Amadeu acordou com os latidos desesperados dos cachorros no quintal. Sem acender a luz do quarto ele jogou para o lado a coberta, levantou-se e foi até a janela, afastou a cortina e olhou o terreno nos fundos da propriedade. E não viu nada por causa da escuridão da noite.
Voltando até a cama ele remexeu na gaveta do criado mudo e tirou de lá uma lanterna e uma pistola, vestiu o roupão e foi para a cozinha. Acendeu a luz e, segurando a arma em uma mão e a lanterna na outra, abriu a porta e saiu do abrigo e da segurança para o desconhecido. Seus dois dobermans vieram postar-se um de cada lado de seu dono, e Amadeu notou como os animais pareciam nervosos. Usando a lanterna, ele vasculhou o terreno até a beira do bosque nos fundos da propriedade, e fez isso sozinho porquê os cães permaneceram próximos a casa, latindo muito mas visivelmente assustados. Amadeu usou a lanterna para iluminar as árvores, más não conseguiu ver nada que pudesse justificar o comportamento dos cães. E pensou que seria melhor prender os dois no canil. Se fosse uma onça que estivesse a espreitar no mato querendo pegar um dos cães ele não iria facilitar pra ela. Pensando nisso ele virou-se, voltou pra perto da casa, pegou os seus cachorros e foi tranca-los no canil, que era bem fechado. Depois voltou até a porta dos fundos, iluminou novamente o terreno pra se certificar de que não havia perigo, entrou e ia fechar a porta quando um ruído às suas costas fez com que ele se virasse assustado. E o que ele viu fez o sangue gelar em suas veias. Porquê vindo da sala em sua direção estava a maior aranha que ele já vira em sua vida. Tão grande quanto um tigre. Pernas peludas. Um horror sobre oito patas. Amadeu bem que tentou pegar a arma que colocara sobre a mesa, mas o bicho movia-se rápido demais. Num instante alcançou o homem e envolveu-o em um abraço enquanto usava suas queliceras gigantes para injetar-lhe a sua peçonha. A dor da mordida logo cedeu lugar a um entorpecimento gostoso. Amadeu só pôde ficar olhando enquanto a coisa o envolvia em um casulo de seda. E teve vontade de gritar. Porquê sabia o que viria a seguir: a peçonha injetada já devia estar liquefazendo seus órgãos que serviriam de alimento para aquele monstro. A última coisa que teve consciência antes de apagar foi que estava sendo arrastado para fora da casa na direção da floresta. Depois, apenas escuridão.