Eu tomei sorvete com meu alvo

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  Depois de toda aquela situação, quando Ayato se acalmou e eu pude algemar Ranpo, contactei a polícia e aí tudo fluiu rapidamente.

  Ayato, por ser um foragido ainda, foi embora um pouco antes, mas não deixei Ranpo atacar novamente e o isolei. Quando a polícia chegou eu mostrei todas as provas para o delegado e, para minha surpresa, o próprio Ranpo confessou tudo. Aparentemente ele desistiu de lutar.

  Enfim, minha cabeça ainda estava uma bagunça e fazia um dia inteiro que eu não via Ayato, então eu estava um pouco abalado e sem rumo, por isso acabei não saindo do apartamento por nada desde que reportei o que aconteceu. Mas era hora de tomar um ar, arejar a cabeça, organizar as ideia e comprar sorvete, o que definitivamente era o mais importante.

  Tinha uma lojinha de conveniência vinte e quatro horas logo na esquina de casa, então coloquei o agasalho pesado e o cachecol e me joguei na missão de atravessar a noite congelante em busca de mais gelo, mas, para minha surpresa e, talvez, alegria, às portas do prédio eu me deparei com um homem loiro bonito, ele tinha olhos azuis atrás de uma camada de lente de óculos e suas roupas estavam decoradas com o branco da neve.

  Só aí eu percebi que nevava.

- Oi. - Cumprimentou ele parando perto de mim.

- E aí? - Eu devolvi e fizemos silêncio, um olhando para o outro e sentindo. Havia tanto para sentir.

- Estou indo até a lojinha da esquina. Você vem? - Eu não esperei a resposta e continuei minha missão, dessa vez com Ayato ao meu lado.

  Era bem perto, fizemos o caminho em silêncio, ele na dele e eu na minha. Quando chegamos na loja bem iluminada no meio da noite fria e vazia, o senhor proprietário que me conhecia sorriu e eu dei um rápido cumprimento antes de ir nos refrigeradores do fundo.

- Sorvete com esse tempo? - Perguntou Ayato.

- Quer de qual sabor? - Eu levantei os olhos e ele sorriu.

- Morango. -

- Ok. - Peguei dois potinhos individuais de morango e fui pagar, mas, agora com os itens da missão comprados, para onde ir?

  Nós dois estávamos parados às portas da lojinha, do lado de dentro olhando para fora. Acho que ele estava pensando a mesma coisa que eu, mas quem achou a solução foi o senhor da lojinha.

- Não vão comer esse doce gelado na neve, hein? Procurem um lugar para sentar aqui dentro e conversem. - Céus, era tão claro assim que estávamos precisando conversar?

  Nós não desobedecemos. No canto contrário ao balcão tinha um banco encostado na parede e nos sentamos ali, lado a lado e no silêncio. Eu passei o sorvete e, por um tempinho, ficamos assim. Até que a atmosfera estava agradável.

  Como sempre Ayato simplesmente devorou a comida dele antes de mim, então ele não tinha mais como se ocupar e se encostou em mim parecendo um gatinho manhoso.

- Quer o meu? - Perguntei lhe passando o pote e ele não negou, claro. Mas ele só tomou uma colher e devolveu o pote.

- O que te preocupa? - Perguntou erguendo os olhos para mim.

- Você primeiro. - Eu também olhei para ele e resolvemos parar de ignorar "o sentimento".

- Eu estou nervoso com o Ranpo, mas não consigo não sentir raiva de mim mesmo por ter estragado a vida dele. - Admitiu em um suspiro.

- Sua vez. -

- Eu não sou bom o suficiente para você e você com certeza tem problemas de cabeça se não está mentindo sobre me amar. - Terminei minha fala tomando um pouco de sorvete e logo rebati:

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