Aparições

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Eram onze horas da noite e soprava uma brisa fresca e suave que faziam agitar-se as folhas das árvores nos morros em volta da rua de terra batida.

Eleanor parou antes da ponte de madeira, a bolsa com o material apertada contra os seios, os olhos castanhos fixos na outra extremidade, sem um pingo de vontade de atravessar pra chegar em casa. Resmungou baixinho recriminando-se por ter sido descuidada e ter perdido o último ônibus. Sabia que depois da ponte seriam quase duzentos metros até começarem as casas. Duzentos metros onde não havia luz porque as lâmpadas dos postes costumavam estar quebradas. E o vento que soprava daquele lado trazia-lhe o cheiro de maconha. Sabia que era um mau sinal. Mas sabia também que não tinha outra opção. Não podia passar a noite ali e nem tinha outro lugar para onde ir. Então simplesmente deu o primeiro passo. Foi quando sentiu a presença atrás de si. Eleanor virou-se e teve de conter um grito. Seus olhos grandes e castanhos fixaram-se na coisa mais feia que já vira em sua vida. Mas por algum motivo aquela aparição lhe trouxe calma. Isso mesmo. Após o susto inicial ela sentiu calma. Mesmo estando diante de um enorme pitbull todo coberto de feridas, com as costelas do lado direito do corpo a mostra, e exalando um forte odor de podridão. Mesmo assim ela sentiu calma. E deu o primeiro passo para atravessar a ponte. A coisa, o cão, o que quer que fosse a seguiu de perto.

Eleonor avançou sem medo, apesar do cheiro de maconha que a brisa lhe trazia. Sabia que havia perigo do outro lado da ponte, mas a presença do animal transmitia-lhe uma sensação de segurança que fazia tempo que ela não sentia.

A coisa andando ao lado de Eleonor encostou a cabeça no lado da sua perna e esta não exitou em acariciar-lhe o focinho. Então chegaram ao outro lado. E nas sombras reinantes ela via as brasas acesas dos cigarros. Mas ninguém se aproximou. Foi assim até o primeiro poste com luz. Eleonor olhou para trás e de repente a aparição não estava mais lá. E vendo-se sozinha, ela sentiu seu medo voltar. Com pressa de chegar em casa ela praticamente correu os últimos cinquenta metros, entrou apressada pelo portão adentro e foi na direção da porta aberta aonde seu avô a esperava.

'Que que houve?'- perguntou o velho.'Você tá parecendo que viu uma assombração. Que que aconteceu? Aqueles moleques mexeram com você?'

'Não vovô. Nem vi eles. Mas fecha logo a porta. Tá frio.'

O velho olhou desconfiado para a neta mas não teimou. Fechou a porta deixando do lado de fora a noite sombria e junto com ela seus fantasmas.


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