Capítulo VIII

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•DANÇANDO COM O DIABO•
Part 2

Agradeci mentalmente por ela não poder me ouvir.
Corri para o andar de cima me trancando no banheiro. Usando o sabonete de avelã, me lavando duas vezes.

Por que eu estava tão tensa com isso?. A primeira vez que ela me viu, eu deveria estar roxa... Ou azul. A lembrança fez meu estômago se embrulhar.
Ela me viu chorando mais vezes do que eu gostaria, então por que eu fazia tanta questão que ela me visse melhor agora? Talvez para compensar as outras vezes em que me viu péssima. Uma tentativa de mostrar que eu era forte, que eu estava bem...

Aqueles meses tinham sido horríveis. Eu ainda podia ver o olhar de medo no rosto de Charlie, a preocupação. E o alívio, a esperança, quando me viu saindo com Jake no final do último ano. Me esforçei ao máximo para não transparecer o que eu sentia na frente dele.

Aquela sensação....
Você se pega tentando lembrar das coisas que te faziam feliz. Mas lentamente, o seu cérebro vai apagando todas as lembranças que te traziam alegria. E chega uma hora, que você só consegue pensar que sua vida sempre foi desse jeito.

Mas o tempo passa....
Mesmo quando parece impossivel. Mesmo quando cada batida do ponteiro dos segundos dói ,como o sangue pulsando sob um hematoma. Passa de modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas. Mas passa. Até para mim.

No closet não havia muitas opções. Talvez minha mãe tivesse algo, embora eu duvida-se fielmente que teria alguma opção neutra.
Eu poderia usar meu vestido de formatura que Alice comprará sem minha permissão, ele ainda estava com a etiqueta.
O tecido de uma seda levemente fosca e azul como um céu noturno, alças finas, mais justo do que eu gostaria. Desejei ter aprendido a fazer maquiagem quando era mais nova. Eu nem mesmo tinha maquiagem, me contentei com um blush e brilho labial de Renée.

Me senti como no meu aniversário, senti minha barriga doer e a ansiedade para isso acabar logo. Por um breve momento pensei que veria eles lá embaixo, as velas, os presentes....céus, o sangue e a vidraça quebrada.
Tudo sumiu quando a vi. Sentada com as pernas cruzadas, como uma pintura renascentista eu facilmente conseguia imagina-lá em um trono.
Em toda a sua glória, ela era perfeita.

Ela surgiu em minha frente oferecendo sua mão.

-Ora ora. -O olhar penetrante dos abismos azuis pareciam ver através de minha alma. -Atrasou dez minutos.

-E mesmo assim você me esperou não foi?.

-O que posso fazer se a sua companhia é tão.... -Ela me olhou de cima a baixo. -Edificante.

Sorriu mostrando os dentes brancos, antes de sairmos pela porta ela murmurou algo tão baixo que pensei ser algo da minha cabeça.
Foram três vezes, três vezes que seu olhar profundo encontrou o meu. Uma na casa, uma em seu Corvette e a última quando passamos pelo arco do restaurante.

Era vintage. Sofás arredondados que circulavam as mesas, os tons de vermelho eram variados no tecido de veludo dos acentos. Luzes douradas tornavam o ambiente aconchegante, refletindo no teto incrivelmente alto e decorado.

-Boa noite senhoritas. -A recepcionista loira sorriu.

O calor percorreu de minha cabeça até meus pés quando a mão de Seraphine se apoiou na parte inferior de minha coluna.

Estrela da Manhã        (Nova Versão) Onde histórias criam vida. Descubra agora