada. Eles estavam sentados sobre elas, a superfície fria e cinza.

Bia nunca pensou que vestiria duas blusas numa praia. A camisa de manga longa preta por baixo da camiseta, e a jaqueta cor de areia por cima, fechada com zíper. Chan vestia um casaco acolchoado azul escuro, as botas desamarradas. Bia usava as suas também , pura coincidência.

- Eu devia ter pensado melhor - falou ele, depois de quase dez minutos de silêncio - Tá ventando muito pra praia esses tempos.

Bia não respondeu. Tentava encontrar uma maneira de começar o assunto. Cruzou as pernas sobre a rocha, respirando o ar gelado. Chan a encarou, então.

- Você tá quietinha - a voz ficou séria - O que houve?

- Eu tenho uma notícia - sussurrou Bia - Mas não é exatamente boa.

- Bem, pode dizer.

- Eu vou embora - pausa dramática - Pro Brasil. Semana que vem.

Chan franziu a testa, buscando os olhos que Bia escondia.

- É sério? Por quê? Achei que ficaria até o Ano Novo.

- Fiz um acordo na P-Nation.

- Bia - ela finalmente o encarou - Não... se não quiser eu te deixo em paz, mas... tem algum motivo? Pra querer voltar tão cedo?

- Não sei, eu... só sinto que deveria voltar.

"Eu não pertenço a este lugar", foi a frase que entalou na garganta. O pensamento empurrou lágrimas para fora de seus olhos, e Chan a acolheu em seus braços.

- Pode dizer - sussurrou o mais velho - Acho que sei o que sente.

- Não me encaixo aqui. Não sinto que faço parte desse lugar. Não o quesito pessoas, em todo o resto. Levei meses pra gostar da comida, não posso entrar em alguns lugares porque sou estrangeira, não consigo conversar direito com nativos... Nada colabora, eu não devia ter aceitado essa vaga de emprego.

- Ei, para - Chan segurou-lhe o rosto, lágrimas em seus próprios olhos - Nunca mais diga isso, ok? Você sabe que tudo acontece por um motivo. E se te foi dada a chance de vir pra cá, é porque você precisava disso. Fosse para ter um tempo longe da sua família, ganhar dinheiro, ou conhecer gente nova. Mas nunca se arrependa das decisões que tomou, ok?

Ele beijou-lhe a testa, depois a bochecha e em seguida, os lábios. Apertou-a contra o peito, quase caindo das pedras.

- Foi a lição mais valiosa que me ensinou, Bia. Espero que possa levar pra sua vida também.

- Sempre soube que seria difícil, mas que depois de um ano eu teria ao menos me acostumado... sabe como é difícil trabalhar com pessoas que te odeiam? Que te desprezam porque demora mais pra entender o que dizem? Porque não consegue ler os relatórios sem ajuda? Passei nove meses trabalhando sozinha, à minha sorte, porque minha equipe me ignorava e sempre se recusou a me ajudar. Já não bastava minha mãe me desprezando?

- Eu... sinto muito - não tinha muito mais que Chan pudesse dizer.

Bia segurou a respiração e se afastou, enxugando as lágrimas com as mãos. Abraçou os joelhos, encarando o mar. Chan buscava palavras para consolá-la, mas não sabia o que dizer. Tudo que pensava parecia só piorar a situação.

Como em uma fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora