Ciúmes (Parte 2 - Final)

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Ilgaz sentiu um aperto em torno de seu tronco, tentou se soltar daquela pressão, mas ouviu um grunhido em forma de protesto. Esfregou os olhos, abrindo-os lentamente e viu a expressão de pavor no rosto de Ceylin. Definitivamente ela estava tendo algum tipo de pesadelo.

- Oi, meu bem - Beijou docemente os olhos da esposa, que estavam cerrados com força, como se tentasse abrir e não tivesse sucesso - Eu estou aqui. Você não tá sozinha - Acariciou o alto de sua cabeça, depositando beijos no local, e afastou uns fios de cabelo perdidos em seu rosto. Observou o semblante de Ceylin suavizando conforme sentia seu toque.

Olhos verdes o encararam em resposta. Tinha algo naquele olhar que não conseguia decifrar. Algo estava atormentando Ceylin. Ela não ficava assim desde a época da descoberta da morte de seu pai.

- Oi! Desculpa, acho que te apertei um pouquinho - Falou sem graça, sentindo os braços e as pernas tensas em torno do corpo do marido. Sonhava que Ilgaz sumia em meio à névoa. Via sua silhueta desaparecer ao longe - eu estava tendo um pesadelo. -  Sentiu um frio percorrer sua espinha ao lembrar do sonho. Ela gritava por Ilgaz e ele simplesmente continuava andando, sem olhar pra trás, até que desapareceu e ela ficou sozinha naquele lugar desconhecido.

- Tudo bem, já passou. Não é real, ok? Você quer me contar o que sonhou? Tem algo que eu possa fazer para você ficar bem?

Ela nunca contaria aquilo, contar transformaria todo o horror vivido em algo real. Foi horrível, só queria esquecer.

- Só fica aqui, ao meu lado.

- Eu nunca te deixaria e você sabe disso - Envolveu a esposa em seus braços, fazendo-a repousar a cabeça em seu peito. Iniciou um cafuné  e distraído não observou uma lágrima solitária escolher pelo olho de Ceylin.

Raios de sol invadiram o quarto, despertando Ilgaz de seu sono. Ao seu lado estava Ceylin, agarrada nele como se tivesse medo que ele pudesse deixar de existir a qualquer momento. Olhando assim, parecia ainda menor e isso despertou uma vontade de abraçá-la e nunca mais a soltar, porém Kuzu acabava de chegar na porta do quarto miando muito, provavelmente com fome.

- Mas você é um esfomeado mesmo - Ilgaz repreende o gato - Calminha aí, já vou levantar para colocar sua comida - de forma delicada se solta dos braços de Ceylin, puxa as cobertas para ela e deixa um beijo em sua bochecha.

Alguns minutos depois Ilgaz estava na cozinha preparando o café da manhã e escutou passos suaves descendo a escada.

- Bom dia, amor - Ilgaz dá seu melhor e maior sorriso - conseguiu descansar? Achei que fosse dormir por mais tempo, ainda não terminei o café.

- Não precisava se preocupar com isso, vou tomar café com minha mãe - Respondeu secamente. Estava com uma cara péssima, de quem não havia dormido toda noite, mas já estava arrumada com roupas casuais. Tinha o cabelo preso em um coque desfiado no alto da cabeça e vestia uma calça jeans clara com uma blusa de malha preta. Sentou próxima da porta e começou a colocar seus tênis.

- Olha Ceylin, estou tendo toda paciência do mundo com você, mas já está começando a acabar. Desde ontem você está assim e não quer me contar o motivo. Você não sai dessa casa hoje se não conversarmos. Precisa aprender a falar sobre seus sentimentos, porque eu não tenho poder de adivinhação - Falou em um tom firme e se colocou em frente à porta, bloqueando qualquer possibilidade de saída.

- Eu não quero começar o sábado brigando, ok? Se você puder me dar licença - Ceylin levantou e pegou sua pequena bolsa pendurada no cabide da entrada.

- Já disse que você só sai depois de falarmos.

- E quem é você para me impor condições para que eu possa sair de casa?

Pequenas Aventuras - YargiOnde histórias criam vida. Descubra agora