Em um tempo em que a estrada que ligava Curitiba a São Paulo era pouco mais que uma trilha tortuosa, adornada por matas virgens e serras escarpadas, viveu um homem atormentado por um passado obscuro. Aquele homem, de nome Joaquim, era um errante, um viajante solitário que buscava na distância um refúgio para seus demônios interiores.
Em uma tarde tempestuosa, enquanto galopava seu fiel corcel pela extensa campina, Joaquim foi surpreendido por uma súbita e violenta tempestade. Os raios rasgavam o céu, e o vento uivava como um animal faminto, agitando as copas das árvores e sacudindo a terra. Buscando abrigo desesperadamente, avistou ao longe uma velha construção, solitária e sinistra, que se erguia como um fantasma naquela paisagem desolada.
Era um casarão colonial, de paredes enegrecidas pelo tempo e telhado de barro desgastado. As janelas, com vidros quebrados, pareciam olhos vazios que o observavam com uma curiosidade macabra. A porta principal, enferrujada e rangente, convidava-o a entrar, mas Joaquim hesitou. Um arrepio percorreu sua espinha, e uma sensação de mal-estar o invadiu. No entanto, a fúria da tempestade o impulsionou a cruzar o limiar.
O interior do casarão era ainda mais sombrio do que o exterior. A poeira pairava no ar, e teias de aranha cobriam os móveis empoeirados. O silêncio era ensurdecedor, quebrado apenas pelo crepitar das chamas em uma lareira quase extinta. Joaquim caminhou por aqueles cômodos, sentindo-se cada vez mais deslocado e amedrontado. As paredes pareciam sussurrar segredos antigos, e as sombras dançavam estranhamente, projetadas pelo fogo que lutava para resistir ao vento.
De repente, um som agudo e estridente cortou o silêncio. Joaquim congelou, seu coração disparando em seu peito. O som vinha de um dos quartos, no andar superior. Com passos hesitantes, subiu as escadas, guiado por uma sinistra curiosidade. Ao abrir a porta, deparou-se com uma cena que o deixou petrificado.
Em uma velha poltrona de couro, sentada em frente a uma lareira apagada, havia uma figura feminina, vestida com um longo vestido branco. Seu rosto, pálido e cadavérico, estava voltado para a parede, e seus olhos, fundos e escuros, pareciam fixos em um ponto distante. Joaquim tentou fala der, mas sua voz saiu rouca e falha. A figura se virou lentamente, revelando um sorriso macabro que se estendia de orelha a orelha.
Nesse momento, Joaquim sentiu uma presença fria e opressiva envolvê-lo. Um arrepio percorreu sua espinha, e um grito preso em sua garganta. A figura feminina se levantou e caminhou lentamente em sua direção, seus braços estendidos como se o convidasse para um abraço mortal. Joaquim, tomado pelo pânico, virou-se e correu para fora do casarão, esquecendo-se completamente da tempestade que raivava lá fora.
Ao sair, a porta se fechou com um estrondo, e Joaquim ouviu um grito agudo e desesperado ecoar pelos corredores. Montou em seu cavalo e galopou freneticamente pela noite escura, sem olhar para trás. Nunca mais voltou àquele lugar, mas a imagem daquela mulher fantasmagórica o perseguiu por toda a vida.
E assim, a lenda do casarão mal assombrado continuou a ser contada por gerações, um lembrete sombrio de que os fantasmas do passado podem nos assombrar até mesmo nos lugares mais inesperados.